Finais de semana são o dolce far niente proletário, tempo de
nos debruçarmos apenas no que mais nos dá prazer, ou, é claro, de não fazer absolutamente
nada. Alguns cozinham, outros entortam o caneco, muitos saem a passeio, e tem
os que escolhem a ociosidade concedida a nós trabalhadores para transar
ruidosamente ao meio-dia de domingo.
Moro em um condomínio imenso e não posso me dar ao luxo de
muita privacidade. Os prédios são bem próximos uns aos outros e se o vizinho do
lado espirrar, já vou pondo a máscara rapidão porque o vírus não tá pra bobeira.
Esse ~impeditivo moral~ que me impede de andar nua dentro do
apê ou gritar a plenos pulmões durante uma discussão qualquer também tem lá
suas vantagens, porque sempre há os que não dão a mínima para a opinião e os
ouvidos adjacentes, e aí o big brother tá garantido. Não vou negar que sou uma
observadora contumaz da vida alheia.
Briga de casal não me agrada, é lógico. E se a briga envolver
um homem e uma mulher não hesito em passar a mão no telefone e chamar a polícia
se sentir as coisas esquentarem. Porque espancadorzinho de merda tem é que se
foder.
Mas falo de outras situações interessantes que não envolvem
briga e/ou violência. Como o sexo, por exemplo. Ao longo da vida tive a sorte
(ou o infortúnio? Nunca saberemos) de me avizinhar de gente fogosa, cheia do
borogodó e do amor pra distribuir. São tantas histórias calientes que só
Afrodite na causa.
Como no último domingo. Enquanto assava um rondele cremoso
no forno e bebia uma cerveja na sacada, observando a tranquila movimentação de
crianças e cães pela área comum do condomínio, fui surpreendida por gemidos femininos
lancinantes de puro deleite sexual. Alguma privilegiada largou mão dos eventuais
afazeres domésticos dominicais e caiu nas graças de Bilquis em pleno almoço. Confesso
que salivei, invejosa.
Mas a invejinha logo deu lugar ao constrangimento porque,
assim como eu, outras pessoas também curtiam o domingão na sacadinha. Com a
sanha voluptuosa e bem barulhenta da vizinha, todo mundo subitamente resolveu avaliar
o piso da sala bem de pertinho, ou lembrou que a panela de arroz queimava no
fogão. Não dá pra manter a pose de vizinha simpática e cachaceira quando a
trilha sonora é ao vivo, x-rated e cheia de paixão e loucura, né?
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