13.11.08

A vizinha e o "namorado"

Eram sessões intermináveis de gritos histéricos, barulho de louças quebrando e portas sendo violentamente fechadas. Num belo dia, o vizinho adolescente deu um basta: "Eu vou embora!". E foi, mesmo com os argumentos super-convincentes de sua mamã, "teu pai não gosta de ti!".
Depois que o filho partiu, a vizinha deu início a uma nova vida, repleta de emoções e adrenalina. Bela noite eu a escuto chegar em casa, no andar de baixo. "Entra, senta aí, fica a vontade. Tem cerveja na geladeira", disse ela, forte sotaque porto-alegrense, suuuuper gentil.
Como resposta, um resmungo masculino, barulho de um refrigerador abrindo e o espocar do anel de uma lata de cerveja. "Gut, gut, gut... aaaaaahhhhhh", gemeu o desconhecido, sugando a loira gelada com prazer (a lata, não a vizinha).
A gaúcha, por sua vez, continuou uma conversinha mole, amenidades, temas corriqueiros, o preço da passagem de ônibus pra SP tá pela hora da morte; queria ir até lá fazer compras; na 25 de Março tem muita coisa barata (dãããããã...).
Momentos de breve silêncio constrangedor e aí a coisa começou a apimentar - pelo menos do meu ponto de vista (ou de audição). Barulho do chuveiro.
Quando eu, maldosamente, imaginava o casal dividindo o apertado espaço do box, ouço novamente os gut, gut, gut e os aaaaahhhh do sujeito bebendo sua cerva, sossegado.
Ela finalmente sai do chuveiro, pisando firme em pesadas tamancas de madeira (pelo poc poc característico). "Tu não vais tomar um bainho?", disse, dengosa. A resposta fez meu queixo cair:
"Eu não, tomei banho de manhã e não andei com ninguém hoje", rebateu o cervejeiro porco.
A moça não gostou da insinuação. "Eu também não, imagina, mas este já é o terceiro banho que eu tomo hoje, gosto de ficar bem cheirosa".
Aparte: mentira, ainda estava frio e eu ficava em casa o dia todo,
sei os horários de banho de todo mundo.
A mandona continuou: "Mas capaz que tu não vais tomar um banho... Vamos, vamos logo, tem uma esponja ali (argh, esponja é tipo escova de dentes, não se empresta e não se usa a dos outros, eca), tem sabonetinho líquido, tem tudo", detalhou, tentando convencê-lo.
O sujismundinho não cedia: "Não, não precisa, linda, eu tô limpinho. Se eu soubesse que era pra ter tomado banho, tinha entrado ali contigo"...

Não agüentei tanta conversa mole e fui dormir antes dos finalmentes.

Dias depois a vizinha sumiu. Evaporou do prédio, sem maiores explicações. Pensei que tivesse sido assassinada pelo porquinho, pensei que tivesse dado o golpe na imobiliária, pensei que tivesse corrido atrás do filho. Sumiço total, por mais de dois meses. Até ontem. Sim, ontem, finalmente, a gaúcha maluca deu o ar da graça. Voltou, sabe-se lá de onde, carregada de sacolas e com uma amiga a tiracolo. Faceiríssima, mais falante do que nunca.

Até então, a idéia de que a vizinha estaria fazendo programetes para quitar o aluguel se insinuava em minha mente, para horror de marido. "Não, guria, deve ser um macho qualquer em quem ela estava de olho, nada mais".
Uhum... a amiga, que estava de saída, pergunta como faria para retornar ao apartamento, mais tarde, sem atrapalhar a anfitriã, que iria "sair com o namorado". "Até porque a minha intenção não é a de te atrapalhar, né, amada? Tens um monte de aluguel atrasado, contas pra pagar, PRECISAS GANHAR UM DINHEIRINHO".
YES.
A gaúcha tresloucada complementa: "É, preciso de dinheiro mesmo. Mas pelo menos até que o namorado é bem gostosinho...".

Um comentário:

Maite Lemos disse...

Criiiiisto!
Mas pra mim, a pior parte, foi imaginar o sotaquezinho porre da mulher. Nada contra gaúchos, tá. Só contra o sotaque de Porto Alegre, que é de vomitar.
Quanto ao teu comentario lá no blog, entendi o recadinho sim.
Fiquei muito feliz.
Brigada.