3.2.07

Solidão, que nada!

O filme "Denise está chamando" (Denise calls up, 1995) traz a história de um grupo de pessoas, todas residentes na mesma cidade, Nova York, e que por uma série de casualidades, da rotina atribulada, do trabalho incessante, do corre-corre desenfreado, da falta de tempo para tudo aquilo que não parece prioritário no cotidiano, não conseguiam uma única brecha na agenda para um encontro informal com os amigos. Tão atarefados, os personagens, mesmo com tantos contatos pessoais e profissionais, acabam se adaptando à solidão e ao ensimesmamento sobre si mesmos (hein?), esquecendo-se de todo o mundo lá fora nos horários de ócio. O filme foi um clássico imediato no que se refere às mudanças de comportamento humano. Hoje e daqui a muitos anos vai continuar atualíssimo. Somos jovens, solteiros, estamos inseridos no mercado de trabalho, temos amigos, compromissos sociais, eventos diversos, viagens, reuniões, desafios, vitórias e derrotas. E mesmo assim (até mesmo aqui, nesta simpática cidadezinha provinciana), fica difícil às vezes conciliar trabalho, família e amigos; ou mesmo abrir mão da tão confortável e cômoda solidão, companheira já indispensável para certos indivíduos. Todo este imenso preâmbulo é apenas para contar a história de uma figurinha folclórica de minhas relações. Intocável em seu apartamento-refúgio, Carla C. costuma dispensar noitadas e compromissos sociais para divagar a respeito do próprio umbigo. O voto de silêncio, no entanto, às vezes insiste em ser quebrado nos momentos mais inapropriados do dia - e é aí que entram eles, os tão injustiçados e discriminados profissionais do telemarketing. Carla C. optou pela carreira solo na maioria dos momentos de sua vida, mas há aquelas horas cruéis em que nada pode ser melhor do que um dueto afinado. E os prestimosos meninos do telemarketing estão aí para isto, não é mesmo? Num almoço informal com amigas, Carla C. conseguiu a proeza de manter um diálogo consistente, com participação efetiva de ambas as partes, de 15 longos minutos com a representante da bandeira de seu cartão de crédito. Em outra ocasião, sozinha em seu apartamento, ela manteve uma séria e produtiva conserva de nada menos que 30 minutos com a moça da central de relacionamento da operadora Vivo. Ela se justifica: "Só ajudo a manter este fabuloso nicho de mercado de trabalho, o telemarketing. Além do mais, aproveito para esclarecer dúvidas cruciais a respeito dos serviços que utilizo", argumenta. Para mim, a situação pode ser classificada como uma espécie de síndrome da abstinência da fala às avessas, ou simplesmente o cúmulo da solidão... (by Cíntia T.)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito Bom, ótimo ! Me matei de rirrrr !!! hahahaha ! Parabéns e sucesso !