14.10.07

A chapa, o falecido e o cachorro

Momentos difíceis, aqueles... há coisa de cinco anos (ou mais, ninguém lembra ao certo), monsieur Joseph, patriarca do Clã Rosa, acamado e indisposto como estava, sofreu uma piora em seu estado de saúde e foi levado às pressas para a Clínica Santé (reduto dos ricos e elegantes destas plagas). No corre-corre do atendimento, as enfermeiras, muito solícitas, retiraram cuidadosamente o aparelho ortodôntico de sir Joseph - sua dentadura, ou ponte, como era chamado o artefato, carinhosamente - e a entregaram à filha e primeira-herdeira Andrea Rosa. Levemente nauseada (Déia é dada a frescuras, onde já se viu?), a moça tascou a dentarada na mesinha mais próxima da clínica. Atordoada pelos últimos acontecimentos, acabou esquecendo-a ali.
A história poderia ter terminado deste jeitinho, mas não. Quando se trata do Clã Rosa (ou do Clã Teixeira, whatever) nada é suficiente.
No dia seguinte, atarefada com uma série de compromissos, princesa Déia e Madame, sua eterna companheira (não é, Kátia?) dirigiam-se à agência do CitiBank mais próxima para sacar algumas malas de dinheiro quando ambas foram interpeladas por uma jovem senhôura. "Moça, não é você que tá com o pai mal, doente no hospital? Então, o meu também tá lá, e ontem eu te vi lá perto da UTI. Você esqueceu a dentadura dele". Não bastassem as lágrimas em profusão de Déia ao lembrar do incidente, a moça ainda põe a mão em sua própria bolsa e retira dali, sã e salva, uma rosada dentadurinha cheia de dentinhos (ou aparelho ortodôntico, como queiram), que era lavada diariamente com o bom e velho escovão do tanque. O mimo foi direto para a valise importada de Madame Louise.
Infelizmente a boa ação não foi necessária. Monsieur Joseph não resistiu e acabou falecendo, ao longo daqueles dias difíceis. Ao se tomarem as providências quanto ao traje fúnebre que seria posto no bom homem, Madame e Andrea lembraram-se, tardiamente, da tal dentadura, que jazia, murchinha, sobre a mesa da cozinha. Ao interpelarem o jovem da capela mortuária, foram tranqüilizadas: a boca do falecido não penderia, murcha, sem a chapa, na hora do velório. No lugar do adereço, colocaria-se muito algodão dentro da boca, para dar um up nas belas feições de Joseph.
Ao retornarem, ambas, para Mansão Rosa, em busca de mais alguns detalhes, surpreenderam-se com o bom e velho Chico, que Deus e São Francisco de Assis o tenham no céu. Chico, velho de guerra, havia subido à mesa da mansão (hábito do pobre cachorrinho) e, numa forma de homenagear seu querido dono Zé, exibia entre os próprios dentes caninos a dentatura do morto, espécie de sátira bizarra. Para tirar a chapa da boca foi um trabalho. O aparelho foi devidamente enterrado por Madame no quintal, para tristeza de Chico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pq o Clã Rosa tem essas histórias inacreditáveis né?
E o pior: é tudo verdade!!!
Eu sou prova viva da maioria.
Bjos,
De.