25.5.09

Casamento grego

Minha família tem algumas particularidades notáveis. No entanto, a praticidade para encarar alguns temas cavernosos é o que mais se ressalta. Aquele projeto não sai do papel? Descarte-o e inicie outro. Chateado com o emprego atual? Saia agora mesmo distribuindo currículos (essa é procê, Lô). Cansou do visual? Passe máquina zero. Não gosta da cidade onde vive? Afivele as malas que já estou chamando o caminhão do frete. Descasou? Ora, ora, case-se novamente! AGORA! 
Eu bem que gostaria de ficar no meu cantinho, sossegada e inexplicavelmente feliz com minha recente solteirice (inexplicável pros outros, não pra mim, mas ninguém me acredita...). Mas há a família. Ahhhh, esta família... promete não me dar folga enquanto eu não surgir, radiante, de aliança dourada no anular. 
Para ela (a família), não há felicidade fora dos laços sagrados do matrimônio. Mas meu problema não é exatamente este. Elas (as familiares) podem sim alimentar sonhos e devaneios envolvendo a minha pessoa, um altar, véu, grinalda, um belo noivo e uma gestação tranquila e bem-sucedida dois meses depois. Claaaro que podem. O problema é quando tentam pôr estes projetos em prática. 
Aí que minha formosa mommy surge para uma de suas hoje tão frequentes visitinhas com uma proposta "irrecusável": divorciado, um filho pequenno, engenheiro, "trabalhador" (destaque para trabalhador) e cheio de amor pra dar. Argh. 
Ela e minha adorável tia Madame Louise simplesmente não aceitam "não" como resposta. Eu devo justificar. Mas não o faço, porque não terminaria em menos de 12 horas consecutivas de violento parlatório. Aí dá-se o impasse. 
Quem já assistiu ao divertido "Casamento Grego" deve saber bem o que eu estou passando. Para desencalhar a solteirona, a família promovia um verdadeiro desfile de aberrações pela mesa do jantar, para ver se a moça se animava. É, se no fim da história eu encontrar um sujeitinho minimamente parecido com o galã do filme, dou-me por satisfeita.  
Solteiros, viúvos e divorciados da paróquia, corram! Vocês já estão sendo devidamente sondados. Bom, pelo menos por enquanto consegui driblar o engenheiro. Minha progenitora teve que admitir que ele combina mais com minha irmã...  

19.5.09

Mendicância

Era uma terça-feira de outono, de um longíquo ano de 1996, e eu me encontrava confortavelmente sentada em uma das janelas do edifício Portinari, na residência que me abrigou no primeiro ano de vida universitária, em Florianópolis. Esperava minhas adoráveis roomates para, juntas, assistirmos a novelinha das sete na nossa big TV de plasma (contém múltiplas ironias, como podem perceber). 
De repente, batem à porta. Dona G., hoje uma linda e jovem mamãe, chegava na companhia de dois desconhecidos, abraçados a uma garrafa do importadíssimo "Sanguê du Boá" e de uma colorida e apetitosa embalagem de Doritos "sabor pizza", que, evidentemente, tornou-se nossa janta da noite (universitários não têm lá grandes preocupações com índices nutricionais). Naquele momento entravam em nossas já animadas vidinhas Giu e Clarissa. 
Apresentações feitas, decidimos abrir o vinho, que foi delicadamente apreciado em nossas taças de cristal da marca Vigor (ou Parmalat, se não me falha a memória). Como éramos seis - destes, cinco mulheres afogueadíssimas e loucas para sair da rotina - a bebida não obteve sobrevida muito longa. Partimos para o Sanguê du Boá que repousava em nossa adega, este também rapidamente consumido. Aí surgiu a dúvida: o que beberemos daqui pra frente, que a noite é longa? 
Recolhidas moedas de todos os recantos e bolsos, partimos eu e Giu para o super-Amigo ao lado do prédio, na Esteves Júnior. Lá dentro, o perhaps. Possuíamos o suficiente para três garrafas e 3/4. Faltava-nos alguns meros centavos para trazermos, triunfantes, a quarta garrafinha do precioso líquido importado de Bento Gonçalves. 
Conversa vai, conversa vem, de repente, um "senhor" (hoje imagino que o homem deveria ter menos de 40, mas para meninas de 18 incompletos...) nos interrompe e, apressado, despeja moedinhas suficientes para o "troco de bala". 
Não chegamos a pedir, mas certamente nossas conversas já alteradas no corredor e nossas mãozinhas estendidas, contando moedas, inspiraram o generoso homem a fazer sua contribuição ao alcoolismo juvenil. Saímos faceiros como andarilhos que ganham o suficiente para mais um trago de Velho Barreiro. 
Os vinhos foram consumidos como encontrados nas prateleiras do super - temperatura ambiente - e aí você calcula uns 20, 22 graus. Ganhamos a noite. 
Não vou nem relatar o momento em que Giu, incentivado pelas meninas, surgiu montado com a mini-mini-minissaia de Janete. E nem quando, semi-inconscientes, rumamos para o bar mais ilhéu da Ilha (hein?). Nunca uma esmolinha foi tão bem aproveitada... 

12.5.09

TPM, esta maldita (ou Carefree é frescor)

Dores por todo o corpo, enxaqueca, humor canino, irritabilidade, nervos à flor da pele, choro incontido. Não é fácil ser mulher, senhores, definitivamente. M. contou-me que no fim de semana chorou de soluçar e arrumou briga com o noivo, "este santo homem", só porque deu vontade. "TPM, nega", confidenciou-me. Eu já havia adivinhado. Charlotte, aquela diaba, já bateu boca com o caixa do supermercado (sempre ele), xingou um mendigo folgado na rua, chutou cachorro para em seguida cair em prantos abraçada ao pobre animal, não foi a festas, pediu dispensa do trabalho, tudo por conta dela, o terror de 85 entre 100 mulheres (chute baixo), a Tensão Pré Menstrual. 
A medicina não confirma, mas é muito provável que mulheres saltitem à beira do abismo da loucura crônica durante estes intermináveis dias. Basta um escorregãozinho, facilitado pelo salto 15, para se atirar de vez no universo da insanidade total. "Na TPM, sou bipolar", ouvi por aí, dia desses. 
Tem gente que exagera. Ou porque sofre de menstruação desregulada ou porque simplesmente usa a TPM como justificativa para suas pequenas loucurinhas do dia-a-dia (desconfio seriamente disso). Tem também as que morrem de medo dos maléficos efeitos desta tensão maldita que vivem de absorvente e à base de Ponstan praticamente o mês inteiro. 
Caso dela, a vítima number one desta praga feminina: Charlotte, a morenaça belzebu. Dia desses combinamos uma sessão mesa de bar básica para pormos assuntos em dia. De repente lá vem ela, afobada, seca para agarrar seu copo de cerveja, já previamente servido (que ela não gosta de esperar nem de pedir). 
A paranóia menstrual, no entanto, vinha estampada na cara - ou melhor, no bolso. Do bolsinho do casaqueto preto de cashmere da fina brotava um pacotinho branco bastante suspeito. Ela fala, cumprimenta, beija, confraterniza, bebe, parabeniza pela passagem do meu aniversário, e o pacotinho lá, praticamente saltando na nossa cara. Não resisto: "Um modess", declaro, pescando-o com a pontinha dos dedos. "Ai, guria, tô na TPM. Tá pra vir. Encerra este assunto", exige ela, pedindo que eu esconda o carefree providencial na minha bolsa. 

3.5.09

É o fim (ou Como recompor um coração partido)

E depois de (quanto?) cinco longos anos, acabou. Acabou assim, relativamente fácil, relativamente rápido, quase que indolor. Sem discussão, gritos, pranto incontido, sem desespero. Porque finalmente concordamos que já não era possível continuar juntos; porque o amor transformou-se em qualquer outra coisa entre a amizade e o bem-querer; porque já passava da hora de trilharmos caminhos diferentes. 
Restei eu neste apartamento - agora tão grande - e não pude reprimir uma lágrima furtiva quando vi que sua escova de dentes já não repousava mais no armário do banheiro. 
Foram muitas as histórias, muitos os "momentos mágicos", quando pensávamos que não podíamos ser mais felizes, muitos os planos, risadas, carinho, companheirismo, troca de confidências, jantares, cafés da manhã, briguinhas, brigonas, enfim, tudo aquilo que faz com que casais enamorados sejam pessoas tão especiais - e que simplesmente desaparece quanto acaba o sentimento. 
Eu agora estou profundamente triste. Triste porque meus planos fracassaram, porque não consegui fazer funcionar. Mas passa - e devo ressaltar minha poderosa capacidade de recuperação. Eu hei de me reerguer. 
Ainda ontem quis ouvir música e dancei freneticamente, sozinha, por horas a fio, na minha sala de estar - inconscientemente, já tentando afastar meus demônios e espantar uma tristeza pesada que já vinha se estabelecendo muito antes do fim propriamente dito. 
Eu queria chorar, mas estou muito frustrada para isso. Ironicamente, amanhã "comemoro" mais um aniversário. Sozinha, após cinco bons anos. E antes de me acabar em melancolia, recorro ao mantra mágico "Vai passar, vai passar, vai passar..."