18.8.09

O hábito que faz a monga

É fato, todos nós temos nossos velhos e bons (ou terríveis) hábitos, dos quais sequer nos esforçamos para nos livrar. Dormir de meias, comer um doce depois do almoço, fumar um cigarro antes de ir para a cama, conferir os emails logo que inicia o computador, todo mundo, de maneiras diferentes, segue um protocolo particular ao longo do dia. Deixar estes hábitos (ou manias, ou esquisitices) de lado é sair da rotina - o que, muitas vezes, pode até parecer desagradável.
Li dia desses, num dos blogs que acompanho (não lembro qual, mals aê), a história da menina que era tão habituada ao uso de sutiã que, belo dia, percebeu-se debaixo do chuveiro com a peça, já irremediavelmente molhada.
Uso óculos desde a mais tenra idade e, ao contrário do que poderia parecer, sei exatamente quando me livrar do bichinho: não consigo, nunca, dormir com ele na cara. Também nunca entro com o danado no banho. Nem propositalmente. Tanto é que tive que fazer um esforço hercúleo pra levá-lo pra baixo do chuveiro. Explico: ganhei um liquidozinho limpador muito do eficiente, na ótica, e antes de aplicá-lo deveria lavar o óculos com água e sabão. Nada melhor do que inaugurar meu chuveiro recém-consertado (yes! eu tenho água quente!) levando meu querido comigo. Mas quem diz que eu consigo? Parece um bloqueio, algo quase físico.
Existem hábitos dos quais a gente não consegue se livrar, amigos. E é triste, às vezes. Ontem, fim de tarde, desci com o lixo (coisa que frequentemente esqueço de fazer). E bem na frente do prédio dou de cara com um tipinho fofo, todo arrumadinho, tipo "estou saindo do escritório agora e vou pra um happy hour now". Ele me olha da cabeça aos pés. E antes de entrar em seu joguinho de sedução, percebo que estou usando meias e Havaianas. MEIAS E HAVAIANAS.
Morri.

16.8.09

Banho de água fria

Era 2001 e eu morava em Recife, fazendo sabe-se lá o que. Tínhamos uma doméstica, indicada pelo porteiro (a senhora era a sua mãe), que limpava e cozinhava. Humilde, a mulherzinha vinha trabalhar todos os dias, bem cedinho, de pés descalços. O único par de sapatos era reservado para os cultos da igreja que frequentava. Era "inverno", naquela região do país (hahahaha), e os termômetros registravam agradáveis 27 graus. Sim, muita gente andava de cacharrelzinha de lã, tiritando de frio, enquanto a moçoila aqui suava em bicas a regatinha (eu disse regaTinha, com T).
Belo dia e a senhora, cabisbaixa, faz um pedido inusitado: queria permissão para tomar banho de chuveiro "elétrico". Com mais de 50 anos de idade, ela nunca havia tomado banho de água quente. E, como estávamos "no inverno"...

Desde sexta-feira tenho encarado o chuveiro em sua versão mais cruel, principalmente para os padrões sul-catarinenses: frio. Ele não explodiu, não se incendiou, nem fez aquele barulhinho pavoroso indicando que a resistência já era. A água simplesmente ficou gelada. E eu não fujo de minha herança tupi-guarani, senhores: enfrento o chuveirinho assim mesmo, de peito aberto (quer dizer, bem encolhidinha, pra falar a verdade), que minha porção portuguesa é absolutamente irrelevante para me convencer a ficar sujinha.
E ao contrário de alguns conhecidos, eu não tenho a menor habilidade para reparos gerais: mal sei trocar uma lâmpada; botijão de gás, nem a pau (medo de deixar vazar), há meses venho sofrendo com um vazamento ridículo na pia do banheiro. Nem ouso esticar a mãozinha pra mudar a temperatura do chuveiro (e se levar choque?).
Felizmente, tenho pessoas jeitosas na família que, queira Deus, poderão livrar-me deste infortúnio. Espero que o socorro venha logo, já estou sentindo uma incômoda pontada no pulmãozinho...



15.8.09

Dia dos Solteiros (ou Sem pânico no sábado à noite)

Sair sem hora pra voltar, flertar com todos os tipinhos interessantes da balada sem levar beliscão no braço, bebericar mais de dois drinks sem a pressão de uma cara feia do seu lado, almoçar uma pizza inteira e jantar um tomate; ou nem almoçar ou jantar, pintar o cabelo de loiro, carregar na maquiagem, curtir sua TPM sem grandes consequências, usar com tranquilidade aquela calcinha bege (!) de elástico frouxo, dormir com a cara coberta de creme, atrasar a depilação... tem coisas que só a solteirice faz por você.
Hoje (15/08) é o Dia dos Solteiros. A questão é que ser solteira (o) com dignidade é uma arte - porque não há nada pior do que um solteiro desesperado, convenhamos. O sujeito que atira para todos os lados, a gata que arrasa no decote vertiginoso pra chamar a atenção da galera, o mocinho que ganha inspiração (para fins nada éticos) fuçando perfis de Orkut alheios, fofuchas que adicionam até o Papa no emeésseene na esperança de rolar um algo a mais.
Tem gente que até cria um código de conduta pra catar alguém: beber o suficiente para ficar alegrinha, mas não ao ponto de revelar a data de nascimento; comprar roupa nova a cada balada, arrasar na chapinha todo santo dia, publicar fotos "sensuais"no site de relacionamentos e deixar o álbum aberto ao grande público, pregar a estatuetinha de Santo Antônio de ponta-cabeça até o pobrezinho providenciar um marido, ir pra cama com todos que se aproximam, ou nunca ir com ninguém porque "não é o momento certo".
De fato, ser solteira é uma delícia - ainda que muitos solteiros não concordem com isso. Aliás, meu desafio diário, atualmente, é tentar fazer com que alguns amigos realmente acreditem numa vida de luz e magia fora dos laços sagrados. É claro que não pretendo terminar meus dias tão solitária a ponto de conversar com as paredes, e acredito que em algum lugar do mundo meu príncipe encantado ruma em minha direção (provavelmente sem cavalo branco, portanto, a demora). Mas há que se ter paciência e curtir todas as vastas possibilidades oferecidas por este período de liberdade. Até porque - e aí, você, que é casadão (ona), tem que admitir - não há comprometidos na face da Terra que não cobicem a vida de solteiro (pelo menos em algum momento do dia). Aproveite esta fase.


Tá felizona solteira e pretende ficar assim por anos a fio? Ótimo. Ou não vê a hora de conhecer aquelezinho que fará seu coração bater mais rápido? Ok. Só faça um grande favor à humanidade: queime a calcinha bege e agende uma depilação urgente!


13.8.09

Pandemia (ou O Lado Bom do Toque de Recolher)

Tendências macabras à parte, a gente meio que sempre esperou por um momento desses. Não bastassem produções hollywoodianas como Resident Evil, Extermínio, Epidemia e Eu sou a Lenda, que plantaram no inconsciente coletivo imagens devastadoras do que seria a epidemia de um vírus letal, há alguns anos (em 2005, se não me falha a memória) a imprensa brasileira alardeava a possibilidade da chegada, em território nacional, de uma doença que "devastaria 1/3 da população mundial até o fim do ano" (Revista Veja, 2005), a Gripe Aviária.
Eu e as alopradas a quem chamo de amigas passamos uma noite inteirinha divagando a respeito, e chegamos à terrível conclusão de que pelo menos uma pessoa naquela mesa de bar não estaria viva em 2006. Houve choro e ranger de dentes.
Sobrevivemos, no entanto. A Aviária não veio, mas eis que surge a Suína, trazendo com ela o pânico, a insegurança e a paranoia. Parece até mentira, mas esta pacata cidadezinha que escolhi para viver, este pedacinho de terra cortado por nosso bucólico Shark river, é considerada hoje o olho do furacão da Gripe A, com algumas mortes registradas e dezenas de casos suspeitos.
Aulas foram suspensas, festas, cinema e até missas e cultos estão sendo cancelados. A palavra de ordem agora é "álcool gel". Beijos, abraços e cumprimentos mais efusivos estão proibidos. E desta vez eu não estou exagerando.
É como um toque de recolher, que foi submissamente aceito pela população amedrontada. Estabelecimentos comerciais já lamentam a brusca queda nos lucros. Até as fatídicas formaturas, tão em voga por estas plagas, foram transferidas, pra se ter uma ideia mais concreta do drama.
Existem aqueles que estão arrancando os cabelos, banhando-se em álcool gel e instalando tranca dupla na porta de casa (vai que o vírus tenta entrar na marra?); outros (e muitos) invadiram os supermercados locais para estocar comida em casa - guerra biológica não é mole, não, amigos. Muita gente já desfila com a fatídica mascarazinha na cara: a hora é de prevenção.
A boa notícia (para mim) ficou por conta do cancelamento de um evento posto em prática uma vez por mês, nesta megalópole de meu Deus, quando o comércio abre suas portas durante o sábado. Para bombar as vendas em datas "especiais" (como no Dia dos Pais), a câmara dos dirigentes lojistas daqui fecha a avenida e monta um cirquinho musicado bem no miolo do centro da cidade.
Com a perigosa gripe, no entanto, o evento foi cancelado, no último sábado, ficando eu aqui livre das incômodas apresentações de muóda sertaneja (tudo muito ao gosto dos meus queridos conterrâneos, né, Guigui?). Ok, prefiro sofrer com "um fio de cabelo no meu paletó" a ter que me trancar no banheiro para poder tossir à vontade.

Mágoa de cabocla

Aconteça o que acontecer, queridos, jamais se desentendam com seus profissionais de beleza. Reservem a estes nobres trabalhadores todo o amor, a amizade, a disposição e o calor humano possíveis. Respeite-os, considere-os, mostre que sentiu saudades. E nunca, nunca descarte seus serviços sem uma explicação (minimamente convincente) prévia.
Minha ex-manicure era uma boa moça. Profissional razoável, honesta, limpinha, conversadeira. Mas meu coração tomou outro rumo e eu traí. Sim, amigos, abandonei nossa relação tão estável e parti para os braços (ou o alicate) de outra manicure. Estamos juntas, eu e minha amante das unhas, até hoje, mas...
A ex(manicure), por sua vez, quando percebeu que as garrinhas afiadas aqui estavam sendo cuidadas por outra lixa, armou-se do mais alto desprezo. A moça simplesmente passou a me ignorar. E dá-lhe nariz torcido e cara feia, quando eventualmente nos encontrávamos na mesma calçada. Mágoa.
Ainda tentei contornar a situação e confesso que fui canalha e cara-de-pau o suficiente para procurá-la mais uma vez, meio que forçando uma reconciliação. Foi inútil e penoso: raivosa, a mocinha tirou-me um bife.

Dia desses, na balada, chacoalhava as madeixas pra lá e pra cá quando meus olhinhos hipermétropes reconhecem, ao longe, meu querido ex-cabeleireiro, um excelente profissional que deixei de procurar apenas por mudança de endereço.
Corri para o abraço, saltitante e já devidamente embalada por algumas batidinhas do capeta, gritando "Elijahhhh!!!!" (fictício). Ele me afasta com as pontinhas dos dedos e faz cara de "a gente se conhece?". Eu ainda me esforcei: "Rapaz, há quanto tempo! Ué, não lembra mais de mim?".
E ele: "Não". Saiu, dando-me as costas sem mais delongas.
Ex profissionais de beleza podem ser cruéis desafetos.