27.11.08

Preparativos natalinos (ou menos 5,5kg)

Estamos às portas (douradas e com guirlandas em vermelho e verde) do Natal e desde a última postagem já pensei em dar rumos ultramente radicais à vida (nada dramático, e sim do tipo mudança de cidade ou de país), já pensei em largar o regime, a academia, em voltar a beber (como se tivesse virado abstêmia, haha), em montar um novo blog, escrever um livro (ou dois), enfim, estes pensamentos mundanos que nos invadem a mente, quando em vez.
O bom é que não fiz quase nada de tudo o que andei pensando, e vieram os bônus: desde a sacudida master de minha endócrino me orgulho em revelar que, em menos de um mês, CINCO QUILOS E MEIO já foram sumariamente exterminados de meu corpinho (novamente) de sílfide. Ok, nem tanto, mas já entro nos meus jeans antigos, o que é deveras salutar.

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O que é legal também é perceber que este ano - até pouco tempo considerado bastante "conturbado" - está terminando de um jeito bem bacana. Claro que estamos falando de mim, particularmente, porque, convenhamos, a despedida de 2008 tem sido péssima para o povo catarinense, benza Deus. Aliás, falar em realizações pessoais diante de toda a tragédia que atingiu nosso litoral norte me fez lembrar do meu colunista predileto (hahaha), Cacau, que hoje em dia tem ganho a vida em suas aparições diárias no noticiário estadual lendo emails de "fãs". Aí rolou um estresse básico: a dondoca contou que não aguentava mais tanta chuva porque estava "engordando". Chuva pede chocolate, sopinhas, foundies, de acordo com a pôia. Outra fã de Cacau, mais solidária, lamentou o chiste da primeira, que se gabava de estar comendo do bom e do melhor enquanto milhares permaneciam desalojados, sem roupas nem alimentos, sem mais nada. Eu me cobri de vergonha alheia, o email, que era pra ser um simples gracejo, se transformou em uma declaração de insensibilidade, futilidade e egoísmo.
Anyway, voltando a falar de mim, meu assunto predileto, espero ter boas notícias para muito em breve, cruzem os dedinhos.
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Este período ainda se mantém como o meu preferido de todo o ano - grande parte desta empolgação toda por conta deste infantilismo que me corrói as entranhas e me faz querer, secretamente, ganhar uma Barbie Castelo de Diamante e um pogobol. Para entrar devidamente no clima, fui até as Americanas e adquiri uma fofíssima árvorezinha de madeira, com os penduricalhos do mesmo material, pintadinha a mão, totally old school. Luxo. Ainda de lambuja tem a minha gigantesca e maravilhosa árvore de Natal adquirida no ano passado, um sonho realizado (sim, meu maior sonho na vida era comprar a minha própria árvore de Natal). E mais guirlandas, e papais-noéizinhos, e truques do gênero. Amo muito tudo isto. Minha missão agora é elaborar um deliciosíssimo cardápio para minha ceia natalina - que a dieta vai me acompanhar até no momento de maior fartura gastronômica do ano. E comprar os presentinhos da Ju. Tô achando que ela vai adorar a Barbie Castelo de Diamante...

13.11.08

A vizinha e o "namorado"

Eram sessões intermináveis de gritos histéricos, barulho de louças quebrando e portas sendo violentamente fechadas. Num belo dia, o vizinho adolescente deu um basta: "Eu vou embora!". E foi, mesmo com os argumentos super-convincentes de sua mamã, "teu pai não gosta de ti!".
Depois que o filho partiu, a vizinha deu início a uma nova vida, repleta de emoções e adrenalina. Bela noite eu a escuto chegar em casa, no andar de baixo. "Entra, senta aí, fica a vontade. Tem cerveja na geladeira", disse ela, forte sotaque porto-alegrense, suuuuper gentil.
Como resposta, um resmungo masculino, barulho de um refrigerador abrindo e o espocar do anel de uma lata de cerveja. "Gut, gut, gut... aaaaaahhhhhh", gemeu o desconhecido, sugando a loira gelada com prazer (a lata, não a vizinha).
A gaúcha, por sua vez, continuou uma conversinha mole, amenidades, temas corriqueiros, o preço da passagem de ônibus pra SP tá pela hora da morte; queria ir até lá fazer compras; na 25 de Março tem muita coisa barata (dãããããã...).
Momentos de breve silêncio constrangedor e aí a coisa começou a apimentar - pelo menos do meu ponto de vista (ou de audição). Barulho do chuveiro.
Quando eu, maldosamente, imaginava o casal dividindo o apertado espaço do box, ouço novamente os gut, gut, gut e os aaaaahhhh do sujeito bebendo sua cerva, sossegado.
Ela finalmente sai do chuveiro, pisando firme em pesadas tamancas de madeira (pelo poc poc característico). "Tu não vais tomar um bainho?", disse, dengosa. A resposta fez meu queixo cair:
"Eu não, tomei banho de manhã e não andei com ninguém hoje", rebateu o cervejeiro porco.
A moça não gostou da insinuação. "Eu também não, imagina, mas este já é o terceiro banho que eu tomo hoje, gosto de ficar bem cheirosa".
Aparte: mentira, ainda estava frio e eu ficava em casa o dia todo,
sei os horários de banho de todo mundo.
A mandona continuou: "Mas capaz que tu não vais tomar um banho... Vamos, vamos logo, tem uma esponja ali (argh, esponja é tipo escova de dentes, não se empresta e não se usa a dos outros, eca), tem sabonetinho líquido, tem tudo", detalhou, tentando convencê-lo.
O sujismundinho não cedia: "Não, não precisa, linda, eu tô limpinho. Se eu soubesse que era pra ter tomado banho, tinha entrado ali contigo"...

Não agüentei tanta conversa mole e fui dormir antes dos finalmentes.

Dias depois a vizinha sumiu. Evaporou do prédio, sem maiores explicações. Pensei que tivesse sido assassinada pelo porquinho, pensei que tivesse dado o golpe na imobiliária, pensei que tivesse corrido atrás do filho. Sumiço total, por mais de dois meses. Até ontem. Sim, ontem, finalmente, a gaúcha maluca deu o ar da graça. Voltou, sabe-se lá de onde, carregada de sacolas e com uma amiga a tiracolo. Faceiríssima, mais falante do que nunca.

Até então, a idéia de que a vizinha estaria fazendo programetes para quitar o aluguel se insinuava em minha mente, para horror de marido. "Não, guria, deve ser um macho qualquer em quem ela estava de olho, nada mais".
Uhum... a amiga, que estava de saída, pergunta como faria para retornar ao apartamento, mais tarde, sem atrapalhar a anfitriã, que iria "sair com o namorado". "Até porque a minha intenção não é a de te atrapalhar, né, amada? Tens um monte de aluguel atrasado, contas pra pagar, PRECISAS GANHAR UM DINHEIRINHO".
YES.
A gaúcha tresloucada complementa: "É, preciso de dinheiro mesmo. Mas pelo menos até que o namorado é bem gostosinho...".

6.11.08

Maçãs, bananas, limões

No quesito infâmia ela reina, absoluta. No deboche, poucos se igualam à mestra. Na língua ferina, é preciso rebolar para rebatê-la. Mas certamente ninguém vence Charlotte, a maligna, na categoria "cara de pau". Sim, porque haja habilidade e óleo de peroba para ter a sutileza de achincalhar seu interlocutor e ter de volta um singelo sorriso. Só Charlotte tem o dom de dizer, naturalmente, na cara dura, que você está: com bafo de leão / cheiro de asa / dente sujo de restos de salada / gordura excessiva / cabelo ensebado / meleca no nariz ou ainda que você é: pobre / feio / burro / encalhado / promíscuo / com problemas mentais sérios e parecer o mais engrandecedor elogio do mundo.
A morena-má sabe como ninguém trabalhar seus súditos de maneira a lucrar, sempre, com presentes, mimos, afetos e declarações de amor. E tudo sem adulação e puxa-saquismo. Muito pelo contrário: a moça conquista a todos dizendo a mais pura e franca verdade, uma dádiva celestial.
Foi assim com sua nova turma de alunos (universitários e/ou trabalhadores do comércio de Shark city). É que Charlotte é uma mulher dotada dos mais diversos talentos: para xingar, maltratar, pisotear, escrever, ler, bordar, cozinhar abobrinhas e tomates e também falar idiomas variados. Ultimamente a moça tem lecionado Alemão Arcaico a um vasto grupo de pessoas.
Aí que, mais de mês antes do Dia do Professor, 15 de outubro, a rapariga deu início a uma fortíssima campanha de marketing para angariar lembrancinhas simpáticas. Todos os dias, as mais hilárias histórias eram relatadas pela amalucada teacher (ou apfudelstraisserkierkgardfeuss, professor em alemão arcaico). Como na do dia que foi almoçar no DonK, restaurante fino de Shark City.
"Pedi meu nhóque a bolonhesa e perguntei qual suco eles estariam servindo. Qual não foi minha surpresa ao ver o garçon, cheio de marra, dizer: Suco de limão. Peraí, suco de limão? Suco de limão? É LIMONADA! LIMONAAADAAA! Limão eu pego na beira do rio, de graça. Limonada eu tomei a vida toda, minha avó fazia, tinha até as mãos manchadas de limão, limão é mato. R$ 5 por um copo de limonaaadaa?", lamentava, aos brados, a casquinha, para apreensão de seus estimados pupilos, nesta hora já atirados ao chão, em lágrimas.
No outro dia, reclamou de fome. "Geeeeente, que o quilo da maçã tá R$ 3,80 no Angeloni. R$ 3,80!!! Tá uma fortuna, não dá mais pra comer maçã! Como é que é isso, gente? Pior é que eu não posso comer banana", queixava-se a paulistana, enquanto massageava, aos tapinhas, a barriguinha saliente.
Em uma outra ocasião, a moça confessou seus péssimos hábitos alimentares: "Isso tudo aqui que vocês estão vendo - puxou para fora suas duas bordinhas de queijo cremoso, os populares culotes - é bolacha. Sim. Bo-la-cha. Biscoito é bom, barato, mata a fome. Mas engorda. Eu queria comer maçã...", revelou, chorosa.
Finalmente, no dia 15 de outubro, tão esperado, a decepção: nenhum aluninho a honrou com um mimo, um abraço, uma recordação sequer. Uma lágrima escorreu pelo rosto de pele de porcelana de nossa heroína. Infeliz, recusou-se a brincar com os estudantes, como de costume. Drama. "A professora está diferente hoje", observou um de seus pupilos. "Estou mesmo, e daí?", cortou a furiosa, desabafando. "NINGUÉM ME DEU PRESENTE DE DIA DO PROFESSOR! Nem um bombom, nem uma maçã! E eu, que trouxe até uma sacola do Angeloni!". Mais drama.
Finalmente, na última semana, uma doce surpresa. Enquanto ajeitava o material didático da Escola de Ensino Superior de München sobre a mesa, os aluninhos, um a um, foram depositando gorduchas maçãs vermelhas e lustrosas sobre sua mesa. Foram sete, ao todo. A sacola do Angeloni, na gaveta, desta vez foi bem aproveitada.
Charlotte voltou feliz para casa. No jantar, maçã ensopada com abobrinha.


Charlotte, nossa Elaine Benes, mostra o resultado de sua campanha.

Fotinho de celular, mas o que vale é a intenção...