22.10.07

O bandejão, a língua e o desespero

Quando o sogrão convidou para um almoção de domingo no meio da comunidade, fiz-me de rogada, mas marido garantiu presença dizendo: "Vamos, boba, vai ser bom!", afirmava, convicto.
Fui. Ao chegarmos, pude observar o povão, feliz, enchendo seus pratos em formato monte everest, coisa linda de Deus, comer é vida.
Peguei meu utensílio (plástico, claro) e segui, junto a Caetano, para a mesa do buffet. Enquanto me servia de apetitosas saladas fresquinhas e um purezinho fino de aipim com molho de carne (delícia), Machadinho rumou convicto para o setor de carnes. Estranhei a demora na escolha de seu filé e, em pouco tempo, o alcancei.
Qual não foi minha surpresa ao ver o moço com uma carinha que ia da náusea ao pânico, enquanto olhava para as duas cubas de carne: uma delas com pedaços de aparência rugosa, boiando num molho vermelho: a famigerada língua; a outra, também encharcada de molho, com generosas coxas e sobrecoxas de frango ensopadaço. Pânico na Zona Sul. Sem saber se ria ou o auxiliava, apontei para um cantinho do salão comunitário, onde dois solícitos garçons fatiavam um fabuloso churrasquinho, o que deveria minimizar o impacto popularesco da refeição dominical.
Não foi de grande valia. Como já havia se servido, precipitadamente, de frango, lá ficou marido, com carinha de desespero, olhando o pedação de alguma parte ainda não identificada da galinha, laranja e gordurosa. Medo.
Já pensava eu em blogar as frescurinhas de maridón quando este se aprochega e, discretamente, sopra em meu ouvidinho: "Tô me sentindo no Laio´s".

P.S.: o frango acabou, enfim, sendo devorado, já que eu pus fogo dizendo que é falta de educação deixar comida no prato, até porque Jesus chora, como diria Neidé. A carinha de desconsolo, no entanto, ficou registrada em minha mente, para minha diversão eterna.

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