Ao contrário de alguns colegas, eu não consigo desempenhar a proeza de
inflar o peito e bradar que SOU JORNALISTA. Não que tenha vergonha da profissão que escolhi; não que me arrependa, apesar dos ultrajantes salários; simplesmente não acho legal sair espalhando esta boa-nova por aí. Sei lá. Acho engraçado um bando de gente que, às vezes, sequer tem diploma (sim, acho indispensável) arrasando no
jargão jornalístico,
lead pra cá, pirâmide invertida pra lá, "
release", "em
off" (esta é de morte), e contando vantagens mil sobre tudo o que faz e acontece em seu
agitadíssimo dia-a-dia de trabalho. Expressões como "Correria, correria" ou "A gente mata um leão por dia" podem ser ouvidas por estas
plagas - mesmo por quem escreve em jornal semanal, vê se pode. Que correria, cara pálida? Mesmo
euzinha aqui, que trabalho em um diário regional, com relativa agitação, não posso me "gabar" de uma rotina desvairada... somos província, poucas coisas nos fazem tirar o
buzanfã da
redação e correr para a rua, em desespero. É fato (tanto que estou aqui, agora, redigindo este
textículo, e aguardando minhas fontes me retornarem).
Mas conversando com alguns colegas têm-se a impressão de que estes já saem da cama de gravador em punho, às 5 da manhã, para entrevistas
ultra-exclusivas ou para eventos absolutamente inusitados: homem morde cachorro,
alienígenas fazem
contato, um meteoro ruma em
direção à Terra. Furos de reportagem, aos baldes, todos os dias, 24 horas por dia. E no cu do mundo do Sul
catarinense. Poupem-me,
colegaaaaaas!
Tem outra: não conheço profissionais de outras áreas que se gabem tanto de serem o que são como jornalistas. Nunca vi médicos, advogados ou engenheiros aproveitando qualquer oportunidade para lançarem no ar que são médicos, advogados ou engenheiros. Só o boçal do jornalista que faz isso. Horror e V.A. intensa.
Não se trata de uma inversão de valores - ser jornalista, de fato, é legal pra caramba, posso listar vários pontos positivos e
ultra-
incentivadores para os que encaram a profissão como uma alternativa a ser seguida, no futuro. Eu realmente adoro o que faço. Mas não sinto a necessidade de mostrar minha adoração num
outdoor do Cardoso na esquina da minha rua, na frase do messenger ou no perfil do Orkut.
Também porque quem não é do
métier - eu já percebi - cria altas expectativas em torno do "jornalista". Para os leigos (pelo menos alguns deles), o jornalista é uma criaturinha curiosa, que sabe de tudo e todos, e que deve, obviamente, trabalhar em um canal de TV (
hahahaha). Até a minha própria família nunca entendeu de fato como eu pude me formar em jornalismo e ir trabalhar... num jornal! De papel! Aí o "
glamour" criado em torno do jornalismo tal qual é apresentando pelo William
Bonner vai por água abaixo quando você explica
EXATAMENTE o que faz, e onde faz. Já vi tantas caras de decepção por aí...
Mas o que mais me dói no âmago do meu ser é ver
gabolas metidos a besta anunciar serem "jornalistas". E serem, de fato, com
diplominha na parede e tudo. E para provar que podem tudo (porque jornalista pode tudo, sabia não?), darem início e continuidade a trabalhos porcos, sujos, mal-feitos, mal escritos, mal apresentados, revisados, apurados. Lixo puro.
P.S.: às vezes tenho a impressão de que usar o título de "jornalista" pra fazer uma média seja uma característica (ridícula) desta região de meu Deus onde moro. Que em outros recantos do mundo jornalista é só mais um profissional como outro qualquer, sem auto-
glamurização. Mas não sei. Preciso fazer uma
pesquisinha básica. Será que minha
amiguinha sumida
Stellita B., Jornalista com J maiúsculo (e digo mesmo, que ela não sou eu, não estou me promovendo, oras), poderia me esclarecer?