31.10.08

O que os olhos vêem...

Esta é uma história real.
Ele havia cansado da solteirice crônica. De bar em bar, de festa em festa, JLC foi colecionando porres homéricos, amizades efêmeras e episódios onde apagões o impediam de saber como havia chego em casa. Cansado de pertencer ao time dos "solteiros sim, sozinhos nunca", ele decidiu acasalar.
Ela, adentrando no estranho universo das balzaquianas (mas com carinha de 25), também pensou em dar um basta na rotina dos barzinhos e noitadinhas descompromissadas com os amigos. Por muitos anos S.B. cuidou da carreira, do aperfeiçoamento profissional, da obtenção de bons contatos - mas esqueceu de alimentar as coisas do coração.
Foi quando decidi entrar em ação. Ele tomou a iniciativa, numa bela tarde de outono, pressionando-me para que eu apresentasse alguma "amiga interessante". Na hora pensei nela, a moreninha mais arretada do Norte catarina.
Fiz as apresentações através de e-mail, e os primeiros contatos entre ambos também foram feitos desta maneira. As formalidades e o rigor presentes nos primeiros diálogos foram se transformando em conversas fluídas e descontraídas, em papos divertidos onde descobriram muito mais em comum do que a profissão.
A distância, no entanto, começou a assombrá-los. Os encontros - onde finalmente poderiam ficar olho no olho, cara a cara, téte a téte - nunca eram concretizados. Amuaram-se, afastaram-se, uma brisa glacial congelou as janelinhas do messenger.
Era outubro. JLC circulava, solitário e carente, pela multidão festiva da Oktoberfest. Caneco estrategicamente pendurado, chapeuzinho alemão no alto da cabeça aloirada, o moço sorvia seu 14º chopp gelado quando uma visão encantadora turvou seus olhos claros.
"De repente uma menina chama minha atenção. Ela, que conversava, descontraída, com outra moça, parecia ter algo de muito familiar. Pensei: tô bêbado, não é possível. Mas a idéia ficou remoendo na cabeça. Olhei de novo. E de novo. Em alguns momentos, era ela. Em outros, seria coincidência demais. Desisti. 15 minutos depois, retomei o projeto de abordá-la. Mas aí ela já havia evaporado", conta o moço.
A história teria ficado nisso não fosse a roliça pulga que não cansava de mordiscar nosso querido herói, bem atrás da orelha. "Apesar da janelinha alertar para ocupado, chamei-a, assim mesmo. E perguntei: por acaso era a senhorita circulando pela Oktober, acompanhada de uma amiga, muito faceirinha?".
SB só precisou confirmar: "No segundo final de semana?".
Nunca haviam estado tão próximos.

(Re)adaptação

Houve um tempo em que havia liberdade. Havia messenger, Orkut, blogs, sites de putaria e afins, tudo bem ao alcance do mouse. Mas aí os patrões começaram a perceber uma sensível queda na produtividade, um desinteresse generalizado, uma apatia e uma inversão de prioridades preocupante. A conseqüência foi previsível: corte em tudo o que havia de bom no mundo virtual, tornando a vida no ambiente de trabalho uma aborrecidíssima sucessão de - ora, vejam só - trabalho, trabalho e mais trabalho.
Mas as pessoas se adaptam, se habituam, se submetem às mais terríveis crueldades. Foi assim que eu me afastei do programinha de conversação mais pop de todos, o msn. Sem acesso à internet em minha residência, foi relativamente fácil desvencilhar-me dos meus amiguinhos virtuais e dos contatos que fazíamos diariamente. O afastamento do messenger foi tão definitivo que cheguei a ser alvo de preocupação por parte de alguns amigos: "Amiga, fica bem, melhora. Volta pro messenger", tive que ouvir, dia desses.
Pois eu voltei. Sim, em outro ambiente de trabalho - nada mais que a minha própria casa - agora posso me dar ao luxo de ser eu mesma a minha supervisora. E, ora bolas, minhas chefinhas me OBRIGAM a permanecer on line all afternoon long.
Confesso que tem sido meio esquisito saber lidar com amigos/colegas e trabalho, tudo-ao-mesmo-tempo-agora, sem correr o risco de enviar "acabei de revisar o texto" pra amiga e um "e aí, piranha?" pra moça da empresa. Mas as coisas vão se ajeitando, aos poucos.
Anyway, cabe ressaltar a incrível capacidade do msn de nos envolver nas situações mais absurdinhas ever da semana. Por exemplo, na terça-feira eu estava contentinha labutando quando a janelinha "Carol T." começa a piscar enlouquecidamente. Carol T., é claro, só poderia ser minha querida prima.

Carolina diz: Oi, minha gostosa
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Oi, amore mio! Finalmente te pego on line!
Carolina diz: Onde vc está?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Tô em XXX, ué?
Carolina diz: Como assim?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Em XXX. Por que?
Carolina diz: Vc tá viajando?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Hahahaha, por que?
Carolina diz: Vc sabe quem sou eu?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Ué, a Carol Teixeira, minha prima. Ou não?
Carolina diz: é
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: entonces...
Carolina diz: mas tem outra foto aparecendo aqui
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: sou eu, com a mão na cara... tu sabes q eu não trabalho mais no jornal, né?
Carolina diz: jornal? q jornal?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Caroca, maluca, acho q vc que perturbou qual é a cíntia.
Carolina diz: eu moro em Campo Grande/MS
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: meu deus... Hahahaaahahaha, mulhé, eu moro em Santa Catarina! E tenho uma prima chamada carol teixeira!
Carolina diz: isso é uma incrível coincidência. Eu tenho uma prima com seu nome tbm
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: céus! e faz tempo que eu não falava com a "minha" carol...
Carolina diz: que loucura. Faz tempo que eu não falo com a Cintoca
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: haahahaahhah, nossa, essa merece ir pro blog...

É... confesso que gostei do "gostosa". Mato Grosso, por esta eu não esperava...

27.10.08

Beija, beija, tá calor, tá calor...

Algumas modinhas, ou "novos padrões comportamentais", digamos, têm a incrível capacidade de me tirar do sério. Ok, muita coisa me tira do sério nesta vida e neste sertão de meu Deus onde eu vim parar. As leggings com bota de astronauta, os brincos de uma orelha só, o súbito gosto popular por músicas sertanejas, enfim, coisas deste povão brasileiro tão rico e criativo na arte de me importunar.
Mas há algo de (relativamente) novo no ar: estamos falando do hábito incontrolável (principalmente por parte dos mais jovens) de trocar beijos estralados a qualquer hora, em qualquer lugar, quantas vezes forem necessárias ao longo do dia. Não se trata de beijos de reencontro, beijos saudosos de amigos que não se viam há séculos. São beijos "sociais", beijos que têm a serventia do "oi". Beijar é o oi dos anos 2000.
As menininhas se encontram todos os dias no pátio da escola, às 7h30. Muac muac estralado nas bochechas. À tarde, se cruzam no shopping, mais muac muac. À noite, na portaria do prédio, "amigaaaaaa, muac muac", a coisa não tem fim.
E pode ficar ainda pior: no restaurante, o sujeito está lá, jantando, faminto, quando a amiga da facul passa e o identifica, exultante. Imediatamente já estende os beiços para o rapaz, que retribui, a boca cheia de carne e molho, o cúmulo da falta de educação e do bom senso - please, galera, deixem a pessoa comer em paz para só depooooois irem cumprimentá-la.

Na academia, as mocinhas futricavam enquanto corriam na esteira. Aí chega o rapaz, regata colada, braços de músculos salientes. Acontece que aqui em Shark só agora as meninas "descobriram" que é cool ter um amigo gay (céus). Aí foi aquela gritaria, não se viam há séculos, pensei. Há. O bombadinho chegou, serelepe e saltitante, e se esticou todo, biquinho armado, na direção das sudorentas da esteira, tascando-lhes beijocas molhadas. Uma delas quase tropeça, dada a emoção.

Marquinhos diz que esta é a "Geração Orkut", onde o miguxismo ganhou força e não se restringiu a apenas um jeito cafona de escrever, mas também a um estilo de vida (com muitas fofurinhas, abracinhos e agradinhos ao pé do ouvido até mesmo do cobrador do ônibus e da moça da padaria, que também são gente, ora bolas). Eu já defino esta beijação toda como sendo da "Geração Êxtase". A droga do amor ganhou o mundo (até as platéias mais frias, como os ingleses) liberando os instintos mais secretos e passionais de seus usuários - as pistas nunca foram tão quentes, com tantos beijos e amassos. Agora, o mundo inteiro se transformou numa Love Parade, ainda que sem o uso da balinha, necessariamente.

Dieta, abstemia e outras torturas do gênero

Aí a moça aqui, com aquelas dobrinhas indesejáveis perturbando seu bem-viver, decide procurar um especialista. "Acho que masquei um chiclete feito na Fantástica Fábrica de Chocolates e só vou parar de inflar quando explodir", brinquei, querendo fazer graça com a endócrino, magérrima, fininha, delicada. A doutora sorriu.
"O problema é que eu gosto de comer. Adoooooro comer", complementei. Ela ali, sorrindo e anotando.
"Quando vejo um Big Mac ou uma lata de Pringles eu perco o controle do meu organismo", forcei a tanga. Mais um sorrisinho esboçado, mais uma anotação no bloquinho.
"As irmãs da minha avó eram tão gordas, mas tão gordas que, diz a lenda, não passavam pela roleta do ônibus. EU NÃO QUERO FICAR ASSIM!", parti para o desespero. A mulher revirou os olhinhos, dado o exagero.
Mexe daqui, consulta dali, e o veredito (ou diagnóstico?): falta de vergonha na cara.
Foi quando meu martírio teve início. Ao invés de me receitar os populares (e controversos) comprimidinhos mágicos que reduzem um metro de sua cinturita em uma única semana, uma maldita DIETA. Di-e-ta.
Dieta amarga, do tipo dois grãos de arroz, um de feijão e um bife do tamanho da minha unha, no almoço. De free, só folhas verdes. Tomate não é liberado (só um pires). Nem abobrinha nem vagem nem chuchu, vejam só, nem o chuchu pode-se comer à vontade na minha torturante dieta.
Mas o pior ainda estaria por vir. Durante nossa longa entrevista (aí foi bom, há milhões de anos que uma consulta médica não durava tanto tempo, mais de 15 minutos, uau!) a doutora perguntou, despretenciosamente: "Mas você bebe?"
PUTZ, como diria minha saudosa brunette belzebu Charlotte.
"Sim, eu bebo", revelei, com profundo constrangimento. Ah, se ela soubesse...
"Mas bebe muuuuito, muuuito? Tipo, DUAS LATAS por semana?".
Hahahahahahahahahahahahahah...
"É... é por aí... um pouquinho mais, talvez...", murmurei, cabisbaixa. "Somos muito boêmios", tentei justificar.
"Não. Não, não, não. Cerveja engorda muuuuito. Muito. Você deve sair com seus amigos, deve se divertir, claro. Mas evite a cerveja. No máximo, no máximo, dois copinhos por semana. Mas tente trocar por Coca Light", sugeriu.
Céus. Bom, se marido consegue, por que eu não conseguiria, não é mesmo?
Mas eu prometo que, se perder uns quatro, cinco, até, pago uma rodada pra galera. Desejem-me sorte (e força na peruca).

17.10.08

Festanças bombásticas, casórios efêmeros

Num destes Lulus`Club da vida, D. contou sobre sua retumbante festança de formatura, há alguns meses, e disse não ter medido esforços para que as lembranças da ocasião fossem as melhores possíveis. Na formatura de D. não teve puta pobre nem gigolô sem cigarro, foram toneladas de requintados acepipes, “cataratas”de camarão, litros de champã da boa (sem essa de espumantezinhas doces com rótulo de maçã), milhares de fotografias (num total de mais de R$ 2 mil, só da colação) e ingestão de quantidades etílicas tão absurdas que o fizeram rebolar até o chão ao som de Créu mesmo quando a banda executava uma vanera.
G. girl concordou com tudo, em absoluto. Disse-nos que na ocasião de sua formatura, em 1983 (hahahahahaha), o Diário de Pernambuco cedeu a capa para flashes dos melhores momentos do randevú universitário. Foram sete dias, uma semana inteirinha de festejos, que culminaram com um delicioso Show de Calouros a moda do tio Sílvio – com direito a solo de guitarra de nossa querida mameluquinha. Oito cabras foram abatidas e icebergs de água de coco com cachaça foram chacoalhadas na coqueteleira para satisfazer a eterna sede nordestina. “Minha mãe disse: filha, formatura é pra vida toda; o que já não posso dizer de um casamento”, relatou-nos G. Sábia dedução.
Porque se apenas uma catastrófica cagada profissional é capaz, hoje, de tirar-lhe das mãos seu tão suado diploma universitário, o mesmo não se pode dizer de um casamento, que, embora comemorado com festas arrasa-quarteirão, gastos infindáveis com flores, decoração, buffet, bebidança, convites e o indefectível vestidão-cobertura de bolo aglacesado (hein?), tem a capacidade metamorfósica de se transformar de sonho de princesa a dor de cabeça daquelas de jogar o caríssimo álbum recheado de momentos românticos pela janela aberta mais próxima.
Não se enganem os leitores com minha visão possivelmente pessimista das bodas matrimoniais. Casamento é bom, eu gosto (do meu) e é sempre bom ter um colinho macio para aconchegar-se nos dias mais frios (e nos quentes também). Mas nem tudo são flores e o mundo das celebrities está aí para não me deixar mentir – se é pra casar mesmo, faça um test-drive antes, pelo amor de Deus. Que o digam Roberto Justus, Eliana Dedinhos, Isabelli Fontana e o loiro namorado do Wolf Maia, Fábio Junior, Ana Maria Braga e os recordistas Murilo Benício e Giovana Antonelli. Isso se ficarmos no plano das celebrities, que eu não sou louca nem nada de dar nome aos bois locais.

Ao invés de impressionar seus convivas com uma mega-recepção, aplique melhor seu rico dinheirinho e impressione vocês mesmos com uma Lua-de-Mel fodástica de um mês de duração. Só por isso o casamento vai perdurar por, no mínimo, um mês a mais que a média.

Plus Bebê a bordo – D. e G. perguntam-se até quando dura o namorico de Ivetão Sangalo, agora devidamente emprenhada, e o rapazinho de 23 anos escolhido a dedo pela musa baiana, tal e qual um touro procriador cujo sêmen vale seu peso em ouro (o peso do boi, não do sêmen). Façam suas apostas. Eu digo que até março a coisa se arrasta. Sem festança de casamento, I hope so. Não quero ser pega de surpresa pela capa da Caras, ainda não recobrei a saúde mental depois do casório de Scheilloka Carvalho em Miami, o de Ju Paes e o de Clauddzinha Leitthy.

3.10.08

Eu acho que vi um gatinho...

Existem os que preferem acreditar ter euzinha aqui "pulado" a fase mais pueril e angelical da infância, o que justificaria meus atos e pensamentos invariavelmente cruéis a respeito dos que abusam da bondade humana para obter o pão de cada dia. Exemplo clássico se encontra na pessoa do senhor Renato Aragão, que fez fama e fortuna quebrando cadeiras na cabeça dos outros três patetas e abrindo a boca com as duas mãos. Como não consigo achar graça em nada disso, considero o cidadão Aragão não-merecedor de tanta fama e destaque, para fúria dos amigos pró-Didi.

Não é nada disso: tive uma infância saudabilíssima e feliz e ainda assim não podia evitar pensamentos lascivos a respeito de Heman e Shera, Smurfette e qualquer um de seus coleguinhas, Heman e Gargamel, Smurfette e Shera, whatever. Não podia entender porque a porra do gato não destroçava o irritante passarinho amarelo. Não conseguia suportar ver o maldito e nojentíssimo vetor de doenças Jerry atirando copos de cristal no pobre Tom.


Décadas depois, meus pedidos finalmente foram atendidos. Voilá!






Deu no G1: Artista inglês recria morte macabra de heróis dos desenhos
Tom finalmente mata Jerry e o coiote pega o Papa-léguas.Obras estão expostas em galeria de arte em Londres.

Por mais que tente, o gato Tom nunca consegue se livrar de seu inimigo eterno, o rato Jerry. Essa é a 'ordem natural' dos desenhos animados, mas o artista inglês James Cauty resolveu subverter essa regra em sua nova exposição na Aquarium Gallery, em Londres. Em uma série de quadros, ele recria o que aconteceria se os personagens animados tivessem, finalmente, um fim trágico.

Ok, não gostei do buldogue ter trucidado Tom. Só faltou o Fred comendo a Betty.

1.10.08

Energizada

Numa olhada rápida, parecia que aquela senhora havia confundido o endereço da missa e entrado no Bar da Luz Vermelha por engano. Mas bastava observar com mais atenção para flagrar a septuagenária magrinha e miúda requebrando até o chão, ao som de Beatles, enquanto sugava com vigor um de seus incontáveis cigarros.
Um show de vitalidade, um exemplo às novas gerações, um caso típico de amor desbragado pela vida, blablabla, clichês não faltariam. Mas a pequena mulherzinha, do alto de seus 1,50m, muchibinhas pendentes no lugar dos peitos, rosto vincado pelo tempo, pelo cigarro e possivelmente pelos excessos noturnos, ainda assim teve que se render à idade avançada, em determinado período da noite.
Após ingerir alguns generosíssimos copos de cerveja, a idosa dançarina procurou lugar na fila do banheiro feminino - foi quando pudemos trocar algumas palavras.
Com a lentidão de algumas fêmeas - que devem urinar à conta-gotas - velhinha não se agüentou e partiu para táticas menos ortodoxas de retenção de urina. Ali mesmo, apertou a xaninha enrugada com a mãozinha crispada, aflita. "Incontinência urinária, boba", relatou-me, em segredo.