27.10.08

Beija, beija, tá calor, tá calor...

Algumas modinhas, ou "novos padrões comportamentais", digamos, têm a incrível capacidade de me tirar do sério. Ok, muita coisa me tira do sério nesta vida e neste sertão de meu Deus onde eu vim parar. As leggings com bota de astronauta, os brincos de uma orelha só, o súbito gosto popular por músicas sertanejas, enfim, coisas deste povão brasileiro tão rico e criativo na arte de me importunar.
Mas há algo de (relativamente) novo no ar: estamos falando do hábito incontrolável (principalmente por parte dos mais jovens) de trocar beijos estralados a qualquer hora, em qualquer lugar, quantas vezes forem necessárias ao longo do dia. Não se trata de beijos de reencontro, beijos saudosos de amigos que não se viam há séculos. São beijos "sociais", beijos que têm a serventia do "oi". Beijar é o oi dos anos 2000.
As menininhas se encontram todos os dias no pátio da escola, às 7h30. Muac muac estralado nas bochechas. À tarde, se cruzam no shopping, mais muac muac. À noite, na portaria do prédio, "amigaaaaaa, muac muac", a coisa não tem fim.
E pode ficar ainda pior: no restaurante, o sujeito está lá, jantando, faminto, quando a amiga da facul passa e o identifica, exultante. Imediatamente já estende os beiços para o rapaz, que retribui, a boca cheia de carne e molho, o cúmulo da falta de educação e do bom senso - please, galera, deixem a pessoa comer em paz para só depooooois irem cumprimentá-la.

Na academia, as mocinhas futricavam enquanto corriam na esteira. Aí chega o rapaz, regata colada, braços de músculos salientes. Acontece que aqui em Shark só agora as meninas "descobriram" que é cool ter um amigo gay (céus). Aí foi aquela gritaria, não se viam há séculos, pensei. Há. O bombadinho chegou, serelepe e saltitante, e se esticou todo, biquinho armado, na direção das sudorentas da esteira, tascando-lhes beijocas molhadas. Uma delas quase tropeça, dada a emoção.

Marquinhos diz que esta é a "Geração Orkut", onde o miguxismo ganhou força e não se restringiu a apenas um jeito cafona de escrever, mas também a um estilo de vida (com muitas fofurinhas, abracinhos e agradinhos ao pé do ouvido até mesmo do cobrador do ônibus e da moça da padaria, que também são gente, ora bolas). Eu já defino esta beijação toda como sendo da "Geração Êxtase". A droga do amor ganhou o mundo (até as platéias mais frias, como os ingleses) liberando os instintos mais secretos e passionais de seus usuários - as pistas nunca foram tão quentes, com tantos beijos e amassos. Agora, o mundo inteiro se transformou numa Love Parade, ainda que sem o uso da balinha, necessariamente.

2 comentários:

Camila disse...

uhauhauhauha...concordo em gênero número e grau!!! nojeira isso...esse passa-passa de germes..eu hein?!!!

Guilherme Correa disse...

"amigaaaaaa, muac muac". O que é pior? A falsidade do "amigaaaaaa" ou os estalinhos de baba? Provavelmente, na próxima passagem de ano em Laguna Beach, esse será o cumprimento oficial das turminhas mais antenadas na arte de tirar alguém do sério.