21.1.10

A colecionadora

Há tempos trancafiada em seu flat à beira-rio, a moça, aquela (que pediu para não ter seu nome revelado), finalmente aceitou o convite de amigos e foi badalar em uma importante buátchi de nossa Capital insular.
Cabelos impecáveis, modelito descoladíssimo, vertiginosos saltos Louboutin, make-up perfeito, perfume francês aspergido na nuquinha, nossa heroína dançou até esfregar o pinguelo no chão, muito da faceira, enquanto degustava, aos golinhos, um Cospomolitan.
Depois de dançar no queijinho, ameaçar um streap-tease sobre a mesa, beijar muitas bocas, sarrar muito esfregando-se na parede com tipinhos dos mais variados, repassar seu número de telefone (falso, é claro) para inúmeros pedintes, chegou a vez de ir embora.
Foi aí que ela deslizou. Habituada ao clima de "sinta-se em casa" dos náiteclubes sharkcitianos, a moça sucumbiu à tentação e embolsou o delicado copinho de cristal que acomodava seu Cosmo.
Não contava, no entanto, com o segurança, que, ao pedir para ver a comanda (gasto total de R$ 212, fora uma carteira de Lucky Strike, na rebarba), também visualizou o copinho com o logo da buátchi, envolvido precavidamente no Hermés que a moça sempre mantém na bolsa, para emergências.
"Este copo é da casa", sentenciou o leão de chácara.
"QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE??????????????????", chiou a honesta mulher, já antevendo certa malícia na afirmação do funcionário. "Não fui eu que coloquei aqui, hein? Deve ter sido um daqueles moleques", e apontou para um discretíssimo grupinho de butterflies borboleteando ao som de Lady Gaga.
"Droga, perdi um ótimo modelo para minha coleção", comentou, em casa, enquanto espanava sua prateleira com 82 tipos diferentes de "troféus", entre flutes e tulipas, canecos e shots de tequila.

12.1.10

Aprendendo com a vida (ou com a vizinhança)

Não que eu queira parecer repetitiva, mas há que se destacar a importância da vizinhança na vida do ser humano. Digo repetitiva pois, há alguns meses, meu assunto predileto neste bloguinho fofuxo e cor-de-rosa era o imbecil do meu (graças a Deus) ex-vizinho adolescente que curtia um fio terra e que apanhava da namorada (vide arquivo).
Vizinhos são a (des)graça da vida em comunidade, são o que faz sua vida valer a pena ou o que te leva à beira do abismo do desespero por um caminhão de mudança. O cinema está aí pra comprovar, e não é à toa que o filme Janela Indiscreta (Rear Window), do Hitchcock, serve de inspiração até hoje para centenas de produções.
O adolescente desocupou o apê aqui debaixo há alguns meses, tempo este de alegrias e tranquilidade. Mas este tempo findou-se com a chegada das novas moradoras. Amigos, devo dizer que gosto muito do lugar onde moro, gosto mesmo, acho bem localizado, com espaço interessante para sua única moradora (e para sua cachorrinha), seguro, com valor não-exorbitante, enfim, seria um local perfeito para residir não fosse o responsável pelo aluguel do apê logo abaixo, esta mansão de Amityville em forma de conjugado, um incrível filho da puta. Sim, porque o cara não tem o menor critério. Para ele, pagando o aluguel (mais ou menos) em dia, tá valendo.
Anyway, é importante ressaltar a capacidade de aprendizado do ser humano. Porque sempre há o que se aprender. Com a chegada de minhas duas queridas novas vizinhas, tenho recebido verdadeiras lições de vida todos os dias, depois da uma da tarde, horário em que as belas despertam de seu sono reparador.
Por exemplo, com as moças aprendi muito sobre moda e estilo. Já no segundo dia no prédio, desci para uma voltinha com a minha pet quando esbarro com uma delas conduzindo um tipinho crack style escada abaixo: seminua. Sim, senhores, é verão, moramos num país tropical abençoado por Deus e nada melhor do que um pijaminha puído, safado e transparente para refrescar a perseguida, não é mesmo?

Também aprendi sobre consumo e controle de qualidade na hora de desembolsar meu rico dinheirinho - uma verdadeira aula de economia. Dia desses as duas roomates conversavam animadamente sobre aquilo que toda mulherzinha ama conversar: compras. Liguei as anteninhas. "O certo era pegar R$ 100 e ir lá no Jonas, cara. Dá 100 gramas. A maconha do Jonas é excelente, vale a pena", sentenciou uma delas. Ficadica.

Outra rica lição absorvida pela espectadora aqui foi quanto ao amor devotado ao trabalho. Senhores, devemos, acima de tudo, de salários, carga horária, coleguismos ou inimizades, AMAR de fato aquilo que fazemos para botar comida na mesa. Semana passada uma das moças cantava, divertida, enquanto se arrumava para o trabalho. "Essa noite eu quero DAR, DAR, DAAAAAR" (para os entendidos, cantar no ritmo da música I gotta a feeling, do Black Eyed Peas). Dedicação ao que se faz é importante para o sucesso na carreira.

Dicas de beleza não faltam no repertório de minhas animadas vizinhas. Como por exemplo uma sugestão sensacional para deixar os cabelos arrasantes. "Ai, guria, aquele salão ali perto do Castelinho* é óóóóóótimo!!!", disse uma. "Éééééé, eu sei, já fui lá uma vez. A manicure também é boa", concordou a outra, com ênfase.

Aprendi também que, independente de raça, credo ou time de futebol, somos todos filhos de Deus, iguais diante do Todo-Poderoso. Enquanto se besuntam de hidratante Paixão, queimam um baseado e conversam amenidades, as meninas se distraem cantando hinos do tipo "Entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas...". Achei fino. Achei luxo. Achei Maria Madalena feelings.

* pra quem não conhece Shark city e suas peculiaridades, digamos que Castelinho seja um point... hum... não recomendável para menores de 18 anos.

7.1.10

O ovo ou a galinha?

Não negue: na virada do ano você lançou mão daquela calcinha amarela comprada às pressas nas Americanas, e/ou mastigou sete grãos de uva, ou pulou ondinhas, guardou sementes de romã, comeu porco, enfim, é típico do brasileiro perder tempo com certas mandingas para que o ano que se inicia seja melhor do que o que finda, simples assim.
Convenhamos, nada mais otimista do que um bom brinde, entre seus entes queridos, desejando good vibes para os doze meses seguintes, é fato. Se não surte resultados efetivos, pelo menos nos deixa com a prazerosa sensação de que os próximos números da Mega-Sena serão os nossos, ou de que sua alma gêmea estará naquela esquina, semana que vem.
Pois bem. Nossa heroína de dois mundos, Charlotte C., protagonizou mais uma daquelas historinhas dignas de filme pastelão - importante salientar que a morenaça belzebu tem a capacidade extraordinária de vivenciar fatos que só vemos na tela grande, eu já não acho mais nada inverossímel neste mundo de meu Deus.
Soterrada por convites para tentadoras festas de fim de ano, ao longo de todo o belo litoral catarina, a balzaca paulistana arrumou a trouxinha e aportou na Zimba, em casa de alguns amigos. Sempre muito benquista, foi recebida com honras de primeiro-ministro, com direito a discursos emocionados, pedidos de autógrafo e poses para fotos.
A família anfitriã era o que se pode chamar do mais puro e autêntico retrato do povo brasileiro: gente honesta, trabalhadora e decente - mas com um plus: basta a aproximação dos últimos dias de dezembro para começar um verdadeiro ritual de purificação. Velas e incensos são espalhados por toda a casa, santos e anjos, espalhados pelos cantinhos, em todos os cômodos e em todas as janelas, a palavra de ordem é "misticismo". "Místicos. MÍSTICOS. É isso que eles são", definiu Charlotte, em poucas palavras. No dia da virada todos se jogam no vestidón branco e nas oferendas à Iemanjá, espiritualidade é tudo neste mundo, e haja estoque de arruda e sal grosso.
A ceia é das mais gloriosas: na mesa, frutas tropicais, lombinho bem temperado, a popular maionese, farofinha, tudo muito digno e limpinho. Charlotte, que não arcou nem com as lentilhas, nem pôde. Refestelou-se ao ponto de abrir o botãozinho de seu sumário short jeans branco, que revelava suas voluptuosas formas. "Comi. Comi que me acabei", contou-me, em segredo.
Na casa onde estava hospedada encontravam-se desde o tio beberrão à avó octagenária, passando pela tia solteirona, pelas priminhas periguetes e pelo cunhado inconveniente, todos muito curiosos a respeito da vida atribulada desta profissional mezzo jornalista/ mezzo doutora em línguas.
Sempre atenta e antenada, Charlotte acompanhou os inúmeros hábitos supersticiosos dos residentes, todos muito unidos, rezando de mãos dadas, pulando num pezinho só ao badalar da meia-noite e banhando-se em água benta, especialmente preparada para a ocasião. "Estava terminando minha lentilha quando recebi um jorro de água benta na cara. Mal não vai fazer, né?".
Até que chegou a hora da sobremesa.
Todos de alma lavada pela chegada no simbólico ano de 2010, barriguinhas estufadas, sentidos alterados pela ingestão de honestas taças de espumante, dividiram-se entre as duas opções oferecidas no buffet: pudim de queijo e sorvete caseiro. Charlote lançou um olhar maroto aos quitutes e lembrou de sua prendada mãezinha, cuja receita do sorvete, de família, é guardada a sete chaves no cofre dos Pragas. "Então, moça, vai querer pudim ou sorvete?", perguntou uma tia solícita. Todos os olhares voltaram à ela. Momentos de tensão. "Não vou querer nada não, obrigada...", dispensou, tímida. Pra que? Os ânimos se esquentaram. "Não vai querer??? Por que?", questionou meia dúzia de parentes, levemente enfurecidos (o pudim de queijo foi delicadamente preparado pela matriarca da família anfitriã, de 85 anos, uma ofensa dispensá-lo sem uma boa desculpa).
"Cara, eu não sabia o que fazer. Todo mundo parou o que estava fazendo, largaram os garfinhos com os quais deliciavam os doces, repousaram suas flutes na mesa e fixaram os olhos em mim, esperando a resposta. Pensei em dieta, mas não ia colar, né? Já tinha comido lentilha e lombo feito uma porca, que porra que dieta, que nada", a morenaça quebrou a cabeça por longos segundos.
Quem conhece Charlotte C. sabe do que estou falando. Sob pressão o resultado pode ser dramático. Você, caro leitor, que porventura terá a honra de conhecê-la, futuramente, fique avisado: não a pressione jamais, as consequências podem ser das mais terríveis.
"Juro que tentei desconversar, mudar de assunto, partir pra outra. Mas não deu. Todo mundo ficou esperando. Tive que contar". Com cãimbra nos músculos faciais, Charlotte revelou sua resistência às guloseimas. "Sabe o que é? Este sorvete... leva ovo?", questionou.
"Sim, leva ovo", respondeu a responsável pelo doce, já bufando de indignação pela rejeição da convidada.
"Então... ceia de Réveillon, né? Todo mundo aqui, reunido, comendo porco, que fuça pra frente, dispensando frango, que cisca pra trás... Ninguém come frango numa hora dessas, né?".
"Sim", responderam os familiares, em uníssono.
"Então... o ovo vem da onde?".
Longos minutos de silêncio.

Charlotte foi levada rapidamente por uma amiga ao bar mais próximo, onde degustou 32 latinhas de Skol bem gelada. Mas a imagem da avozinha octagenária vomitando o sorvete recém-comido sobre o prato, do tiozinho cuspindo os restos da massa gelada no chão e das lágrimas de tristeza e decepção nos olhos de todos os presentes permanecerão forever em sua mente. "Cara, eu desejo tudo o que há de bom pra esta família. Porque se acontecer qualquer merda ao longo de 2010 na vida deles, a culpa será minha", admite a (anti-) heroína.

5.1.10

Em festa de rodeio...

Finalmente pude dar o ar da graça num destes balneários de nosso querido e rico sul-catarinense, neste feriadão de fim de ano - aliás, festcheenhas mais chatas estas de fim de ano, não é mesmo? Variações sobre um mesmo tema. Enfim, bastou por meus lindos pezinhos de esmalte orange power mega blaster na areia do Farol de Santa Marta para dar início às lamentações.
Primeiro, que aquilo lá virou um lixão a céu aberto. Lugar tão bonitinho, vibe tão alto astral, gente tãããããããooooo bonita (calma, guria), e tudo absurdamente negligenciado, sacolões gigantescos de lixo viraram cartão postal, ofuscando o monumento que dá nome à praia.
Ok. O segundo ponto a ser destacado é uma ligeira alteração no perfil dos frequentadores daquele paradisíaco monte de lixo. Se antes surfistões sarados e platinadas ratas de praia tomavam conta, agora são empurrados covardemente para o costão por caminhonetes gigantescas que estacionam na areia e deixam rolar, no talo, de Calypso a Bruno e Marrone (e aí vale de tudo quanto é bandinha de sertanejo/forró/genéricos universitários existentes neste país de meu Deus, tenho mais paciência pra isso não).
Coisa mais ridícula foi tentar tostar na praia do Cardoso ouvindo coisas do tipo "ei, pissiu, beijo, me liga..." ou "chupa, chupa, chupa que é de uva" (sim, eu sei, "sucesso" antiguinho, mas o povo gostcha). Constrangedor, pra dizer o mínimo.
Aí que casou bem com a historinha que ouvi do colunista Cacau Menezes, na tv, na hora do almoço. Disse ele que neste findi uma bombadézima casa noturna de Floripa teve a honra de receber um cliente endinheiradérrimo. O bonzão não pediu apenas uma, e sim DUAS garrafas de champagne Cristal (cada uma custando a bagatela de SETE MIL REAIS, vê se pode, e eu me achando com minhas Aurora Moscatel). Aí que nesta boate, quem pede uma Cristal tem direito a uma música (argh, que coisa cafona). E o ricão, como mandou ver duas garrafinhas, ganhou duas musiquinhas, à sua escolha. Pela excentricidade do sujeito, não podia ser diferente: o moço exigiu a execução de duas modinhas sertanejas, imagina a cara do povo.
Então é o seguintchi: ou morre torrando em casa ou adere ao style chapéu de cowboy e shortinho enfiado e cai na festa, né? Passo...