7.12.08

Sinucas de bico, furadas e roubadas da vida de solteiro

Guto (nome fictício) concluiu que a moreninha brejeira que havia conhecido (e com quem trocara uns amassos) no ônibus da excursão poderia vir a ser sua mais nova e apaixonada namorada. Solteiro, carente, desiludido com tanto sexo sem sentido, decidiu se endireitar na vida. Pegou no telefone e marcou logo um encontro com a moça (vamos chamá-la de Ritinha).
"Ela disse que morava na Zofa. Fui. Fui, fui, fui, fui, fui. Não chegava nunca. Telefonei e perguntei: onde fica, minha filha? Mais adiante, ela explicava. A chuva despencava aos borbotões. A Zofa havia ficado há muito pra trás. Casas e edifícios foram escasseando, a iluminação pública, idem. Um poste aqui, outro a 500 metros. Estradas de chão, buracos. Matagal. Finalmente, encontrei uma das referências repassadas pela menina e apeei o carro. Era lá", conta-nos Guto. Era um conglomerado de pequenas casinhas conjugadas, ou melhor, uma casa que foi espichando devido a inúmeros puxadinhos. "Surge uma senhora de short socado no rabo, botas no joelho, cabelo (mal) tingido de loiro, aquela voz alterada de quem costuma verter uns gorós goela abaixo, alternados com maços e maços de cigarro", descreve o bachelor.
"E aí, cara? Beleza?", rosna a senhora. "Entra aí, entra aí. Quer beber alguma coisa? Cervejinha?". Era a mãe de Ritinha, ela mesma já abrindo a geladeira e tomando para si uma Kaiser suada. Guto recusou e disse preferir refrigerante. Ela apontou para uma garrafa pegajosa de coca-cola sobre a mesa, com um terço do conteúdo, provavelmente aberta há uma semana. "Te serve, fica à vontade", arrematou, saindo para a rua, onde disse ter alguns "clientes" para atender.
Até então, nem sinal de Ritinha. A prima dela, no entanto, correu a seu encontro, para fazer uma sala básica. Mais uma hora e meia se passou e a danada da moreninha por quem o sangue de Guto fervia na última semana não dava sinal de vida. Finalmente, surge a musa, cabelo molhado, chinelos de dedo. "Ai, desculpa a demora. Tava fazendo minha filha dormir. Olha só a foto da minha linda!", e puxou o poster de uma menina prestes a entrar na puberdade.
Guto broxou. Ainda assim, tentou fazer o cavalheiro. "E onde vocês duas gostariam de ir hoje?", perguntou, solícito. "Ah, vai ter um baile muito bom em Capiva Under, no Casarão. Toca uma vaneira daquelas", observou Ritinha. No rádio do quarto da moça, a pérola da MPB "Chupa, chupa, chupa que é de uva..." vibrava, ad infinitum.
Despedindo-se rapidamente, alegando uma indigestão, Guto embarcou no carro e rumou para casa, cabisbaixo. Já não se fazem mais namoradas como antigamente...

3 comentários:

João Lucas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Lucas disse...

Divertidíssimo este conto.
Donde tiraste?
(risos gerais)

Matheus Madeira disse...

Já ouvi essa história.... Mas o nome fictício é pra confundir mesmo? Hauhuahahuaa