14.7.10

Pela dignidade virtual ou Vista-se ao ligar a cam

Sammy é um guri antenado. Quer ver as fotos da Cleo Pires pra Playboy? Pede pra ele. O último viral bombado da world wide web? Deixa com o Sammy. Quer levantar a ficha de qualquer indivíduo por aí que lhe despertou curiosidade? Ask to him.
Samuca é proprietário de farto material cibermidiático de conteúdo digamos que... impróprio para menores. Marias-chuteira, capas de revistas masculinas, sex tapes vazadas no Youtube, twitcams com exibições despudoradas, vira e mexe ele aparece com uma novidade.
O Samuca tinha o vídeo daquela galera da cooperativa tubaronense em atividades pouco convencionais realizadas durante um curso em Florianópolis; ele também tinha o dossiê Elisa Samudio (fotos e videos). O vídeo da garota pagando a aposta pro gurizão, as fotos da Larissa Riquelme e, se bobear, até imagens da Sandy nua o Samuca tem e/ou já viu.
Sammy costuma dizer, com muita sabedoria, que o computador é uma janela para o mundo instalada no conforto de seu lar (ou escritório, ou sala de aula, whatever). Aí que, evidentemente, ele também tem percebido a revolução sexual provocada pelo advento da internet e pela "maldita inclusão digital", como ele mesmo gosta de denominar.
"Vez em quando eu entro numa destas sala de chat pra dar aquela zoada. Cara, só trocar três palavras e a criatura do outro lado do pc liga a cam e abre as pernas. Na hora. Sem grilo", conta ele, descrevendo, em seguida e com minúcias, toda a exuberante anatomia dos mais variados tipos de mulher existentes neste Brasilzão de meu Deus, todas as cores, credos e estilos de depilação possíveis. Não, Samuca não conta vantagem, até porque ele nem se identifica nestes chatlines. Só revela que é homem. E basta. Desespero, teu nome é mulher.
Mas nem precisa ir muito longe nos relatos de Sammy. Dia desses e uma criatura me add no msn. Como sou mulher trabalhadora e cheia dos contatinhos, adedei. E aí vem o papo: "Oi, amiga!". Um segundo depois, pipoca a frase: "Sou gay". Aliás, a única coisa que o rapaz sabia escrever certinho era a palavra gay.
E aí começou com uma ladainha que ó, vou te dizer, só não dei block em 10 segundos porque era de uma riqueza e de uma exuberância que me fez salivar no teclado. Contou tudo, toooooda sua agitadíssima vida sexual. Tudo. Sem eu perguntar absolutamente nada. Contou que sai com horrores de homens muito bem-casados, contou que já foi no motel novo aqui da grande Shark city ("Amiga, um luxo, tem até tv de lcd na banheira"), contou que seu maior sonho é fazer bem bonita na frente de uma "amiga" (ok, nesta hora deu uma mini-gorfadinha).
Eu já ia recomendando cuidado e atenção com toda esta parafernália digital da qual, mesmo sem querer, podemos nos tornar vítimas quando ele lança: "Mas não me preocupo com isso não, AMIGA" (é, ele repetia o AMIGA a cada vírgula, apesar de não usar vírgulas). Foi quando mudou a fotinho do perfil: "Vê se tu me conhece aê, AMIGA".
Choque.
O garoto em questão era um colega de escola, daqueles que ninguém guarda qualquer espécie de recordação, feioso, freak, pele ruim, dentes idem, que sobreviveu à época escolar arrastando-se anonimamente pelos corredores, sempre sozinho. Mas EU lembrava dele (esta minha memória às vezes me aflige). Cortou-me o coração. Aí sim resolvi dar block.