A morena-má sabe como ninguém trabalhar seus súditos de maneira a lucrar, sempre, com presentes, mimos, afetos e declarações de amor. E tudo sem adulação e puxa-saquismo. Muito pelo contrário: a moça conquista a todos dizendo a mais pura e franca verdade, uma dádiva celestial.
Foi assim com sua nova turma de alunos (universitários e/ou trabalhadores do comércio de Shark city). É que Charlotte é uma mulher dotada dos mais diversos talentos: para xingar, maltratar, pisotear, escrever, ler, bordar, cozinhar abobrinhas e tomates e também falar idiomas variados. Ultimamente a moça tem lecionado Alemão Arcaico a um vasto grupo de pessoas.
Aí que, mais de mês antes do Dia do Professor, 15 de outubro, a rapariga deu início a uma fortíssima campanha de marketing para angariar lembrancinhas simpáticas. Todos os dias, as mais hilárias histórias eram relatadas pela amalucada teacher (ou apfudelstraisserkierkgardfeuss, professor em alemão arcaico). Como na do dia que foi almoçar no DonK, restaurante fino de Shark City.
"Pedi meu nhóque a bolonhesa e perguntei qual suco eles estariam servindo. Qual não foi minha surpresa ao ver o garçon, cheio de marra, dizer: Suco de limão. Peraí, suco de limão? Suco de limão? É LIMONADA! LIMONAAADAAA! Limão eu pego na beira do rio, de graça. Limonada eu tomei a vida toda, minha avó fazia, tinha até as mãos manchadas de limão, limão é mato. R$ 5 por um copo de limonaaadaa?", lamentava, aos brados, a casquinha, para apreensão de seus estimados pupilos, nesta hora já atirados ao chão, em lágrimas.
No outro dia, reclamou de fome. "Geeeeente, que o quilo da maçã tá R$ 3,80 no Angeloni. R$ 3,80!!! Tá uma fortuna, não dá mais pra comer maçã! Como é que é isso, gente? Pior é que eu não posso comer banana", queixava-se a paulistana, enquanto massageava, aos tapinhas, a barriguinha saliente.
Em uma outra ocasião, a moça confessou seus péssimos hábitos alimentares: "Isso tudo aqui que vocês estão vendo - puxou para fora suas duas bordinhas de queijo cremoso, os populares culotes - é bolacha. Sim. Bo-la-cha. Biscoito é bom, barato, mata a fome. Mas engorda. Eu queria comer maçã...", revelou, chorosa.
Finalmente, no dia 15 de outubro, tão esperado, a decepção: nenhum aluninho a honrou com um mimo, um abraço, uma recordação sequer. Uma lágrima escorreu pelo rosto de pele de porcelana de nossa heroína. Infeliz, recusou-se a brincar com os estudantes, como de costume. Drama. "A professora está diferente hoje", observou um de seus pupilos. "Estou mesmo, e daí?", cortou a furiosa, desabafando. "NINGUÉM ME DEU PRESENTE DE DIA DO PROFESSOR! Nem um bombom, nem uma maçã! E eu, que trouxe até uma sacola do Angeloni!". Mais drama.
Finalmente, na última semana, uma doce surpresa. Enquanto ajeitava o material didático da Escola de Ensino Superior de München sobre a mesa, os aluninhos, um a um, foram depositando gorduchas maçãs vermelhas e lustrosas sobre sua mesa. Foram sete, ao todo. A sacola do Angeloni, na gaveta, desta vez foi bem aproveitada.
Charlotte voltou feliz para casa. No jantar, maçã ensopada com abobrinha.
Charlotte, nossa Elaine Benes, mostra o resultado de sua campanha.
Fotinho de celular, mas o que vale é a intenção...

3 comentários:
Não sei o que é mais engraçado: a história, o texto ou a personagem.
Beijo,
Caetano
Caetano mandando beijo???? Frutinha! Sugestivo para o texto...kkkkk Amei tudo!! rs
Bestinha, você, dona Carla, o beijo foi pra mim! Marido é um homem carinhoso. E as cólicas?
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