11.6.07

O amor que não ousa dizer o nome

O amor não tem idade. O amor não tem fronteiras. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece. É o fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente, e blábláblá, blábláblá. Quis Deus, um belo dia (e que me perdoem os puristas e os cozidos no preconceito que corrói) que homens nutrissem sentimentos mais do que fraternais, uns pelos outros. E quando digo homens, digo homem x mulher, mulher x mulher e homem x homem. Isto para não citar combinações das mais variadas, que envolvem vibradores, baobás e até uma garoupa prenha.
Algum dia, no futuro, uma categoria específica de amantes ganhará o reino dos céus ainda aqui, na Terra, e poderá, finalmente, demonstrar todo o seu amor de maneira pública, notória, afetada e purpurinada. Enquanto este dia não chega, estes amantes vão levando seus rompantes de paixão e desejo da melhor maneira possível, se esquivando da multidão enfurecida enquanto troca beijos calientes com suas almas-gêmeas.
Como meu amigo J.J.Boy. Aquele dia, no longíquo ano de 2001, parecia perfeito. Junto ao novo namorado, J.J. borboleteava faceiro pelas ruas de Floripa, sorrindo para as flores e dando bom-dia aos passarinhos. No fim da tarde, decidiram, os dois, dar aquela paradinha estratégica em uma simpática pracinha, na região central de nossa amada Ilha da Magia. Ao observarem o pôr-do-sol daquele ponto de vista privilegiado, ambos não resistiram à tentação e cederam a uma sessão hard-core de beijos e amassinhos tesudos. À flor da pele, J.J. e namorado já pensavam em partir para outra etapa da tiração de sarro e abrir braguilhas quando uma chamativa luz estroboscópica, ora vermelha, ora azul, cortou totalmente o clima de romance. Era um assustador camburão do tipo GRT da Polícia Militar. Sim, aqueles que sobem favelas matando geral, no Rio. De dentro, saltaram dois ou três belos espécimes masculinos, devidamente fardados de preto (só faltava a maquiagem-rambo característica), e lançando estremecedores gritos de guerra do tipo "mãos pra cima! Agora deitem no chão!". Com seus belos rostinhos angelicais colados nas lajotas da pracinha, J.J.Boy e o namoradinho permaneciam entre atônitos e aterrorizados. Afinal de contas, o que eram inocentes beijinhos de querer-bem?
De nada adiantou as tentativas gaguejantes de se explicarem. Cruéis, os PMs sarados revistaram bolsas, sacolas e pastas escolares, em busca de qualquer coisa comprometedora. Durante a longa e torturante revista, soltavam comentariozinhos irônicos e debochados sobre "as mocinhas" que namoravam tão bonitinhas na pracinha da cidade. Findo o castigo, os algozes finalmente permitiram que a duplinha enamorada se reerguesse e tentatasse recobrar um pinguinho de dignidade, onde quer que pudessem encontrá-la. J. e seu gatinho rumaram cabisbaixos e tristonhos para suas respectivas residências, naquele fim de tarde que subitamente se transformara de um doce e idílico encontro furtivo a um pesadelo atroz, vergonhoso e tão cheio de preconceitos arraigados. Mas um dia, ah, um dia...

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, coitado desse seu amigo. Ele não merecia isso... hahahaha