22.9.09

Vida e morte

Contando assim até pode não parecer, mas é claro que ela é a melhor pessoa do mundo. Generosa, um coração de ouro, dedicada aos seus e aos outros - às vezes mais aos outros que aos seus. Foi por isso que acabou sendo "descoberta".
Há alguns anos foi convidada a cuidar de uma idosa que agonizava no hospital. Carinhosa, comunicativa, não demorou para conquistar a todos - os familiares e a própria moribunda. Fervorosamente católica (mas com pretensões espíritas, se é que dá pra entender), sabia perfeitamente como amenizar aquela atmosfera de dor e despedida, cantarolando seu repertório variadíssimo, que vai de Padre Marcelo ao Fábio de Mello, passando pelo Zezinho.
Após o falecimento da velha, sua fama já havia corrido o mundo. O telefone nunca mais parou. Desde então acompanhou as mais diversas personalidades em seus últimos momentos na Terra, transmutando a tristeza de amigos e parentes em resignação, confortando e tranquilizando com palavras doces e serenas.
Até a semana passada. Acontece que ela jamais consegue dizer não. E foi assim que aceitou acompanhar uma senhora em fase terminal de um câncer. Passaram-se dois, três dias, e a senhora, já em seus estertores, teimava em se agarrar a esta tão desgraçada dimensão.
"A velha não morre!", desabafou, em visita à filha. "E amanhã é a inauguração da paróquia. E com o padre Edison!", antevia, deslumbrada pelo evento do ano.
Dez horas da noite e a filha é surpreendida pela campainha estridente. Pelo olho mágico, enxergou o sorriso de felicidade da mãe. Abriu a porta e nem teve tempo: "A velha morreu!", comemorava, faceira. Sua presença na missa-estreia estava garantida.


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Já falei, e não minto: ela é realmente a melhor pessoa do mundo, e se teve a frieza de comemorar a morte de uma pobre velhinha é porque sabia que ela seria mais feliz partindo desta para uma melhor.
Antes de ir embora, lembrou do marido da recém-falecida, também tratando-se de um agressivo câncer. "Ao receber a notícia da morte, desabou numa cadeira e chorou copiosamente, cobrindo o rosto encovado com as mãos".
Subitamente séria, revelou-me: "Quando a família a trouxe ao hospital ela ainda estava bem, falante. Despediu-se do marido dizendo: volto logo, meu amore!", contou-me, enquanto secava uma lagrimazinha travessa que cismava em escapar por debaixo dos óculos.


Zapping

Eu definitivamente não nasci para passar uma noite de sexta-feira trancada em casa - mas eventualmente esta se torna sua única opção, quando todos os seus amigos arranjam coisas melhores para fazer, como chat line, dormir ou "ficar no meu cantinho".
Aí eu abri uma cerveja, enrolei-me no cobertor azul e dei início a uma saudável zapeação desenfreada. Foi quando meu pesadelo começou.
A primeira opção, no AXN, não teria sido tão ruim caso eu não tivesse assistido A Balada do Pistoleiro umas quatro vezes.
Queria ver um filmaço, um blockbuster recordista de bilheteria em algum momento da história do cinema, com bons efeitos, bom roteiro, bom elenco. Passei para o FX e... Jurassik Park. Argh.
Aí de repente pensei em uma comediazinha romântica leve, adocicada, besta, deste gênero com o qual não tenho a menor afinidade, mas que abriria uma honrosa exceção naquela fria e solitária noite de sexta. Pulei para a Warner e encontrei Ben Stiller choramingando em Quero Ficar com Polly. Putz.
Decidi então que queria assistir apenas uma comédia, sem romance, sem água e açúcar. Queria rir, desopilar o fígado, abstrair. Passei para a Sony e quase vomitei: Terapia de Choque. Adam Sandler e Jack Nicholson em fim de carreira? No chance.
Aí fiquei melancólica, carente, manhosa. Queria uma bela história de amor. Na Fox Life rolava O Casamento do Meu Melhor Amigo. E bem na hora que o Rupert Everett começa a cantar a minha música preferida:
"I'm the morning I wake up
before I put on my makeup
I say a little prayer for you..."
Percebi que não seria o melhor remédio e passei para o Fox Life. Sim, sou fã incondicional dos trash, mas uma Sexta-feira 13 com um Jason que surge no meio de jogos de realidade virtual não rola. Coisa mais podre ever, e sem ser engraçado, o que é lamentável.
Ainda tentei o A&E (Men in Black) e a Warner, mais uma vez (O Professor Aloprado, hahaha).
Finalmente recuperei a sanidade e lembrei que existem outras coisas no mundo além da programação da TV. Não pensou em internet, né?
Então fui lá e retomei meu Virgínia Woolf. Quinze minutos depois, estava dormindo.

10.9.09

The Other side

Pois bem. Como nada na vida é por acaso, aproveitei minha ida à Shark City para retornar ao blog imediato. Amei a cidade, amei mesmo, linda, linda. Gostei tanto que em breve me mudarei para assumir o posto de Secretária de Assistência Social. Sério...de onde saiu tanto pedinte? Aqui em Joinvils city, existe a lenda de um delegado que recolhia todos os andarilhos da cidade para os desovar na Serra de Curitiba. Acho que nas terras tubaronenses alguém deve ter feito o mesmo, só que na cabeceira da Ponte Heriberto Hulse. Quanto à vingança, sim, tenho planos para a cara parceira blogueira conhecer a Cidade dos Príncipes, mas isso é papo para outro post. Este não é um bom incentivo para continuar esta história Imediata?

8.9.09

As Imediatas: o reencontro

A TV não cansa de mostrar, em filmes, séries e afins, aqueles eventos em que se promove o encontro de uma turma de colégio/faculdade muitos anos após a formatura. Homer Simpson já esteve em um; Peter Griffin too. Até a Globo já fez minissérie baseada nesta premissa, a Queridos Amigos.
Invariavelmente, cabe a estes colegas provar o quanto se tornaram ricos, bem sucedidos, bem empregados, vitoriosos e prósperos. Às mulheres, há de se ter filhos, uma bela casa própria, carreira de sucesso (a faculdade serviu pra que?); aos homens, a obrigação de ter fisgado a mais gostosa do quarteirão - gostosa e honesta, o que é bastante relevante. Carro do ano, joias, uma eventual estola de vison dependurada nos ombros, caso faça frio. Bons dentes, ausência de cabelos brancos, o que se quer é impressionar, sejamos francos.
Os que não conquistaram tudo isso ou vão mentir ou faltar ou ainda irão comparecer e vagar pelos cantos, torcendo para não serem vistos e interrogados.
Claro, tudo isso aí de acordo com o imaginário castrador, implacável e capitalistamente selvagem de Hollywood. No Brasil estes encontros sempre acabam em festa, cachaçada, ricos se misturam aos pobres, uns pedem emprego aos outros e o pagode se estende até as oito da manhã.
Neste fim de semana promovi um mini-encontro entre moi e uma grande amiga dos dourados anos universitários.
Éramos ambas incrivelmente jovens, bestas e imaturas, e perdemos grande parte da diversão sendo fiéis e dedicadas aos nossos namorados (jovens, não namorem durante a faculdade, fikadika). Naquela época nossos fantásticos planos para o futuro se resumiam em 1) trabalhar na Marie Claire (hahahahahaah) e 2) casar antes dos 25, com nossos respectivos companheirinhos.
Mesmo com a (relativa) distância, Stellita B. e eu mantivemos os laços de amizade e demos início a este bloguinho cor-de-rosa e abusado. Sim, ela é a outra imediata que dá título ao blog, apesar de suas esparsas contribuições (não posso deixar de alfinetar, néam?).
Após nove longos anos, nos reencontramos, finalmente, em terras sharkcitianas. Não pude conter a lembrança (e é esta a razão do longo nariz de cera) dos "bailes de reencontro da turma de 1984", que a gente vê na TV. Porque se a falta de um super emprego como editora da Revista Piauí, a ausência de filhos ou ainda de um marido rico, lindo e apaixonado não me constrangem, outras ocorrências contribuíram para que eu escondesse meu rico pescocinho na areia.
Em dois dias pela cidade, Stellita foi abordada por sete andarilhos sedentos de atenção, conheceu alguns de nossos admiráveis pontos turísticos, como pontes Nereu Ramos e Heriberto Hülse - além da pênsil, que é luxo e alegoria (e eu falo sério, adoro), viu a cidade coberta de bosta do início ao fim da M.M.Cabral (maldito desfile de 7 de Setembro!), comeu no Hard Dog (yeah!) e ainda assistiu show com Kátia Cega (depois posto foto). Também degustou um churras safado e saboreou uma casquinha na sorveteria mais badalada da city (onde foi devidamente xavecada pelo proprietário, solteiro e deslumbrante).
Além de tudo isso, ainda levou impressionantes OITO HORAS para chegar em território seguro (Joinville, onde mora): feriadão com sol é a maldição dos catarinenses viajandões.
Mas valeu toda a pena (pelo menos para mim). Apesar dos inúmeros momentos de constrangimento, conseguimos botar pelo menos uns quatro anos de fofocas acumuladas em dia. Só temo pelo dia em que resolver visitá-la na Terra dos Príncipes: qual será sua vingativa programação especial?

Saindo da rotina

Deve ser por isso que levo tanto tempo para voltar à minha Ilha predileta - esta capacidade inata de me envolver em confusões - ou de, pelo menos, presenciá-las.
Cheguei lá no fim da tarde de sexta-feira e o amigo-anfitrião deixou-me abandonada, mala, cuia e cofrinho à mostra, por mais de uma hora no Rita Maria. Juro que tive ímpetos de (re) tomar o caminho da roça (nada mais justo que roça, quando se trata de Shark city).
Mas persisti e finalmente o motorista veio me buscar, de limo (tash tolo que ando de outra coisa em Floripa?).
Depois de algumas flutes bem geladas, para esfriar meus ânimos, tomamos o rumo do meu bar favorito ever - e fomos barrados pelo gentil pelotão de fuzilamento do clube, denominados seguranças e recepcionistas.
Todo o sofrimento valeu a pena ao rever amigos queridos e flagrar nossa pequena deusa egípcia do amor abocanhar mais uma vít... digo, mais um coração.
Mas foi no outro dia que o pau pegou (hahahahah). Inspirados pelo hilariante Brüno, saímos saltitantes pela selvagem vida noturna mané. Serei discreta, mas confesso que presenciamos cenas do filme sendo repetidas, ao vivo e a cores. Pânico na Rio Branco.
Aí no domingo foi preciso recobrar as energias, com um almoço tranquilo num belíssimo lugar. Eu viveria disso sem o menor peso na consciência.
O findi terminaria razoavelmente bem não fosse a Santo Anjo ter enviado minha mala (e minhas novas aquisições) para Porto Alegre. Mas isso fica para outro dia.