26.12.08

On line, finalmente (ou Meu Melhor Presente de Natal)

1996 foi, para mim, um ano de descobertas definitivas, seguramente. Neste ano entrei na universidade, fui morar sozinha, arrumei namorado(s), tornei-me segura e independente (relativamente independente, deixo claro), aprendi horrores de coisas incríveis, desde cozinhar a mexer direito (relativamente direito, é bom frisar) no computador. Também foi o ano em que entrei na internet pela primeira vez. E o que era apenas uma caixa (gigantesca e lenta) de metal com uma série de funções aborrecidas tornou-se, subitamente, viva, mágica, encantada. Um oráculo, uma resposta a todas as perguntas (hein?), um semideus ao alcance do mouse.
Desde então litros de água barrenta passaram por debaixo da ponte, e, vejam só, consegui a proeza de até montar um site como projeto de conclusão de curso - site este que deu origem a este humilde blog que vos serve.
Mas a roliça e endiabrada pulga que sempre me mordia a orelhinha era o triste fato de que, em plena era da informática e da informação, eu, como jornalista, jamais havia adquirido um pc. Para me conectar ao mundo valia de tudo: desde o ambiente de trabalho até a casa de bons amigos. Com os anos ter um computadorzinho ordinário em casa tornou-se o básico do Brasil - e vejam só, até minha mãe adquiriu um lindão e aprendeu a enviar pps "simpáticos" (contém ironia) para todos os seres de sua lista de contatos, included me.
Finalmente, ainda este ano, consegui a proeza de me presentear com um fabuloso lépitópi, coisa linda de Deus. Mas o diabinho, fininho, brilhante, tentador, não passava, assim como em 1996, de uma caixa (tudo bem, mais pasta do que caixa) sem vida, sem personalidade, oco, vazio.
Hoje, a mudança: pela primeira vez desde meu primeiro acesso à internet, estou postando de minha own private residência. Sim, o processo foi inexplicavelmente árduo e dificultoso, mas finalmente estou conectada para o mundo - e meu lindo computador adquiriu alma.
Seria desnecessário (pra não dizer praticamente impossíve) enumerar todas as possibilidades oferecidas por este já tão banal recurso, mas cito uma: diz o meu queridíssimo amigo Google que o feitiço mais cruel e maléfico que pode ser lançado pelos bruxos de Hogwarts é um só, o Avada Kedavra. Não entendeu nada? Basta saber que passei a noite anterior inteirinha quebrando a cabeça para lembrar da tal expressão - sabe aquela coisa que malditamente fica na ponta da língua e parece impossível arrancá-la dali? É... agora não tenho mais este problema. Google rules!
Um feliz Natal para todos. E sim, o meu tem sido extremamente feliz...

20.12.08

É Natal em Shark city

* "Um Feliz Natal", do Ivan Lins, é a nova "Então é Natal", da Momone. Por que precisamos de hits nesta época do ano? E por que não ficamos satisfeitos com a velha e boa Jingle Bells? Todo mundo cobre o Papai Noel de veludo vermelho e barba volumosa fake e simula neve com chumaços de algodão no pinheirinho, compra nozes e avelãs e se entope de aves exóticas e frutas importadas, mas na hora do cancioneirismo temático sempre tem um malandro oportunista que aparece para faturar uns trocos e (tentar) reerguer sua já decadente carreira. Ok, eu não suporto Ivanzão e Simone, não há toa sou fã desta comunidade aqui.

* Após anos alheia às comemorações pré-Natal tão típicas de Shark city, rendi-me ao mainstream local e aderi firmemente ao milho verde. Pré-Natal em Shark não existe sem boas, salgadinhas e roliças espigas de milho, "voltinhas" (ou arrodeios, como diria G.girl) pelas principais ruas do Centro, muita vitrine, muita sacolada e muito bate-quadril com a galerinha generosa que se entope de dívidas para presentear do enteado punheteiro ao cunhado beberrão. Sacolas das Casas Bahia, Magazine Luiza e lojas de calçado (a especialidade do município) são mato.

* E por falar em circular pelo pujante comércio local às vésperas do aniversário de Cristo, também urge imbuir-se de mega-paciência com a massa nervosa de pedestres, nervosa, mas não apressada, que gosta de perambular gostosamente e muito vagarosamente, em bandos, de braços dados, ocupando toda a extensão das calçadas, riso frouxo.
Não bastasse o volume atordoante de sacolas, que dificultam a ultrapassagem dos mais impacientes, existem os quadris, as super-bundas, que se durante o ano inteiro passam sentadas forrando-se de pãezinhos e coxinhas, no Natal ganham o mundo e as calçadas de Shark city. É quase impossível chegar a seu destino sem deixar de encoxar rabos assustadoramente volumosos, sátiros, como que obscenos, surreais.

* Na última quarta cruzei com o que me pareceu ser o cúmulo do oportunismo natalino - e já não estamos mais falando de Ivan Lins. Vestindo um conjuntinho de tecido sintético vermelho de regata e calça, botas de plástico pretas e uma barba lastimável, sustentando um saquinho encardido nas mãos, um Papai Noel mendigo. Mas repleta de luz, bondade e magia natalina, pude enxergar além de sua mendicância: dinheiro ele só pede aos lojistas, em forma de moedas, doces ou pratos de comida; às crianças, ele dá balas, como todo bom velhinho...

9.12.08

Española

Banda aquecendo, Fafá se preparando para executar nova canção ao povo de Shark city.
G. girl: Se ela cantar "Regressar é reunir dois laços" eu choro...
Fafá de Belém: "Regressar é reunir... dois laços..."
G. girl: Buáááááááá (por meia hora, sem parar)

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Noite adentro, cervejinha rolando solta (depois dos meus SEIS QUILOS perdidos, haha), aí ouço esta:
- Pô, estes peitos da Fafá de Belém! Putz, dava pra fazer altas espanhola!
- Ah, Fafá? Nâo, né?
- Não, não dava... (em tom de ironia). Dava e haja pau!
- Ah, sei lá... Fafá...
- Credo! Aquilo é quase um cu!

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7.12.08

Sinucas de bico, furadas e roubadas da vida de solteiro

Guto (nome fictício) concluiu que a moreninha brejeira que havia conhecido (e com quem trocara uns amassos) no ônibus da excursão poderia vir a ser sua mais nova e apaixonada namorada. Solteiro, carente, desiludido com tanto sexo sem sentido, decidiu se endireitar na vida. Pegou no telefone e marcou logo um encontro com a moça (vamos chamá-la de Ritinha).
"Ela disse que morava na Zofa. Fui. Fui, fui, fui, fui, fui. Não chegava nunca. Telefonei e perguntei: onde fica, minha filha? Mais adiante, ela explicava. A chuva despencava aos borbotões. A Zofa havia ficado há muito pra trás. Casas e edifícios foram escasseando, a iluminação pública, idem. Um poste aqui, outro a 500 metros. Estradas de chão, buracos. Matagal. Finalmente, encontrei uma das referências repassadas pela menina e apeei o carro. Era lá", conta-nos Guto. Era um conglomerado de pequenas casinhas conjugadas, ou melhor, uma casa que foi espichando devido a inúmeros puxadinhos. "Surge uma senhora de short socado no rabo, botas no joelho, cabelo (mal) tingido de loiro, aquela voz alterada de quem costuma verter uns gorós goela abaixo, alternados com maços e maços de cigarro", descreve o bachelor.
"E aí, cara? Beleza?", rosna a senhora. "Entra aí, entra aí. Quer beber alguma coisa? Cervejinha?". Era a mãe de Ritinha, ela mesma já abrindo a geladeira e tomando para si uma Kaiser suada. Guto recusou e disse preferir refrigerante. Ela apontou para uma garrafa pegajosa de coca-cola sobre a mesa, com um terço do conteúdo, provavelmente aberta há uma semana. "Te serve, fica à vontade", arrematou, saindo para a rua, onde disse ter alguns "clientes" para atender.
Até então, nem sinal de Ritinha. A prima dela, no entanto, correu a seu encontro, para fazer uma sala básica. Mais uma hora e meia se passou e a danada da moreninha por quem o sangue de Guto fervia na última semana não dava sinal de vida. Finalmente, surge a musa, cabelo molhado, chinelos de dedo. "Ai, desculpa a demora. Tava fazendo minha filha dormir. Olha só a foto da minha linda!", e puxou o poster de uma menina prestes a entrar na puberdade.
Guto broxou. Ainda assim, tentou fazer o cavalheiro. "E onde vocês duas gostariam de ir hoje?", perguntou, solícito. "Ah, vai ter um baile muito bom em Capiva Under, no Casarão. Toca uma vaneira daquelas", observou Ritinha. No rádio do quarto da moça, a pérola da MPB "Chupa, chupa, chupa que é de uva..." vibrava, ad infinitum.
Despedindo-se rapidamente, alegando uma indigestão, Guto embarcou no carro e rumou para casa, cabisbaixo. Já não se fazem mais namoradas como antigamente...