Tendências macabras à parte, a gente meio que sempre esperou por um momento desses. Não bastassem produções hollywoodianas como Resident Evil, Extermínio, Epidemia e Eu sou a Lenda, que plantaram no inconsciente coletivo imagens devastadoras do que seria a epidemia de um vírus letal, há alguns anos (em 2005, se não me falha a memória) a imprensa brasileira alardeava a possibilidade da chegada, em território nacional, de uma doença que "devastaria 1/3 da população mundial até o fim do ano" (Revista Veja, 2005), a Gripe Aviária.
Eu e as alopradas a quem chamo de amigas passamos uma noite inteirinha divagando a respeito, e chegamos à terrível conclusão de que pelo menos uma pessoa naquela mesa de bar não estaria viva em 2006. Houve choro e ranger de dentes.
Sobrevivemos, no entanto. A Aviária não veio, mas eis que surge a Suína, trazendo com ela o pânico, a insegurança e a paranoia. Parece até mentira, mas esta pacata cidadezinha que escolhi para viver, este pedacinho de terra cortado por nosso bucólico Shark river, é considerada hoje o olho do furacão da Gripe A, com algumas mortes registradas e dezenas de casos suspeitos.
Aulas foram suspensas, festas, cinema e até missas e cultos estão sendo cancelados. A palavra de ordem agora é "álcool gel". Beijos, abraços e cumprimentos mais efusivos estão proibidos. E desta vez eu não estou exagerando.
É como um toque de recolher, que foi submissamente aceito pela população amedrontada. Estabelecimentos comerciais já lamentam a brusca queda nos lucros. Até as fatídicas formaturas, tão em voga por estas plagas, foram transferidas, pra se ter uma ideia mais concreta do drama.
Existem aqueles que estão arrancando os cabelos, banhando-se em álcool gel e instalando tranca dupla na porta de casa (vai que o vírus tenta entrar na marra?); outros (e muitos) invadiram os supermercados locais para estocar comida em casa - guerra biológica não é mole, não, amigos. Muita gente já desfila com a fatídica mascarazinha na cara: a hora é de prevenção.
A boa notícia (para mim) ficou por conta do cancelamento de um evento posto em prática uma vez por mês, nesta megalópole de meu Deus, quando o comércio abre suas portas durante o sábado. Para bombar as vendas em datas "especiais" (como no Dia dos Pais), a câmara dos dirigentes lojistas daqui fecha a avenida e monta um cirquinho musicado bem no miolo do centro da cidade.
Com a perigosa gripe, no entanto, o evento foi cancelado, no último sábado, ficando eu aqui livre das incômodas apresentações de muóda sertaneja (tudo muito ao gosto dos meus queridos conterrâneos, né, Guigui?). Ok, prefiro sofrer com "um fio de cabelo no meu paletó" a ter que me trancar no banheiro para poder tossir à vontade.