29.5.08

A (re)união

O evento era planejado há meses: contávamos nos dedos para o grande momento de finalmente nos reencontrarmos, me, Janet and John (além da noiva, Gi). Afinal de contas, há longos OITO anos (sim!) eu não tinha o privilégio de ficar cara a cara com a garota peituda mais relax ever; e meu amigo Johnny não me visitava há coisa de três anos (sendo que o sujeitinho mora a 140 quilômetros de minha residência, quanta consideração...).
Primeiro foi o moço, que chegou arrastando a mala Louis Vuitton de rodinha, boné da Adidas escondendo os cabelos precocemente grisalhos. Me presenteou com uma echarpe da Hermès e distribuiu chocolatinhos Godiva ao marido, que se regalou com o mimo.
Depois foi a rosada economista do Oeste, distribuindo água Perrier e vodka Absolut de baldes. Chorei, emocionada, mas tratei de secar as lágrimas, discretamente, no meu lencinho de bolso (pague dois, leve três, do Paraguai).
Foi um furdunço "dilícia", como diria Janet. Nos molhes da Laguna, botos faceiros e buliçosos vieram nos recepcionar, serelepes. Jay (o marido de ouro da Janete, benzadeus) salivou ao imaginar o pequeno cetáceo girando num espeto, douradinho de sal grosso.
Na Casa de Anita, Janete pensou, perversa, em utilizar-se dos préstimos do penico-privada (banco de madeira com um furo no meio, para adaptar o pinicão da Anita), instalado na sala principal da casa da heroína de dois mundos.
Na Fonte da Carioca, Johnny boy tratou de encher 18 garrafinhas plásticas com o precioso líquido milagroso - o moço é casamenteiro, e dizem que beber daquele troço é tiro e queda pra arrumar um (a) pretendente (a). Só para garantir, o rapaz também prendeu um bilhetinho com seu nome sob as camadas do vestido da noiva.
No hotel chiquéeeeeeeeerimo (Hilton Laguna Beach, inaugurado pela própria Paris), vesti a fronha (algodão egípcio, ainda com a etiqueta da importadora) na cabeça para retirar a roupa sem borrar a maquilagem: truque aprendido no instituto de beleza (filial lagunense do MG Hair, de Marco Antonio Di Biaggi). Impressionei-me com o travesseiro de penas de ganso asiático, todo pintadinho por delicadas manchinhas amarelas e marrons, certamente um óleo aromatizante para que o hóspede durma melhor.

Em poucos minutos, os três retomaram, como num passe de mágica, todo o tempo perdido distantes um do outro. Foi como se tivéssemos nos visto há apenas uma semana, coisa assim. É amizade, daquelas bem difíceis de encontrar por aí e que, graças ao meu bom e fiel amigo Deus, tenho o privilégio de usufruir, junto a algumas pessoas (né, belzebu e nordékia, não esqueço de vocês, não).
O idilío terminou na manhã de domingo, quando rumamos, melancólicos e um quê cabisbaixos, para nossas residências, em cidades tão distintas. Não sem antes presenciarmos um trupicãozinho de marido Jay na escadaria do hall do meu edifício residencial. Nada que não tenha sido resolvido com uns dois pontinhos na testa...


11.5.08

Estômago - a resenha (meia boca, mas de coração)

Uma história bem contada: assim deveriam ser todas as obras cinematográficas para merecerem a alcunha de "bom filme". Assisti (tardiamente, se usar como referência a blogosfera brasileira) a Estômago, neste fim de semana, em pré-estréia no cineminha de Shark city. Por pré-estréia, nestas plagas, entenda exibição única, sem data para retomar as projeções - a sessão única funciona, creio eu, meio que como um termômetro pra medir o interesse do público. Para uma platéia de oito pessoas, no entanto, o termômetro não indicou lá grande coisa.

Mas Estômago é tão delicioso quanto as coxinhas de galinha preparadas pelo protagonista (com direito a óleo re-re-reutilizado e unhas negras de graxa, no preparo). A película conta a história de um imigrante nordestino chamado Raimundo Nonato (e poderia ser diferente?), que veio fazer a vida na Terra da Garoa. Básico. Ele descobre uma puta vocação inata para a arte culinária. Paralelamente, o filme mostra que, no presente, Raimundo está preso. Resta-nos a nós, espectadores, descobrir os motivos que o levaram a parar atrás das grades.

Com uma narrativa hipnotizante, as duas histórias (Raimundo no passado, chegando e se estabelecendo em Sumpaulo, e Raimundo no presente, se desdobrando para adaptar-se ao mundo-cão do presídio) se apresentam e se intercalam bem entrelaçadinhas, bem pontuadas, tudo muito ritmado e bem costurado.

Na minha humilde opinião de amante do cinema (ainda que não cinéfila propriamente dita), destacam-se, além dos pratos elaborados por Raimundo, ao longo do filme (uma empolgante - e às vezes não muito recomendável - aula de culinária), a prostituta Íria (Almodovar não a faria tão perfeita) e, é claro, as deliciosas coxinhas preparadas pelo aprendiz de cozinheiro: são de dar água na boca e calafrios na espinha dos mais delicados.

Recomendo, portanto, e ardorosamente, o filme Estômago, para quem ainda não assistiu e que tenha a possibilidade de prestigiar a produção mezzo brasileira-mezzo italiana. E depois do filme, que tal degustar um delicioso filé mignon temperado com alho, alecrim e pimenta? (piadinha só para quem viu o filme, há!)

Achado não é roubado (ou "Feliz Dia das Mães")

Uma vez achei R$ 5 no estacionamento de um restaurante, em Florianópolis. Fiquei ultra-feliz, boca na orelha. Em outra ocasião, encontrei R$ 37, em um bolinho amassado de bêbado com várias notas, ao lado da minha mesa, na praça de alimentação do Shopping Recife. Como tinha muita gente na rodinha, pus o pé em cima, abaixei-me discretamente e meti o bolo de grana na bolsa, like a thief. Só fui contar o montante bem depois, me deliciando pelo lucro não dividido e inesperado.
Nunca fiz parte do time dos sortudos que encontram um mimo em cada esquina. Conheço gente que já achou uma caixa com dezenas de CDs - e dos bons. Óculos escuros de grife. Bracelete de ouro. Até telefone celular (minha irmã achou, recarregou e esperou longamente por uma ligação de resgate. Que não veio. Aí ela adotou o aparelho, mas perdeu após alguns meses, a tansa).

Mas a história de achados e perdidos mais comovente que já presenciei na vida aconteceu quando trabalhava num jornal, na Lagoa da Conceição. Neste jornal havia um office-boy, um garoto fofo, adolescente, que, diziam as más-línguas, sofria um bocado por conta de sua mãe, alcoólatra. Na semana que antecedia o Dia das Mães, lá ia o menino, fazendo e recebendo pagamentos para o jornal, e pensando no que comprar para sua amada progenitora - o Dia das Mães caia bem no aniversário dela. Aí que, lá na esquina, uma mulher, andando apressada, chamou sua atenção. Ela seguia firme, pisando duro, cheia de pacotes de lojinhas bacanas. Ao dobrar a esquina, deixou cair um envelope. O boy correu, pegou o papelucho e virou a esquina para entregá-lo à mulher. Só viu o automóvel da madame já indo longe, um carrão importado. Resfolegando, o menino decidiu abrir o envelope. E se deparou com uma apetitosa nota de R$ 50, estalando de nova, na época uma mini-fortuninha para os menos abonados.
Vislumbrei o brilho de felicidade nos olhos do menino, que precisava de tênis novos e de uma camiseta transada para sair à noite: agora, ele já tinha em mãos o presente de sua mãe.

10.5.08

O pecado (e barracos, vexames e afins) mora(m) ao lado

Ops! Long time no see! Então, ao mesmo tempo que temos vontades e inspirações repentinas para blogar todos os assuntos possíveis e inimagináveis, às vezes também ficamos com a mente às moscas, voltada apenas para o que é estritamente necessário (ou seja, o trabalho e a programação do E! Entertainment).
O tema de hoje é, portanto, fruto de muita observação e intenso trabalho de pesquisa: minha nobre vizinhança, no novo prédio. Se antes dividia o condomínio com universitários, falsos professores tarados e gays violentos, atualmente a história é um pouquinho diferente. Se não, vejamos:
Na porta ao lado mora o amo e senhor, 40 e tantos, solteiro, que vive na histérica e alegre companhia de quatro poodles branquinhos e é radicalmente contra a instalação de TV a cabo no prédio, "para não poluir a fachada". Também costuma pregar bilhetinhos desaforados na portaria chamando a atenção de moradores "descuidados" que sobem as escadas esfregando o botijão de gás nas paredes (como se alguém fizesse isso).

Sob meus pezinhos, o núcleo mais polêmico. A mãe (jovem, menos de 40) e o filho adolescente. Às vezes, um homem (que, acredito, seja namorado da mãe, a melhor parte são as especulações e os achismos). Inicialmente antipatizamos com o teenager, que ameaça a pobre mãezinha de deixá-la só e ir morar com o pai (imagino que em outro Estado, ambos, mãe e filho, têm um sotaque fortemente porto-alegrense).
Logo em seguida, no entanto, mudamos de partido - descobrimos que a mãe é uma megera-bruxa-monstra de sete cabeças que inferniza a vida do pobre rapaz com sentenças do tipo:
"Mas tu és burro, néãm?"
"Não sabes lavar louça direito? Tinhas que quebrar um copo?"
"Vai estudar!" (15 vezes, em cinco minutos, ad infinitum)
"Eu vou pagar alguém pra te seguir na rua!" (a idéia é descobrir se o pobre usa drogas. Eu usaria, se fosse ele. Muitas drogas)
"Eu duviiiiiiiiiiiiiiiiidooooooo que tu vais conseguir" (pra qualquer coisa)

Além do mais, ela SÓ prepara comida frita. E pelo cheirão, pééééssima.
O garoto, por sua vez, a despeito da insuportável arrogância característica de todo aborrecente, é um pobre coitado. Além de comer mal, ser atormentado pela mãe diuturnamente, passa seu tempo livre ouvindo - pasmem, alguém ainda ouve isso - Charlie Brown Junior. Não se preocupem, eu fecho a porta da cozinha e meus problemas sonoros desaparecem.

Os outros vizinhos não são tão notáveis. Um deles faz batida (eu acho) no liquidificador todo dia, às 11 da noite, pontualmente. Todo dia. Até domingo.

Mas fato curioso aconteceu-nos há cerca de três semanas. De vez em quando o aborrecente perde a paciência e enfrenta a monstra-mãe, aí o (suposto) namorado dela intervém, aí a lôca toca o terror gritando naquele sotaque de magro do bonfa. Enfim, um divertidíssimo barraco, que ocorre, normalmente, nos findis e feriados, quando a galera tem tempo de sobra pra azucrinar a vida alheia.
Aí que, acredito eu (tudo na base da especulação, claro), o vizinho do poodle, que é o síndico, procupado com a moral e os bons costumes do prédio, chamou a atenção da gaúcha louca da calcinha.
Deu-se o furdunço. A maluca não deixou o pobre homem em paz. Bastava o cara chegar com a caminhonete que ela subia o lance de escadas atrás dele, até a porta do apê do sujeito, gritando, indignada, coisas do tipo:
"Mas era só o que me faltava, néãm, eu não me meto na tua vida, tu vais te intrometer na minha?".
Ok. No dia seguinte, por volta das nove da matina, ponho meus tênis, pronta pra uma caminhada. Quando abro a porta, a surpresa: um policial militar devidamente fardado vinha em minha direção. "Recebemos uma denúncia de que alguém ouviu pedidos de socorro vindo deste prédio. A senhorita ouviu alguma coisa? ", questionou-me o oficial.
Claro que não tinha ouvido nada além do barraco da family de baixo. Mas em segundos o mistério estava resolvido. A gaúcha maldita da fritura sobre atrás do policial, com um indisfarçável sorriso debochado nos lábios, apontando para o apartamento do síndico e dizendo, com voz de moça direita: "Será que não foi daí?", indicava com o dedinho, dissimulada. Constrangido, o próprio homem do poodle, ao abrir a porta, tratou de esclarecer que não, não havia pedido socorro a ninguém.
Mas aí a vingancinha da perversa já havia sido feita. Ela pode até negar, mas que a gaúcha quis revidar em alto-estilo a "intromissão" em sua vida, ah, isso ela quis sim...

1.5.08

About Ronaldo (ou "Só para constar")

Sobre todas estas maledicências (hein?) que rolam por aí acerca do ídolo Ronaldo Nazário, só tenho um comentário pertinentíssimo a fazer. Quer dizer, a relatar. Estava em minha service room quando, da janela (que dá pro poço de luz), em meio ao volume ensurdecedor de uma rádio sintonizada em emissora bagaceira sertaneja, ouço a voz de uma senhorinha, provavelmente em visita, no feriadão, aos gritos, dirigindo-se ao filho querido.
"Ô, Aldair, sabe aquele negão, gordo, que jogava futebol?"
O resto você já pode calcular. Sabedoria popular é tuuuudo nesta vida, não é mesmo, minha gente?

P.S.: Ele nuuuuunca me enganou (assim como o Júnior Sandy). Quem muito desfila com modelos alegóricas pra baixo e pra cima tem alguma coisa de errado. Ninguém é feliz realizando um sonho erótico desses. O que me chocou foi a cocaína. Sim, eu tenho preconceito com drogados. Agora tá explicado o "amarelão" da Copa, né?