Na minha outra vida, aquela, que a gente deixou pra trás por
causa da pandemia, eu levava uma rotina bastante ativa. Corria e praticava
natação com regularidade. Claro que eu sabia que isso me fazia bem, mas só fui
sentir o peso de todo aquele bem-estar glorioso após o início da quarentena.
Sem praticar nenhuma atividade física, comecei a sentir uma inquietação, um
estresse já potencializados por este momento atípico e compreensivamente recluso.
Só fui curtir exercícios físicos bem depois dos 30. Antes
disso minha vida era basicamente trabalho/bar/casa. Trabalhe, beba, fume, coma,
durma, repeat. Não vou negar: saudades.
Anyway, comecei a sofrer de abstinência de hormônio do
prazer, de ficar embriagada de endorfina, mas como proceder quando não há
muitas alternativas seguras para se exercitar fora de casa? A resposta estava
ao alcance das minhas mãos e dona internet comunicou-me sobre um aplicativo de
marca famosa de tênis que te passa treinos personalizados pra praticar em casa.
Academia é aquilo, né, gente? Tem quem ame e tem quem odeie.
Sou do segundo time, acho um tédio absoluto. Sempre observei com curiosidade
cômica aquela galera que subitamente vira crossfiteira e aí dá-lhe burpee,
arrastamento de pneu e balanço de corda, misturado com quilos de peito de
frango, whey e clara de ovo.
Então foi meio irônico porque agora me transformei numa
pequena e rechonchuda musinha fitness, e tome burpee no meio da minha sala. A língua
é o chicote do cu, já diria mamãe. Agachamento, flexão, prancha, o abdominal
oblíquo é o limite.
Mas tem coisas que, né?, não vão. Neste plano montado pelo
aplicativo em questão, um dos dias de treino é yoga based. Ou seja, coisas
bizarras como árvore, cachorro olhado pra baixo e montanha são abordados com
naturalidade. Eu via a galera saudando o sol na praia e dava risada, vou
confessar. Aquela pose clássica pra foto do insta, sabe?, pessoa sentada no chão, mãos postadas, curtindo o sunset. Nunca me pareceu natural.
Só podia ser preconceito, eu pensava. Nunca fiz, nunca
entrei na onda, só pode ser despeito. Não desta vez. Que. Coisa. Mais. Chata. Disus!
Não aguentei cinco minutos do treino de yoga, juro. E não porque achei puxado,
só achei chato mesmo. Eu não admito ficar paradinha por tanto tempo. Nem sou
das mais agitadas, mas aquilo pra mim não desce. Enfim, agora posso zoar dos
iogues com tranquilidade.
Em contrapartida ontem fiz um treininho de boxe que, puta
merda, coisa mais querida. Então é isso, menos namastê, mais uppercuts pra esta
senhora aqui. E claro, cada um faz a atividade que mais lhe apetecer, mas não me
chame pra aplaudir o pôr do sol.