21.12.10

Reminiscências de 2010

E então você se percebe pensativa na época mais feliz do ano porque o amigo querido do coração de mil anos a destrata como se lixo fosse, porque uma bichinha pocpoc fez pouco caso de sua onipotência, porque a chefe cobrou algo que não pode ser pago, porque o fim da linha se aproxima galopante. É época de festas, pernis, maioneses elaboradas, arrozes a grega, espumantes em promoção, presentinhos da Natura e da Cacau Show, mas você só consegue pensar no rumo que sua vida deverá seguir quando voltar de Paris.
É, amigos, porque eu sou pobre (mas limpinha), fodida e com a corda no pescoço, mas vou me divertir na cidade luz em fevereiro, portanto, até lá, dane-se o mundo, com seus tsunamis de ocasião, guerras civis, wikileaks, Tula Luana, Aretuza, tetinhas de Susana Vieira, 2012 e afins.
Anyway, caso não seja raptada por um francês charmoso, limpinho (faço questão, eis a dificuldade) e minimamente inteligente (e caso o namorado permita o sequestro), eu hei de voltar para minha vidinha mais ou menos em Shark City, onde amigos cospem no confessionário onde despejaram suas mais secretas ansiedades e paranoias, onde para ser relevante (ou pensar ser relevante) é necessário lamber as bolas das autoridades estabelecidas, onde contestar é sinônimo de afronta moral.
É difícil chegar aos (oooooops!) 30 anos (e mais alguma coisa) e verificar que sua vida não caminhou do jeito que deveria ter sido, e perceber que só uma reviravolta estilo twist, do cinema, conseguiria fazer a diferença.
Mas eu não sou assim de desistir tão fácil (hum-hum, mentira!), ou, melhor dizendo, algo muito estranho que habita minhas entranhas me diz constantemente que devo relaxar e acreditar que coisas melhores virão. A merda é que eu me influencio por esta previsão picareta auto-infligida e bóra acreditar piamente que, daqui a dois, três meses, as coisas mudarão de figura.
A merda é que nem dá pra apelar pra ironia extrema, visto que, repassando o passado não tão distante, as coisas realmente mudaram de figura, de quando em vez (pelo menos pra mim). É o que me leva a alimentar certa fé.
Nunca fui de amarrar bode por conta de fim de ano, acho uó depressão pré-réveillon, mas fica aqui meu desabafo contido (poderia ser pior, sério!) por conta desta época do ano tão significativa. Anyway, bóra preparar os petiscos pra servir pra moçada faminta que vai invadir meu espaço neste fim de semana. A dica? Farofa de banana. Mammy aprovou ano passado, vou repetir caso ela não insista em ganhar um neto nesta altura do campeonato.

5.11.10

Assalto frustrado

A noite estava agradável, propícia para aquele pulinho ao restaurante/bar/boate mais próximo. O clima de guerrilha provocado pelas eleições havia arrefecido, todo mundo só pensava mesmo em se jogar na cerveja gelada e papear gostosamente com os amigos. Chegamos à pizzaria, eu e a família do meu homem (hahahahhahah, eu tento parecer séria, mas me dá engulhos só de escrever "meu homem", que coisa cafona...) e pedimos uma rodadinha básica, com coca-cola zero que é pra manter a cinturinha de buj... quer dizer, de pilão.
Conversa vai, conversa vem, planos sonhadores para a viagem que se aproxima, sonzinho rolando bacana, o sogro até arrisca cantarolar junto com o crooner: "...nosso apartamento... um pedaço de saigon-on-on".
Eu estava sentada bem no fundo do restaurante, de costas para a entrada. E só percebi certa movimentação quando todos os olhos já se fixavam em uma criatura com uma camiseta enrolada na cabeça, caminhando, decidido, rumo ao caixa do estabelecimento. "É um assalto", o namorado solicitamente me informou, e eu já jurando que era uma performance teatral daquelas, cujos atores fazem três piruetas e duas falas, ninguém dá bola, e depois vêm pedir dinheiro na sua mesa.
Não consegui entender direito, quando me virei pra acompanhar o movimento o garoto já saia porta afora. Ficava difícil acreditar no potencial marginalístico do gurizinho, que não devia ter mais que 16 anos, dava vontade de estapear a cabeça e mandar ir dormir sem tomar nescauzinho.
Mas você manja só o perfil pacífico da cidade (que de pacífica não tem mta coisa, já fui assaltada a mão armada DUAS vezes em Shark city, e homicídios pululam por aí). Quer dizer, pacífico é o perfil dos moradores de Shark, não habituados com situações como estas. Geral simplesmente ficou cantarolando Emílio Santiago, mordiscando suas bordas de cheddar e nem tchuns pro piá (na verdade, eram dois meninos, eu tive a incrível capacidade de não ver o segundo indivíduo).
E o que rolou é que o assalto simplesmente NÃO ACONTECEU. Yeah. Os delinquentes foram solenemente ignorados e acharam de bom tom dar no pé antes que alguém os deixasse de castigo, ajoelhados no milho.
Até chegaram a chamar a polícia, e tals, só pra fingirmos, coletivamente, que tinha sido algo relevante. E poderia: dizem que um dos garotos estava armado, mostrou o brinquedinho pra quem quisesse ver - nada muito diferente do que uma pistolinha de 1,99.
Poderia ter dado bem certo (se o som estivesse mais baixo, talvez todos tivéssemos escutado o "é um assalto" da dupla). Caso o pânico se instaurasse, os guris levariam uma boa soma pra casa - pensa no conteúdo de umas 50 bolsas e umas 50 carteiras, no mínimo, fora a soma do caixa? Mas eles calcularam mal. Entraram com rosto coberto, tentaram intimidar com a pistolinha de plástico mas... a camiseta. A camiseta enrolada na cabeça do menino. Aquilo ali não era um assaltante nunca na vida. Branquíssima, lavadinha, devia ter cheirinho de amaciante, cuidadosamente passadinha por mamã. O garoto devia ter até talco e hipoglós no meio das pernas. Dica para o assaltantezinho de araque: tente parecer mais perigoso, menos filhotinho indefeso. Como já disse, fui assaltada duas vezes, sou expert no assunto, e aparência conta muito, nesta hora.

13.9.10

Velha infância

Laurinha P. veio com mais um meme bacaninha pra gente quebrar a cabeça e pensar na vida. Este diz a respeito das coisas bacanas (ou não tão bacanas) da infância. Here we go:

1) Coisas que tive e adorava
Ainda esta semana, conversando com mamã, falei de meu desejo de adquirir novamente o jogo "Pulo da Aranha", que ganhei aos sete anos, e que me fez rir e chorar e ser o centro das atenções nas festinhas de família. Minha mãe garantiu que este tipo de desejo passa após ter um filho (ela e todas as suas chantagens pró-procriação...).
O jogo era muito bacana, uma imperceptível tremidinha de mão fazia a terrível aranha de pelúcia pular em sua jugular. Queria, tipo, pra ontem, porque garanto que ia levar os mesmos sustos.



2) Coisas que queria muito, mas não tive
Meio clichê, mas eu queria muito a casa da Barbie que custava, tipo, o valor de um carro usado (mas em bom estado). Aquela casinha da Moranguinho, em formato (é claro) de morango, também figurava nos meus ardentes sonhos de consumo infantis.



3) Uma lembrança boa
Felizmente, minhas lembranças de infância são, invariavelmente, boas. Brincar de "pé na bola", me arrumar pra ir a uma festinha de aniversário usando a minha indefectível salopete cor-de-rosa. Ficar até tarde na TV vendo SuperCine com mamã. Tomar sorvete de gelo e achar uma delícia (tomar suco de pacotinho - leia-se Q-suco - e também achar uma delícia, argh).

4) Uma lembrança ruim
Quando arrombei o joelho caindo da árvore, na casa da minha tia, na longínqua Capivari de Baixo. Sangue quente e espesso perna abaixo, a tia cheia dos compromissos tendo que me levar pro hospital pra fechar aquela cratera. Cinco pontos.

5) Coleções
Papel de carta, néam? E alguns álbuns de figurinhas (como as da Rainbow Brite, cheirosas e de cores psicodélicas, embora eu não soubesse o que era psicodelia, thanksGod).



6) Ídolo da época
Ai, tive que quebrar a cabeça pra pensar, mas acho que era o Indiana Jones. Ah, e o Christopher Reeve, em Superman (nossa, agora entreguei a idade legal). É, eu sei. Era melhor ter dito a Xuxa, né? Mas não vou mentir...



7) Programa favorito da época
Tá bom, era o da Xuxa. Mas só pelos desenhos. Get along gang rules!



8) A moda mais legal que usei
Polainas.



9) A moda mais brega que usei
Que eu NÃO usei, melhor dizendo. Saia balonê. Feio até pra criança.

Nem vou indicar alguém pra responder. Se curtiu, sinta-se à vontade.

8.9.10

Festa de formatura

A decoração é exagerada; os discursos, longos e enfadonhos, os trajes são cafonas, a trilha sonora é de embrulhar o estômago, mas não tem jeito: bailes de formatura são garantia de diversão ou o dinheiro da rolha de volta. O mais curioso: festas assim são exatamente iguais umas às outras. Idênticas. E não importa se você se formou há 15 anos ou pretende colar grau só em 2016 - a comemoração você já conhece.
Começando pela colação de grau, quando você descobre em poucos minutos quem é o estudante mais popular da turma e quem é aquele pra quem ninguém dava bola, o sem-amigos e sem torcida. Colação é foda: você se emociona com a conquista de seu amigo/parente/, e tals, mas ter que aguentar todo aquele discurso padrão não é moleza. Enfim, centenas de bocejos depois, e com a maquiagem já escorrendo, é que realmente começa a festa.
Porque a magia de uma festa de formatura está no desenrolar do baile. E ninguém sabe explicar porque alguns bailes são ruins e outros considerados muito bons, já que o roteiro é estritamente seguido a risca, sempre o mesmo. Vai do estado de espírito e do teor alcoólico do sujeito, acredito. Importante salientar que as observações abaixo foram feitas durante a melhor formatura dos últimos dez anos, da minha querida pérola negra Rúbia (parabéns, amore!, de novo).
A banda começa com a valsinha, um Frank Sinatra aqui, um Glenn Miller ali, todo mundo tentando parecer um pouco controlado, o randevú só está começando. Fotos familiares feitas, é dada a largada, e o bandleader invariavelmente sai com algo do tipo "whisky a go go", pra todo mundo entrar na onda e cantar junto coisas como "eu perguntava: do you wanna dance? E te abraçava (do you wanna dance?)". Aí entra as mais babas de Beatles (e bóra todo mundo jurar que dança twist), um pouquinho de ABBA, algo do Queen, nada de novo debaixo do sol.
A putaria começa com os "hinos" (como diria Lu, em posição solene, com a mão no peito) "It's raining man", "I will survive" e "Y.M.C.A.". É incrível como um bando de gente ainda diz haver preconceito contra gays no mundo: não tem UM suposto hétero que fique quietinho na cadeira com estes hits. E dá-lhe coreografia com os bracinhos. Aliás, o momento "gay" do repertório musical está sendo levado tão a sério que tem até figurino especial: a banda toda com perucas coloridas (ops, gays não são palhaços, #fail).
Naquela hora que eu já estou pensando em tirar as sandálias discretamente e massagear meus pezinhos doloridos por debaixo da mesa, começa a muvuca: axé music. Ah, que inferno. E que inferno adorável, como deve concordar @joaojoenck. "Sou praieirô-ô, sou guerreiro, tô solteiro, quero mais o que?"... Que beleza, que riqueza de letra, que poesia!
Ah, mas não basta o axé. Uhum. Nada é suficiente. E agora contamos com a magia dos forrós (ou qualquer que seja o gênero musical de bandas como Calypso ou Calcinha Preta, juro que googlei mas não encontrei nada). E aí de repente o universo inteiro pára pra você ouvir, pela primeira vez na vida, esta pérola: "Ela sai de saia, e de bicicletinha, uma mão vai no guidom, e a outra tapando a calcinha". Uma pequenina lágrima percorreu meu rosto angelical, borrando todo o rímel. Senhores, estamos lidando com gênios letristas da MPB.
E quando você pensa que nada mais pode te surpreender (já que até vanera você dançou com o amigo pé-de-valsa), de repente seus olhos encontram a joia rara da noite:


(infelizmente, o choque foi tanto que não consegui fotografar a original, mas é bem por aí, um misto Kaoma, Joelma e ringue de patinação americano)
Aí já passava das quatro da manhã e provavelmente se tratava de alucinação coletiva. Porque, né? Não é possível.
Tem coisa melhor do que um bom baile de formatura?

2.9.10

Cabelo

Eu vivia perfeitamente bem com meu cabelo até chegar perto dos 30. Aí o bicho degringolou - ou fui eu que me tornei mais exigente, acho que um mix das duas coisas. Meu cabelo tem frizz. E achata bem em cima da cabeça. Sabe aqueles dias em que você acorda, se olha no espelho e já diagnostica: hoje meu cabelo não vai colaborar comigo? Então, o famoso "bad hair day". Pois comigo não existe isso, existe o "good hair day". Porque de vez em quando meu cabelo resolve ser querido comigo. Mas só bem de vez em quando. Gasto milhões de dólares com meu cabelo (ai, que mentira), mas até hoje, nenhum resultado realmente positivo (espero que Laurinha resolva meu problema!).
Pois bem. Mas o drama maior da minha experiência de vida capilar ocorreu na infância, e acredito que quem tem mais ou menos a minha faixa etária saiba do que estou falando. Porque nós tínhamos os famosos cortes "Chitãozinho e Xororó", modernosamente chamados, na época, de moicanos. Tínhamos o corte "cuia", cujo formato era basicamente o resultado obtido após se colocar uma cuia na cabeça e passar a tesoura no que restava, do lado de fora (também jocosamente apelidado de "corte penico"). Tínhamos a franjinha, os cortes joãozinho, perversamente escolhidos por algumas mães para erradicar a piolhada, mas que infelizmente só serviam para estimular a sapatice latente nas meninas. Ah, e tínhamos os glamourosos acessórios: tiaras forradas e gigantescas, flores de plástico imensas, trecos fluorescentes. Um horror.
Lembro que, aos 12, consegui deixar meu cabelo bem compridinho e, influenciada pela prima, adentrei, soberana, em uma cabeleireira de fundo de quintal munida do dinheirinho contado para pagar o haircut. Era moda, boba, e ela me aplicou o Chitãozinho - e porque EU pedi. Cara, foi traumático. No fim das contas a própria cabeleireira começou a rir e disse que parecia ter sido cortado a foice. A foice. Ouvi muito esta expressão nos meses subsequentes.
Agora soube de uma historinha cabreira: menininho é hostilizado no colégio por ser o único entre os guris a não adotar o corte de cabelo "Justin Bieber". Que é, basicamente, um corte cuia estilizado. Pensei em dizer a ele para contar no colégio que Justin Bieber é gay, mas vai que ele apanha, né?
Com a história, desencavei mais uma passagem maligna do passado, com relação às minhas madeixas. Certo dia, por volta dos dez anos, por algum motivo desconhecido mamã mandou ver no corte cuia pra primogênita aqui. Tudo bem, tinha uma novela cujo personagem exibia o mesmo corte, deve ter sido por isso (ou foi crueldade mesmo). Ai fui dar aquela voltinha na rua, pra me exibir. E uma vizinha (pouco mais velha e meio agressiva) passou de bicicleta, cantou o pneu, parou na minha frente, apontou o dedão e ficou gritando: "AHAHHAHA, Juruna, Juruna, Juruna!". Eu não sabia direito quem era o Juruna na náite, mas sabia exatamente do que ela estava falando. Sofri como sofrem as crianças vítimas de bullying.


O corte da moda...


... e o personagem sensação dos 80's. Mães, não deixem seus meninos fazerem isso.

1.9.10

Mascaradas

A muiézinha já acorda atrasada, com os bofes pra fora, cheia dos compromissos inadiáveis, reuniões, agendas a serem cumpridas, horários, negócios. Mau humor contagiante. Resmungos, palavrões sussurrados, "cadê a porra daquele sapato?", esgares coléricos.
Mas aí é o momento de abrilhantar os ambientes com seu sorriso perolado, então bóra reforçar a maquiagem, caprichar no batonzinho, sorrir e cumprimentar a todos obedientemente, trabalho é assim mesmo e ninguém merece ser tolhido por uma mala ranzinza. Aí é só sacar da máscara "Boooom dia, amiguinhos!!!".
Chega o momento do almoço, aquela pausa balsâmica que deveria oferecer equilíbrio e tranquilidade para enfrentar o turno subsequente, mas, qual? Você recheia seu prato no buffezão da esquina com montanhas de carbs, friturinhas mil e simplesmente esquece da salada (comer para compensar frustrações?). Mas não temos tempo pra remoer bobagens e você sabe que vai compensar o exagero com uma sopa rala no jantar (not). Então bóra fazer cara de gordinha feliz. Só sacar a máscara "Comi uma ceasar salad com chá verde no almoço e estou super relax".
À noite é a vez de dar atenção a ele (ou a ela, whatever - tudo porque detesto usar a palavra "cônjuge"). Muita paciência para ouvir o dia também atribulado do gajo, força para não despejar toda a sua mágoa de cabocla na cabeça do pobre rapaz, e, como diria Madame Louise, "ranço na cola" pra ronronar gostosinho no ouvido dele e pedir uma massagem nas costas. O momento é ideal para se cercar da máscar "É tempo de amar".
Taisinha, a reaparecida, observou sobre as inconstâncias no universo feminino, e do artifício das máscaras para estarmos sempre bem em todos os momentos da vida, quando, em alguns casos, a vontade é mandar tudo pra puta que o pariu.
Se você não se identificou com nada do texto e acredita que pode encarar o mundo de cara lavadíssima (ok, protetorzinho básico e gloss), parabéns! E já aproveito para te pedir a receita. Porque eu prezo muito por minha autenticidade, mas convenhamos que é hardcore engolir sapos alheios, aturar chatice e malice-sem-alça, inconveniências e afins com um eterno e imutável sorriso cor de carmim nos lábios, confessa.
Mulheres são atrizes natas. Ok, alguns homens também (e é aí que mora o perigo).

25.8.10

Nine things

A Maitê, do Penso em Tudo, inventadeira de moda que só ela, repassou a missãozinha-delícia em forma de meme para a Imediata aqui. A ideia é contar nove coisinhas que pouca gente sabe sobre você, segredinhos, manias, sentimentos ou bobagenzinhas quaisquer que nos fazem ser quem somos, diferentes mas igualmente interessantes. Quer dizer, a interessância aí vai ficar por conta do leitor, e já me arrependo de ter escrito isso, visto que minha vida e meu blog são livros abertos e não há muito que já não tenha dito por estas mal-digitadas linhas.
So, here go:

1. Eu realmente acho que vim ao mundo a passeio. Sim, eu levo as coisas a sério, eu trabalho, estudo, me esforço para concluir determinadas atividades fundamentais para o andamento da minha vida, mas tem alguma coisa, daquelas meio que inexplicáveis, que faz com que eu não encare quase nada com temor, receio ou tensão. A não ser ir ao dentista. Aí eu tremo na base, sempre.

2. Se você me perguntar qual meu "prato favorito" eu vou responder, cheia de bossa, que é salmão ou sushi ou alguma massa sofisticada, mas na verdade meu prato favorito é arroz e feijão.

3. Tenho pavor de hospital, mas sinto uma calma reconfortante (e absurda) em cemitérios (é, meio freak, isso, e juro que sem conotações góticas).

4. (essa é punk): Fui barrada na Palladium com 12 anos de idade. E todo mundo viu e vaiou. Acho que foi a maior vergonha que já passei na vida, tipo nerd em filme americano. Depois disso levei mais uns dois ou três anos pra tentar entrar em uma boate, e com o c. na mão. (ok, ok, podem falar, Palladium é das antigas, né?).

5. Eu não assisto o mainstream da Rede Globo e afins e já não me orgulho mais disso, porque me sinto cruelmente desatualizada e por fora das conversinhas de corredor. E conversinha de corredor é vida.

6. Eu não tenho inveja. Juro por Deus, e pode parecer que estou contando vantagem, mas eu não consigo ter inveja de verdade. De ninguém. Nem daquela amiga que estudou com você, casou com um sheik árabe charmoso, é dona de 18 poços de petróleo e esfrega logos de Louis Vitton e Chanel na sua cara.

7. Às vezes eu penso que poderia ter seguido carreira no Judiciário, ou me tornado uma cientista genética, o que, obviamente, me daria muito mais dinheiro do que ganho hoje. Mas aí eu percebo que seria opressivamente infeliz e me contento com o que sou hoje. É isso, eu me contento. Sempre. Não sei se isso é muito bom.

8. Eu acho que encontrei minha alma gêmea. E se for verdade, aviso: encontrar sua alma gêmea não faz de sua vida uma comédia romântica com final esplendorosamente feliz. Apenas te faz feliz (mesmo quando você está triste, se é que dá pra entender).

9. Uma vez eu roubei em um supermercado. E outra vez, roubei da mochila de uma coleguinha de classe. But it's ok, eu tinha menos de oito anos, e já ouvi falar que crianças costumam roubar, eventualmente. Um chicletinho de morango e figurinhas da Rainbow Brite, by the way. Mas sinto uma dor na consciência até hoje...

Acho que é isso. E, olha, gostei, viu? Terapêutico. Desencavar a história da Palladium foi um bálsamo para minha alma.

Agora passo a missão da revelação de segredinhos picantes para os seguintes amigos blogueiros:

Guigui

Chaps

Manu

Marcinha

Novochadlo (é, fia, eu sei que você já recebeu a missão, mas vale a insistência)

Rozeng (ok, meio fora do perfil do blog, but, whatever, encara assim mesmo!)

Marquinhos Vai atualizar este blog, criatura!

E as meninas do Cheia de Estilo. E este vale por duas, viram, Schneider e Fê?

24.8.10

A ladra misteriosa

Ela caminhava, faceira, pelo shopping Cidade Jardim, bolsa Kelly a tiracolo, scarpins Jimmy Choo saltitantes do piso de mármore, plocploc, plocploc. Saíra de sua confortável residência, a Mansão Rosa, no bairro Universitário, para dar aquela espairecida e adquirir mais algumas pulseiras de ouro – nossa heroína da ocasião tem como hobbie colecionar peças em ouro, porque, sorry periferia, ela pode.
O ar-condicionado central do estabelecimento deixava a temperatura extremamente agradável, mas Madame, que não é boba nem nada, não se desfazia de seu pullôver de cashmere caramelo, que lhe caia suavemente pelos quadris.
Tomou um sorvetinho da Gelateria Häagen-Dazs, fez uma apostinha básica na lotérica (que Madame é rica, mas também não quer deixar a sorte grande escapar assim impunemente), parou para um chá com biscoitos num bistrô até que sentiu aquela pressãozinha na bexiga: “Preciso ir ao reservado das senhôuras”, pensou Madame, dirigindo-se apressada para o banheiro.
Lá chegando, cerrou a porta, jogou displicentemente sua Kelly ao chão, desabotoou sua calça de linho egípcio e, quando se preparava para despejar as primeiras gotículas de urina na privada, percebeu, não sem espanto, uma mão. Sim senhores, uma mãozinha malandra esgueirava-se por debaixo da divisória do banheiro. “Por que será que eles não fecham a porta até o chão?”, reclamou Madame, horas depois.
Pois foi por aquela pequena abertura na parte inferior do reservado que uma gatuna tentava surrupiar os ricos pertences de Madame Louise. “Segurei na borsa, bem firme, e só gritei: Vagabunda!”.
A ladra não retrucou. Permaneceu no banheiro até que Madame o desocupasse. “Queria era olhar na cara dela! E era rica! Com os dedos cheios de anéis de ouro”, garantiu Madame, que conhece bem o material, faceira por ter recuperado sua limitadíssima edição da Kelly by Hermés.
O único inconveniente foi que, com o flagrante, o ato de urinar não pode ser devidamente interrompido – lembrando que Madame pertence, orgulhosamente, à categoria da Melhor Idade, e foi mãe de três gorduchos filhotes. Ora, é claro que não se trata de incontinência, sejamos respeitosos! Mas cortar o fluxo no meio do caminho é tarefa para canais urinários mais jovens, convenhamos. “Me molhei toda. TODA. A sorte foi meu casaquinho comprido, de lã. Cobriu minha bunda. Só assim pude sair com dignidade do shopping”, relatou Madame.



Yeah, bab, she's back! Madame Louise passou por aqui para relatar mais uma de suas desventuras em série. Para os marinheiros de primeira viagem, importante explicar: madame é uma badalada socialite de Shark city, da mais pura linhagem Teixeira, protagonista e testemunha das mais alucinantes situações jamais imaginadas ever (interessados, conferir o arquivo que eu não sou escrava de vocês pra ficar lincando).

14.7.10

Pela dignidade virtual ou Vista-se ao ligar a cam

Sammy é um guri antenado. Quer ver as fotos da Cleo Pires pra Playboy? Pede pra ele. O último viral bombado da world wide web? Deixa com o Sammy. Quer levantar a ficha de qualquer indivíduo por aí que lhe despertou curiosidade? Ask to him.
Samuca é proprietário de farto material cibermidiático de conteúdo digamos que... impróprio para menores. Marias-chuteira, capas de revistas masculinas, sex tapes vazadas no Youtube, twitcams com exibições despudoradas, vira e mexe ele aparece com uma novidade.
O Samuca tinha o vídeo daquela galera da cooperativa tubaronense em atividades pouco convencionais realizadas durante um curso em Florianópolis; ele também tinha o dossiê Elisa Samudio (fotos e videos). O vídeo da garota pagando a aposta pro gurizão, as fotos da Larissa Riquelme e, se bobear, até imagens da Sandy nua o Samuca tem e/ou já viu.
Sammy costuma dizer, com muita sabedoria, que o computador é uma janela para o mundo instalada no conforto de seu lar (ou escritório, ou sala de aula, whatever). Aí que, evidentemente, ele também tem percebido a revolução sexual provocada pelo advento da internet e pela "maldita inclusão digital", como ele mesmo gosta de denominar.
"Vez em quando eu entro numa destas sala de chat pra dar aquela zoada. Cara, só trocar três palavras e a criatura do outro lado do pc liga a cam e abre as pernas. Na hora. Sem grilo", conta ele, descrevendo, em seguida e com minúcias, toda a exuberante anatomia dos mais variados tipos de mulher existentes neste Brasilzão de meu Deus, todas as cores, credos e estilos de depilação possíveis. Não, Samuca não conta vantagem, até porque ele nem se identifica nestes chatlines. Só revela que é homem. E basta. Desespero, teu nome é mulher.
Mas nem precisa ir muito longe nos relatos de Sammy. Dia desses e uma criatura me add no msn. Como sou mulher trabalhadora e cheia dos contatinhos, adedei. E aí vem o papo: "Oi, amiga!". Um segundo depois, pipoca a frase: "Sou gay". Aliás, a única coisa que o rapaz sabia escrever certinho era a palavra gay.
E aí começou com uma ladainha que ó, vou te dizer, só não dei block em 10 segundos porque era de uma riqueza e de uma exuberância que me fez salivar no teclado. Contou tudo, toooooda sua agitadíssima vida sexual. Tudo. Sem eu perguntar absolutamente nada. Contou que sai com horrores de homens muito bem-casados, contou que já foi no motel novo aqui da grande Shark city ("Amiga, um luxo, tem até tv de lcd na banheira"), contou que seu maior sonho é fazer bem bonita na frente de uma "amiga" (ok, nesta hora deu uma mini-gorfadinha).
Eu já ia recomendando cuidado e atenção com toda esta parafernália digital da qual, mesmo sem querer, podemos nos tornar vítimas quando ele lança: "Mas não me preocupo com isso não, AMIGA" (é, ele repetia o AMIGA a cada vírgula, apesar de não usar vírgulas). Foi quando mudou a fotinho do perfil: "Vê se tu me conhece aê, AMIGA".
Choque.
O garoto em questão era um colega de escola, daqueles que ninguém guarda qualquer espécie de recordação, feioso, freak, pele ruim, dentes idem, que sobreviveu à época escolar arrastando-se anonimamente pelos corredores, sempre sozinho. Mas EU lembrava dele (esta minha memória às vezes me aflige). Cortou-me o coração. Aí sim resolvi dar block.

28.6.10

Presente certeiro

Olha, eu tenho certa dificuldade em achar o presente ideal. Sabe quando você quer muito encontrar o mimo perfeito para aquele amigo, familiar, namorado, sobrinha? Então, invariavelmente, eu ferro com tudo, compro a coisa mais uó do planeta e sofro ao ver a cara de insatisfação dos presenteados.
Poderia dizer que me faltam recur$os mais polpudos para conseguir satisfazer na hora de presentear, mas seria ridículo, visto que, evidentemente, dinheiro não compra o melhor presente, e sim criatividade, carinho e conhecimento de causa (no caso, a causa é a criatura a receber o presente).

Mas acho que desta vez eu acertei na mosca:



(a autora deste post reconhece que TPM é assunto sério, e em alguns casos algo absurdamente patológico, não-contornável com o uso de chás, ponstans, analgésicos e bolsas de água quente na barriga. Em caso de TPM crônica, procure um médico)

18.6.10

Babacas

Eu conheço um monte de babacas. Sei lá, dezenas. Tudo bem, confesso que meu conceito de babaca pode ser um tanto quanto extremista, não costumo perdoar sentimentalismos baratos, draminhas pessoais enfadonhos, gostos exóticos (exóticos partindo do meu ponto de vista, o que é muito salutar), enfim, posso até disfarçar, mas me irrito profundamente com quem, por exemplo, continua twittando #calaabocagalvão ou #tomeiactivia. Babaca.
Babaca é o cara que se esgoela da janela do carro bem no seu ouvido gritando que o Brasil ganhou de 2 a 1. Você até pode estar feliz, mas nunca-na-vida iria entrar nesta vibe de encher o cu de cachaça numa terça à tarde, botar o rabão na janela do carro e circular pela única avenida da cidade tremulando a bandeirinha.
Todo o cara que buzina por mais de três segundos é babaca. TODO. E peço perdão se você é do time que gosta de enfiar o dedão na buzina por cinco minutos, mas você é um puta de um babaca, durma com isso.
Babaca é o sujeito que comenta em portais de notícias que, sei lá, por exemplo, "o Saramago tinha é que morrer mesmo". Se você quiser perder minutos preciosos de sua existência acesse uma notícia qualquer de um G1 da vida e observe os comentários. É de ferver o sangue.
Babaca é o cara que chora com a música "Pai", do Fábio Júnior (aliás, separou de novo, menina! Agora é sua chance, Charlotte!). Nem mesmo minha querida amiga Charlotte C., fanática pelo pai do Fiuk (descobri a paternidade ontem, choque!), que mantém em ordem cronológica todo o acervo mágico de LPs do homem, chora com "Pai". O cara que ainda verte lágrimas de tristeza pelos Mamonas e pelo Airton Senna também é bem babaquinha, né? Ah, pára.
Outra babacona notória é a gata que se faz de puritana, recatada, discreta e reservada, mas exibe uma foto de pernas arreganhadas no álbum do Orkut e/ou congêneres e de nick no msn atira um "tá calor, né? vou dormir nua". Ou a gata que não sabe falar (nem miar): a mulher que grita. Ai que ódio de mulher que grita. "Ai, páááááára, Otávio, tua barba tá me machucaaaando!", no meio do restaurante. Pior que a que grita é a que ri gritando. Do tipo que não pára até ter voltados para si todos os olhos do recinto. Um clássico.
O cara que fala alto no cinema, ou pior, o tipo que comenta o filme no meio do filme, em alto e bom som. A família que crê piamente que toda a humanidade ao seu redor tem que suportar seu filhinho recém-nascido e roído de cólicas, em local público. A galera que acha que as calçadas do Centro da cidade são passarelas, e não vias para serem percorridas rapidamente, de um ponto a outro, sem distrações (a não ser uma vitrininha ou outra, que ninguém é de ferro). Adolescentes (todos). A lista é imensa e desconfio que jamais terá fim.
Mas sem sombra de dúvida o pior tipo de babaca é o cara que didn't care pros outros quando se trata de gostos musicais. Que taca um Revelação, um Proibidão do Funk ou um Victor e Leo no talo em frente à buátchi, incorporando um Mr. DJ from hell. O cara que decide desenterrar um CD do É o Tchan bem em frente ao seu prédio, às três da manhã. Ou o cara que estaciona em frente ao bar de sua preferência, bem ao lado da sua mesa, e resolve seduzir com um CHITÃOZINHO E XORORÓ de 1986 no último volume. E que faz cara feia e ameaçadora quando você pede pro garçon ir reclamar. Ah, seu babaca cafona, vai tomar no seu cu e tira este fio de cabelo no meu paletó da minha cara!

(eu sei, admito que blogueiras extremamente críticas também pendam pra babaquice...)

Modinhas (ou Traz o balde)

Sério, eu preciso desabafar: como admiradora de moda, acompanho as coleções dos estilistas mais importantes do país - principalmente através dos blogs de moda - e admito ter, ao longo dos anos, aprendido muito sobre o tema. Também sabemos todos que você não precisa ser escravo das últimas "tendências" (odeio) para ter um estilo notável. E aí bóra deixar as estampas de oncinha e os leggings tigrados pra ex-BBBs e dançarinas de programa de auditório.
Mas confesso ter me decepcionado: não bastasse ter aceitado, não sem relutância, as ankle boots e o retorno das ombreiras (nãããão!), agora vejo com horror a glamurização da calça baggy/pescador, da meia-calça de estampado psicodélico e das terríveis CLOGS! O que me doeu profundamente é que blogueiras das mais queridas, super-referência em moda, para mim, recomendam fortemente toda esta mediocridade fashion. O pior: desconfio que apenas por serem amigas dos stylists responsáveis por tanta atrocidade fashion.
Porra, acho que tá faltando um pouquinho da criticidade americana: o cara vacila na coleção e a imprensa especializada não mede palavras. Mas, se faz bonito, também sabe valorizar. CLOGS?

Vamos dar uma olhadinha?



Varizes, fia? Bóra pro cirurgiã queimar?



Ah, pára, né? To-da-ca-ga-da



Ai... e é Ralph Lauren, tá?


Eu juro: vou estudar moda, arrumar um padrinho fashion icon e relançar a moda das polainas! (ops, tarde demais...)

10.6.10

Doctor Dolittle

O vizinho novo fala com o gato. Tá, grandes merdas, eu poderia dizer. Quem tem bichinho em casa sabe das dores e delícias que é conviver com um monstrinho peludo e indomável que em poucos dias de vivência torna-se senhor dono absoluto de seus impérios (no caso, os SEUS impérios, do humano supostamente dono da criatura). Claro que a Nina é minha dona, ama e senhora, e é com ela que eu passo um bom tempo batendo longos papos-cabeça, quando não tenho nada melhor pra fazer. Tipo, perguntar "a menina é da mamãe?" ad infinitum até o dia em que a sem-vergonha virar pra mim e dizer "não, porra, eu sou CACHORRO e você é gente (ou quase isso)", mas deixa quieto.
O negócio é que o vizinho novo, um homem adulto, faz vozinha de debilóide com o gatinho dele. E só então que eu pude perceber o quão ridículo é pagar de Doutor Dolittle assim, publicamente. "Bebê qué comê, qué? Bebezinho do papai...", em falsete e com uma overdose de meiguice e ternurinha embutidas que, ó, difícil não "gorfar". E aí lá vai ele pro microondas esquentar a papinha do bebê-gatinho, pelos miados exigentes de fome já nem tão bebê assim. Aí o bebê não come, ele volta, confere a tigela e replica: "Óin, o bebê não vai comer?" e remexe, remexe. Aí ele mesmo responde: "É que tem que ser fesquinho, né? Fesquinho". E bóra preparar outra tigelada no microondas. O bichano é exigente.
Aqui em casa não é assim não. Ração molinha só aos fins de semana e em datas especiais (tipo na Quarta-feira do Cachorro-Quente ou na Terça-feira de Big Bang Theory). E se roer a porta de novo, só ganha meio bifinho. E chocolate só depois do jantar!
Agora dá licença que vou lá dar um bifinho de peru pra menina da mãe...


"Bem fesquinho, né?"

24.5.10

LuluzinhaCamp

Interneteiras, blogueiras, twitteiras e viciadas em mídias sociais de toda a região, atenção: participem do primeiro LuluzinhaCamp catarinense, que vai acontecer no dia 19 de junho, em Tubarão.
O primeiro LuluzinhaCamp ganhou forma em agosto de 2008, em São Paulo, organizado por seis blogueiras. A proposta inicial era fazer um encontro anual reunindo mulheres que usam a internet (com blogs e outras ferramentas) para a troca de experiências ao vivo. Mas o negócio cresceu e hoje o evento é realizado regularmente tanto na Capital paulista quanto no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Juiz de Fora e Salvador.
Os encontros regionais ocorrem em março, junho e dezembro, e em setembro acontece a reunião nacional, em São Paulo, quando Luluzinhas de todo o Brasil são convidadas para um intercâmbio de ideias.
Venha trocar ideias, ampliar seu networking e divertir-se muito. O LuluzinhaCamp em Tubarão é aberto a todas as interessadas, acontece no dia 19 de junho, a partir das 16h, no Café com Pinga. Inscrições aqui no valor de R$ 15. Maiores informações sobre o evento, no site oficial (http://www.luluzinhacamp.com).

26.4.10

SMS

Quarta-feira qualquer, 20h30, ela esplanava sobre verbos irregulares em iídiche para seus aluninhos quando o telefone vibra: uma mensagem. Que dizia exatamente assim: "Eh, eu sei bem como eh. Ate agora nao contei pra nenhum dos meus amigos q eu so tenho 3 meses de vida" (sic). Pânico no bairro Dehon. Inconformada com o teor misterioso e trágico da mensagem, e mais inconformada ainda por não conhecer o número do celular remetente, recorreu aos estudantes aplicados para solucionar aquele mistério. "Alguém se enganou e digitou o número errado", foi o veredito. Ok.
Horas depois, já bem instalada em seu flat à beira-rio, recebe outra mensagem. "Isso porque a carine nem sonha q o reinaldo eh o pai do meu filho, ne? (sic)". Do mesmo número misterioso. "Jesus, me chicoteia", pensou nossa heroína predileta.
Depois de detonar um maço e meio de Lucky, a morenaça resolveu deixar para solucionar o mistério no outro dia. Havia coisas mais interessantes para se fazer, como ouvir a potranca da vizinha e seu vigoroso amante contorcerem-se em alto e bom som sob os lençóis.
Mas o que veio, dias depois, deixou Charlotte C. a beira de um ataque de nervos. Confortavelmente sentada no bar de sua predileção, na companhia de um casal amigo, foi contemplada com o seguinte torpedo: “To passando ai daqui apouco. Dou um toque e tu desce” (sic). Aí a situação ficou feia. Ao invés de buscar consolo junto aos amigos, compartilhar suas dores e angústias, a paulistana preferiu calar-se, fingir que não era nada e bóra tocar Skol gelada garganta abaixo. Mas a pulga já estava devidamente encravada em sua nuquinha aveludada.
Despediu-se dos amigos e rumou levemente cambaleante para casa. “Agora vou descobrir quem é o fdp que está me sacaneando”, jurava. Ligou. Foi atendida por uma mulher de voz tão misteriosa quanto o teor das mensagens, totalmente não-identificável. Desligou. Ligou de novo, mais uma vez, a mulher desconhecida. O joguinho durou algum tempo, até ser interrompido pela voz de um homem: “Pô, Charlotte, ainda não descobriu quem é?”, como quem dizia: “Puuutz, é tão óbvio!”. Não, a cheerleader da perspicácia e da desconfiança não conseguiu matar a charada.
Mais um par de dias e ela resolve tentar novamente. Acompanhada da inseparável S., incumbiu a amiga de ciceronear a ligação. “Oi, gostaria de falar com Maria Joaquina”, solicitou S., aterrorizada com a portentosa voz da terrorista virtual. Momentos depois, e mais por desistência dos trotistas, o jogo foi revelado.
Ela tem uma relação complicada com a telefonia celular. Proprietária de dois telefones (cujos números só são obtidos ao custo de muita bajulação), invariavelmente desativa ambos para poder viver sua vidinha na mais absoluta paz, sem chateação de chefe, sem o assédio dos inúmeros pretês, sem a inconveniência dos milhares de amigos que desejam arrancá-la de casa a todo custo. Foi por isso que considerei a morenaça mais polêmica da Acácio Moreira como a vítima perfeita para meu golpe. Meu novo número de celular veio a calhar. Nunca imaginei ser dona de uma voz misteriosa.

5.4.10

Pele de pêssego

Aí a moça foi, obrigada, participar daquele evento mágico na Big City, em que prósperos proprietários de estabelecimentos diversos são convidados a congregar e onde os pobres comerciários são obrigados a labutar em mais um turno escravocrata, em plena tarde de sábado, o Dia G - quem é de Shark sabe do que estoy hablando. Ela foi, portanto, trabalhadora e honesta que é. Passou um pente nas madeixas, um batonzinho cereja de nada na boca, calçou as sandalhocas e partiu, cabeça erguida, para representar sua empresa, camiseta com o logo característico estourando nos peitos. Distribuiu folderes, concedeu três ou quatro entrevistas ("Jornalistas de merda que não sabem nem fazer uma entrevista", queixou-se a especialista-mor), conversou com clientes e possíveis futuros clientes, fez seu lobby, vendeu seu peixe. Contava os minutinhos no relógio para a hora que ditaria o fim daquele martírio quando uma moça a aborda, sem papas na língua: "Moça, quer concorrer a um tratamento de pele?".
Choque.
Como assim tratamento de pele, cara pálida? Como assim, que a pele de Charlotte, the powerpuff girl, precisa de tratamento? Anyway, de graça até injeção na testa, já dizia nossa pequena e acetinada heroína. "Quero", respondeu.
Deu nem cinco minutinhos e a feliz vencedora da promoção é anunciada, aos quatro ventos, para que todos os que estivessem ao alcance das potentes caixas de som ouvissem: "E a vencedora de um super tratamento facial é... CHARLOTTE C.!!!!!".
"Cara, até pensei que a menina fez de propósito. Olhou pra minha pele, achou que eu precisava e resolveu salvar uma alma e me dar uma forcinha. Mas acho que não, né?", duvidou nossa diva, que, faceira, foi lá, um quê constrangida, buscar seu cupom premiado.
Nem bem passou o fim de semana e Charlotte gruda-se ao telefone, seu hobby predileto, conferir a validade de seu super-brinde. "Cara, recebi um folder, uma clínica pooodre de chique, tipo spa, manja? Já atendeu de Ana Maria Braga a Ivete Sangalo". WHAT??? "Sim", ela insistiu. "Quando Ivetinha veio pra cá passou na clínica pra uma recauchutada. Eles tem foto pra provar", insistiu a VIP, achando-se a very important person com seu mimo revitalizante facial.
Pra provar o montante da chiquice, o horário de funcionamento. "É só pra madame, filha. Pensando o que? Abre a partir das 13h30, que é quando madame acorda. Fecha só depois das 22h. Vou lá".
E foi.
Após uma exaustiva caminhada (sim, porque para Charlotte, consciência ambiental é tudo: dispensa o carro e corre meio mundo a pé. Até porque faz bem pra saúde e a ajuda a mandar suas curvas esculpidas a cinzel), a moça chega a seu destino: uma casinha acanhada, com uma plaquinha capenga na porta. "Ops... deve ser pra distrair os pobres, rico tem cada mania...". Limpou os pés no capacho e entrou, refestelando-se.
Na "sala de recepção" (uma mesa tosca e um sofá meio furado, com várias revistas da década de 90 ao lado), um garotinho de uns 10 anos. "Oi?", Charlotte começa a acreditar que veio ao lugar errado. "Oi", o menino responde, lacônico, enquanto fazia sua lição de casa. "Hum, tem algum adulto por aqui?, ela insiste. De repente, alguém grita lá de trás. "Espeeeera, já vou". E surge uma mulher, capengando. "Ai, boba, desculpa, fiz uma cirurgia pra tirar varizes, nem podia vir trabalhar", e a mulher já desandou a contar sua vida toda.
Determinada, insistente (putz, a Ivete Sangalo veio aqui!), Charlotte resolve ver no que dá. "Seguinte, ganhei um tratamento facial num sorteio lá no Dia G. Rola?". A varizenta não disfarçou um muxoxo. Achava que iria faturar os primeiros 10 contos do dia, mas não era desta vez. Profissional, no entanto, não deixou a bola cair. "Sim, sim, sim! Vamos fazer, sim, minha mãe vai ajudar. Mããããeeeee!!!", e sai mancando chamar sua velha progenitora.
Enquanto Charlotte se acomodava numa caminha de massagem de lençol puído, uma das mulheres remexia freneticamente um produto esverdeado em um potinho. Meia hora de pinceladas da meleca depois e nossa heroína estava nova em folha: nada melhor do que abacate para recuperar o vigor e a elasticidade cutânea - fica a dica, meninas. "Viu, boba? Por isso que estas famosas estão sempre impecáveis", completou a paulistana da cútis de veludo. Sem dar o braço a torcer.

26.3.10

A Pizza de Sardinha Perfeita (ou Para Eduardo)

Minha vó era uma stepmother, no melhor sentido da palavra. Era pra lá que eu corria quando me aborrecia com meus pais, era pra lá que eu rumava, mochilinha verde água nas costas, quando sentia falta de um lar "mais tranquilo". E por lá ficava durante duas, três semanas, um mês. Minha vó morreu com 80 anos incompletos, em 2007, mas já a considerava "velhinha" aos 14 anos (época em que adultos com mais de 30 passam a ser idosos). E velhinhos costumam seguir sua rotininha diária religiosamente: levantar cedinho, tomar café bem reforçado (preto, acompanhado de beijús torradíssimos), sem antes deixar de lavar bem o rosto e passar um pente (molhado) nos cabelos (nunca entendi o porquê do pente molhado, o cabelo da véia era bem fininho e macio). Como hóspede, me via na obrigação de fazer as mesmas coisas, aí tomar café da manhã era um martírio, coisa com a qual ainda não consegui me adaptar - guardo a fome para o período noturno...
Aí seguia pra escola, e - lindeza das lindezas - ela me acompanhava até o portão (ops, entrou um cisco no meu olho aqui). Meio-dia e o estômago parecia uma britadeira nervosa (claro, quem mandou só fingir que tomava café?). Era aí que tinha início algumas das minhas melhores experiências gastronômicas de todos os tempos. Porque a comida da vó era uma coisa absurda. Deliciosamente absurda. Só não era obscenamente absurda porque minha vó não era "destas coisas", uma santinha, coitada.
Teve a semana dos bolinhos. Todo dia eu entrava na cozinha, com aquele cheiro enlouquecedor de quitutes, e me deparava com uma travessa abarrotada de bolinhos. Ela já havia almoçado (gente velha come cedinho, acho que às 11h a bichinha já tava mastigando). Mas ficava de pé, bracinhos cruzados, me olhando comer. E ria, com as minhas expressões famélicas de furor estomacal.
Todo dia, ela perguntava: adivinha do que é o bolinho de hoje? Com a saliva escorrendo pelo queixo, eu tentava acertar só de olho - e nunca conseguia, para sua diversão. Num dia, os bolinhos jaziam na travessa, rechonchudos, inflados, de uma belíssima coloração verde escura. "Espinafre", contou. No outro, bolinhos lindamente brilhantes de óleo (sim, saúde era algo com que não nos preocupávamos, à época), todos bem laranjinhas. "Abóbora". No dia seguinte, bolinhos cor-de-rosa, uma vibe totally Hello Kitty. "Beterraba". Mas quando os bolinhos adquiriram a coloração verde água, eu me surpreendi mesmo. "Alface". Primeira e única vez na vida que vi (e comi) bolinhos de alface. Acho que ninguém faz bolinhos de alface, mas... que bolinhos... Meu Deus.
Não pára por aí, é claro. Minha vó era uma mulher rústica, sem refinamentos, criada na roça, mas de uma classe que eu poucas vezes vi por aí em muita granfa. Sua comidinha caseira era basicamente galinha ensopada, carne de panela, feijãozinho, coisas assim. O máximo da modernidade a que ela se permitia era a pizza. E é claro que não poderia ser uma pizza padrão, uma pizza clássica. Era a pizza da Minerva.
(Ainda mais) felizes eram os dias em que eu chegava do colégio, esverdeada de fome, e me deparava com aquela forma de pizza. Forma quadrada, gigante. Cinco dedos gordinhos de massa, e fofa. E a cobertura era a melhor sardinha em lata do mundo, temperadinha com muito amor de vó. Que pizza era aquela, Brasil? A velhinha talhava uma fatia do tamanho do mundo, cujas bordas ficavam pra fora do prato. Aí abria a geladeira e de lá tirava um pote de mostarda de 236 anos, provavelmente fora da validade, but, who cares? Um banquete.
Minha mágoa é que ela se foi e, com ela, a receita mágica da pizza de sardinha dos deuses. Se bem que, acredito, não havia receita. Minha avó era analfabeta, sua maior tristeza foi não ter aprendido a ler. Um caderno de receitas, portanto, seria um item desnecessário para a velha senhora, que armazenava todas as informações realmente importantes em sua prateada cabecinha (minha mãe, nora de Minervinha, sempre diz que, se esta tivesse a oportunidade de estudar, provavelmente seria reconhecida por seu brilhantismo no universo acadêmico, eu também acredito nesta teoria).
Familiares tentam exaustivamente achar o ponto perfeito daquela pizza filosofal, mas até agora ninguém conquistou a textura daquela massa, o tempero daqueles pequenos pedaços de peixe, a liga daquele molhinho descompromissado. Nem vão achar, apesar de desenvolverem variações deliciosas da versão original. Meu consolo é que vivi para provar daquela delícia incopiável. E transmitir a "saga da pizza de sardinha perfeita" para o máximo de pessoas possível.


24.2.10

No Surgetics (mas pelo preço de uma)

Acordar descabelada, com a cara besuntada pela secreção das minhas agitadíssimas glândulas sebáceas (nojento) e me olhar no espelho, de manhã cedinho, já não era das minhas atividades prediletas. Aí surgiu ela, a dupla dinâmica mais fdp para uma jovem madura (existe isso, jovem madura?). Refiro-me às bolsas e às olheiras, coisas horrendas que vêm me assombrando há coisa de uns dois anos, sei lá.
Bem que eu tentei alguma receitinha fácil e barata. Foi quando adquiri o micropotinho do Nivea Aqua Sensation, com míseros 15 gramas, pela pechincha de R$ 40. Foi como está escrito no rótulo: sensação de água. E efeito de água também, ou seja, totalmente ineficaz. Pior: deixou a região dos olhos ainda mais brilhosa e ensebada, eu devo merecer estes castigos pelo pecado da vaidade. Mas não desisto.
Foi aí que um milagre aconteceu.
Esta semana recebi minha encomendazinha de produtinhos básicos (perfuminho de verão, shampoo e condicionador de banana (what?), coisas assim) da Sacks. Adoro (eu jurei que não falaria mais "adoro" depois do advento DiCésar, já virou cafona).
Aí que a tentadora lojinha virtual me mandou uma desgraçada de uma amostrinha grátis de um produto da Givenchy, o Radically No Surgetics, "programa de rejuvenescimento global para os olhos". Os desgraçados devem ler meus pensamentos e adivinhar meus desejos de consumo, só pode. São dois tubinhos, um para antes de dormir, outro para o acordar.
Passei e fui dormir. No outro dia... tcharan! Juro por Deus, quando me olhei no espelho nem reparei no cabelo espevitado nem na pele ensebada (o bom da pele oleosa é que as rugas demoram mais pra aparecer, bobas). Havia rejuvenescido 10 anos. Ju-ro. E (infelizmente) nem estou ganhando comissão pra falar bem deste treco (quem me dera).
Pirei. Continuo passando, mas, já falei, trata-se de amostra grátis, ou seja, não deve durar até o fim da semana. E aí a cara meique vai despencando, né? O negocinho é danado e só dura até a hora de reaplicar (é o que me parece).
Enlouqueci. Muni-me do credit card navalha e acessei, mais uma vez, o site amigo.
Amigo my ass, como diria Charlotte C. Adivinha o preço do mimo que virou minha inspiração para viver? Adivinha nada, olhaê:




Sim, senhores, a maravilha da tecnologia dermocosmética tem seu preço. E que preço... E por apenas 20 ml do produto miraculoso!
Ahhh, confesso que lamentei profundamente minha falta de sorte por não ter vindo mais endinheiradinha nesta encarnação. Fica pra próxima, Givenchy! (ok, eu ainda não desisti, este creminho ainda há de ser meu, deixe estar...). Enquanto isso, vou arriscar a técnica das fatias de batata gelada... (putz, me senti muito pobre com este post. Já falei que o No Surgetics custa TREZENTOS E TRINTA DINHEIROS?).



17.2.10

Carnaval em Shark ou Já vi melhores

Nestes meus (ahan...) 27 anos bem vividos (a dica é diminuir um a cada ano, bobos, até ficar ridículo demais e as pessoas pararem de perguntar sua idade por puríssima Vergonha Alheia) já passei os feriadões de Carnaval em locais bastante distintos e muitíssimo agradáveis (tá pensando que eu só curtia o Carnaval no circuitinho Laguna-Camacho-Barranceira?). Foram áureos tempos, tempos estes que, acredito, estão definitivamente enterrados (ou não, mas, sabe-se lá). Nos últimos anos minha rotina carnavalesca era o combo DVDs - junk food - alguma obra literária encalhada na prateleira. Desta vez não foi muito diferente, dado o fato de meu partner de ocasião não ser lá muito devoto dos festejos de Momo. O truque ficou por conta dos Gritos Carnavalescos no bar de nossa predileção (que contou com a presença de prestigiadíssimas figuras públicas), da companhia das meninas mais queridas da titia aqui (Nina e Juka) e de um inenarrável DESFILE DE ESCOLAS DE SAMBA EM SHARK CITY. Disse inenarrável? Vou tentar reverter isso...
O negócio é que havia uma criança em meus domínios, e o jeito foi levá-la de um lado ao outro para que a pequena não se aborrecesse (ainda mais). Aí rolou a ideia de acompanhar o portentoso desfilinho sharkcitiano. Até agora eu não sei dizer se odiei ou se foi o melhor Carnaval da minha vida, pra você sentir o impacto do acontecimento.
Nem vou observar quanto aos aspectos burocráticos tipo desvio de verba pública (a pobreza na estrutura das "escolas" deixa isso bem claro, acho que eu faria um tantinho mais com R$ 150 mil), desorganização generalizada e atraso de duas horas pro samba comer.
Mas foi engraçado descobrir a verve debochada do povo desta Cidade Azul ao contemplar carros "repetidos" ("Ahahaha, aproveitaram o carro de cobra do ano passado!", confidenciaram-me duas habitués), porta-bandeira de gogó avantajado e peito peludo (juro), um rei Momo capenga que deixava cair o cetro de três em três minutos, uma baiana que surtou e abandonou a ala correndo com as saias levantadas e a inegável vibe Elenita (BBB) de boa parte das passistas ("Olha que lheeeeeeendas...", satirizavam duas distintas senhouras, já não se fazem mais velhinhas bondosas como antigamente).
Foi tudo tão tosco e enjambrado que parecia piada (e não era?), não me restando outra alternativa a não ser aplaudir a tudo retardadamente, enquanto me afogava em lágrimas de riso reprimido.
Mas a bateria era bem animadinha. E, no fim das contas, a menina da madrinha saiu simplesmente maravilhada com tudo. "O que eu mais gostei foi do carro de cobra", afirmou. Eu concordei.

21.1.10

A colecionadora

Há tempos trancafiada em seu flat à beira-rio, a moça, aquela (que pediu para não ter seu nome revelado), finalmente aceitou o convite de amigos e foi badalar em uma importante buátchi de nossa Capital insular.
Cabelos impecáveis, modelito descoladíssimo, vertiginosos saltos Louboutin, make-up perfeito, perfume francês aspergido na nuquinha, nossa heroína dançou até esfregar o pinguelo no chão, muito da faceira, enquanto degustava, aos golinhos, um Cospomolitan.
Depois de dançar no queijinho, ameaçar um streap-tease sobre a mesa, beijar muitas bocas, sarrar muito esfregando-se na parede com tipinhos dos mais variados, repassar seu número de telefone (falso, é claro) para inúmeros pedintes, chegou a vez de ir embora.
Foi aí que ela deslizou. Habituada ao clima de "sinta-se em casa" dos náiteclubes sharkcitianos, a moça sucumbiu à tentação e embolsou o delicado copinho de cristal que acomodava seu Cosmo.
Não contava, no entanto, com o segurança, que, ao pedir para ver a comanda (gasto total de R$ 212, fora uma carteira de Lucky Strike, na rebarba), também visualizou o copinho com o logo da buátchi, envolvido precavidamente no Hermés que a moça sempre mantém na bolsa, para emergências.
"Este copo é da casa", sentenciou o leão de chácara.
"QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE??????????????????", chiou a honesta mulher, já antevendo certa malícia na afirmação do funcionário. "Não fui eu que coloquei aqui, hein? Deve ter sido um daqueles moleques", e apontou para um discretíssimo grupinho de butterflies borboleteando ao som de Lady Gaga.
"Droga, perdi um ótimo modelo para minha coleção", comentou, em casa, enquanto espanava sua prateleira com 82 tipos diferentes de "troféus", entre flutes e tulipas, canecos e shots de tequila.

12.1.10

Aprendendo com a vida (ou com a vizinhança)

Não que eu queira parecer repetitiva, mas há que se destacar a importância da vizinhança na vida do ser humano. Digo repetitiva pois, há alguns meses, meu assunto predileto neste bloguinho fofuxo e cor-de-rosa era o imbecil do meu (graças a Deus) ex-vizinho adolescente que curtia um fio terra e que apanhava da namorada (vide arquivo).
Vizinhos são a (des)graça da vida em comunidade, são o que faz sua vida valer a pena ou o que te leva à beira do abismo do desespero por um caminhão de mudança. O cinema está aí pra comprovar, e não é à toa que o filme Janela Indiscreta (Rear Window), do Hitchcock, serve de inspiração até hoje para centenas de produções.
O adolescente desocupou o apê aqui debaixo há alguns meses, tempo este de alegrias e tranquilidade. Mas este tempo findou-se com a chegada das novas moradoras. Amigos, devo dizer que gosto muito do lugar onde moro, gosto mesmo, acho bem localizado, com espaço interessante para sua única moradora (e para sua cachorrinha), seguro, com valor não-exorbitante, enfim, seria um local perfeito para residir não fosse o responsável pelo aluguel do apê logo abaixo, esta mansão de Amityville em forma de conjugado, um incrível filho da puta. Sim, porque o cara não tem o menor critério. Para ele, pagando o aluguel (mais ou menos) em dia, tá valendo.
Anyway, é importante ressaltar a capacidade de aprendizado do ser humano. Porque sempre há o que se aprender. Com a chegada de minhas duas queridas novas vizinhas, tenho recebido verdadeiras lições de vida todos os dias, depois da uma da tarde, horário em que as belas despertam de seu sono reparador.
Por exemplo, com as moças aprendi muito sobre moda e estilo. Já no segundo dia no prédio, desci para uma voltinha com a minha pet quando esbarro com uma delas conduzindo um tipinho crack style escada abaixo: seminua. Sim, senhores, é verão, moramos num país tropical abençoado por Deus e nada melhor do que um pijaminha puído, safado e transparente para refrescar a perseguida, não é mesmo?

Também aprendi sobre consumo e controle de qualidade na hora de desembolsar meu rico dinheirinho - uma verdadeira aula de economia. Dia desses as duas roomates conversavam animadamente sobre aquilo que toda mulherzinha ama conversar: compras. Liguei as anteninhas. "O certo era pegar R$ 100 e ir lá no Jonas, cara. Dá 100 gramas. A maconha do Jonas é excelente, vale a pena", sentenciou uma delas. Ficadica.

Outra rica lição absorvida pela espectadora aqui foi quanto ao amor devotado ao trabalho. Senhores, devemos, acima de tudo, de salários, carga horária, coleguismos ou inimizades, AMAR de fato aquilo que fazemos para botar comida na mesa. Semana passada uma das moças cantava, divertida, enquanto se arrumava para o trabalho. "Essa noite eu quero DAR, DAR, DAAAAAR" (para os entendidos, cantar no ritmo da música I gotta a feeling, do Black Eyed Peas). Dedicação ao que se faz é importante para o sucesso na carreira.

Dicas de beleza não faltam no repertório de minhas animadas vizinhas. Como por exemplo uma sugestão sensacional para deixar os cabelos arrasantes. "Ai, guria, aquele salão ali perto do Castelinho* é óóóóóótimo!!!", disse uma. "Éééééé, eu sei, já fui lá uma vez. A manicure também é boa", concordou a outra, com ênfase.

Aprendi também que, independente de raça, credo ou time de futebol, somos todos filhos de Deus, iguais diante do Todo-Poderoso. Enquanto se besuntam de hidratante Paixão, queimam um baseado e conversam amenidades, as meninas se distraem cantando hinos do tipo "Entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas...". Achei fino. Achei luxo. Achei Maria Madalena feelings.

* pra quem não conhece Shark city e suas peculiaridades, digamos que Castelinho seja um point... hum... não recomendável para menores de 18 anos.

7.1.10

O ovo ou a galinha?

Não negue: na virada do ano você lançou mão daquela calcinha amarela comprada às pressas nas Americanas, e/ou mastigou sete grãos de uva, ou pulou ondinhas, guardou sementes de romã, comeu porco, enfim, é típico do brasileiro perder tempo com certas mandingas para que o ano que se inicia seja melhor do que o que finda, simples assim.
Convenhamos, nada mais otimista do que um bom brinde, entre seus entes queridos, desejando good vibes para os doze meses seguintes, é fato. Se não surte resultados efetivos, pelo menos nos deixa com a prazerosa sensação de que os próximos números da Mega-Sena serão os nossos, ou de que sua alma gêmea estará naquela esquina, semana que vem.
Pois bem. Nossa heroína de dois mundos, Charlotte C., protagonizou mais uma daquelas historinhas dignas de filme pastelão - importante salientar que a morenaça belzebu tem a capacidade extraordinária de vivenciar fatos que só vemos na tela grande, eu já não acho mais nada inverossímel neste mundo de meu Deus.
Soterrada por convites para tentadoras festas de fim de ano, ao longo de todo o belo litoral catarina, a balzaca paulistana arrumou a trouxinha e aportou na Zimba, em casa de alguns amigos. Sempre muito benquista, foi recebida com honras de primeiro-ministro, com direito a discursos emocionados, pedidos de autógrafo e poses para fotos.
A família anfitriã era o que se pode chamar do mais puro e autêntico retrato do povo brasileiro: gente honesta, trabalhadora e decente - mas com um plus: basta a aproximação dos últimos dias de dezembro para começar um verdadeiro ritual de purificação. Velas e incensos são espalhados por toda a casa, santos e anjos, espalhados pelos cantinhos, em todos os cômodos e em todas as janelas, a palavra de ordem é "misticismo". "Místicos. MÍSTICOS. É isso que eles são", definiu Charlotte, em poucas palavras. No dia da virada todos se jogam no vestidón branco e nas oferendas à Iemanjá, espiritualidade é tudo neste mundo, e haja estoque de arruda e sal grosso.
A ceia é das mais gloriosas: na mesa, frutas tropicais, lombinho bem temperado, a popular maionese, farofinha, tudo muito digno e limpinho. Charlotte, que não arcou nem com as lentilhas, nem pôde. Refestelou-se ao ponto de abrir o botãozinho de seu sumário short jeans branco, que revelava suas voluptuosas formas. "Comi. Comi que me acabei", contou-me, em segredo.
Na casa onde estava hospedada encontravam-se desde o tio beberrão à avó octagenária, passando pela tia solteirona, pelas priminhas periguetes e pelo cunhado inconveniente, todos muito curiosos a respeito da vida atribulada desta profissional mezzo jornalista/ mezzo doutora em línguas.
Sempre atenta e antenada, Charlotte acompanhou os inúmeros hábitos supersticiosos dos residentes, todos muito unidos, rezando de mãos dadas, pulando num pezinho só ao badalar da meia-noite e banhando-se em água benta, especialmente preparada para a ocasião. "Estava terminando minha lentilha quando recebi um jorro de água benta na cara. Mal não vai fazer, né?".
Até que chegou a hora da sobremesa.
Todos de alma lavada pela chegada no simbólico ano de 2010, barriguinhas estufadas, sentidos alterados pela ingestão de honestas taças de espumante, dividiram-se entre as duas opções oferecidas no buffet: pudim de queijo e sorvete caseiro. Charlote lançou um olhar maroto aos quitutes e lembrou de sua prendada mãezinha, cuja receita do sorvete, de família, é guardada a sete chaves no cofre dos Pragas. "Então, moça, vai querer pudim ou sorvete?", perguntou uma tia solícita. Todos os olhares voltaram à ela. Momentos de tensão. "Não vou querer nada não, obrigada...", dispensou, tímida. Pra que? Os ânimos se esquentaram. "Não vai querer??? Por que?", questionou meia dúzia de parentes, levemente enfurecidos (o pudim de queijo foi delicadamente preparado pela matriarca da família anfitriã, de 85 anos, uma ofensa dispensá-lo sem uma boa desculpa).
"Cara, eu não sabia o que fazer. Todo mundo parou o que estava fazendo, largaram os garfinhos com os quais deliciavam os doces, repousaram suas flutes na mesa e fixaram os olhos em mim, esperando a resposta. Pensei em dieta, mas não ia colar, né? Já tinha comido lentilha e lombo feito uma porca, que porra que dieta, que nada", a morenaça quebrou a cabeça por longos segundos.
Quem conhece Charlotte C. sabe do que estou falando. Sob pressão o resultado pode ser dramático. Você, caro leitor, que porventura terá a honra de conhecê-la, futuramente, fique avisado: não a pressione jamais, as consequências podem ser das mais terríveis.
"Juro que tentei desconversar, mudar de assunto, partir pra outra. Mas não deu. Todo mundo ficou esperando. Tive que contar". Com cãimbra nos músculos faciais, Charlotte revelou sua resistência às guloseimas. "Sabe o que é? Este sorvete... leva ovo?", questionou.
"Sim, leva ovo", respondeu a responsável pelo doce, já bufando de indignação pela rejeição da convidada.
"Então... ceia de Réveillon, né? Todo mundo aqui, reunido, comendo porco, que fuça pra frente, dispensando frango, que cisca pra trás... Ninguém come frango numa hora dessas, né?".
"Sim", responderam os familiares, em uníssono.
"Então... o ovo vem da onde?".
Longos minutos de silêncio.

Charlotte foi levada rapidamente por uma amiga ao bar mais próximo, onde degustou 32 latinhas de Skol bem gelada. Mas a imagem da avozinha octagenária vomitando o sorvete recém-comido sobre o prato, do tiozinho cuspindo os restos da massa gelada no chão e das lágrimas de tristeza e decepção nos olhos de todos os presentes permanecerão forever em sua mente. "Cara, eu desejo tudo o que há de bom pra esta família. Porque se acontecer qualquer merda ao longo de 2010 na vida deles, a culpa será minha", admite a (anti-) heroína.

5.1.10

Em festa de rodeio...

Finalmente pude dar o ar da graça num destes balneários de nosso querido e rico sul-catarinense, neste feriadão de fim de ano - aliás, festcheenhas mais chatas estas de fim de ano, não é mesmo? Variações sobre um mesmo tema. Enfim, bastou por meus lindos pezinhos de esmalte orange power mega blaster na areia do Farol de Santa Marta para dar início às lamentações.
Primeiro, que aquilo lá virou um lixão a céu aberto. Lugar tão bonitinho, vibe tão alto astral, gente tãããããããooooo bonita (calma, guria), e tudo absurdamente negligenciado, sacolões gigantescos de lixo viraram cartão postal, ofuscando o monumento que dá nome à praia.
Ok. O segundo ponto a ser destacado é uma ligeira alteração no perfil dos frequentadores daquele paradisíaco monte de lixo. Se antes surfistões sarados e platinadas ratas de praia tomavam conta, agora são empurrados covardemente para o costão por caminhonetes gigantescas que estacionam na areia e deixam rolar, no talo, de Calypso a Bruno e Marrone (e aí vale de tudo quanto é bandinha de sertanejo/forró/genéricos universitários existentes neste país de meu Deus, tenho mais paciência pra isso não).
Coisa mais ridícula foi tentar tostar na praia do Cardoso ouvindo coisas do tipo "ei, pissiu, beijo, me liga..." ou "chupa, chupa, chupa que é de uva" (sim, eu sei, "sucesso" antiguinho, mas o povo gostcha). Constrangedor, pra dizer o mínimo.
Aí que casou bem com a historinha que ouvi do colunista Cacau Menezes, na tv, na hora do almoço. Disse ele que neste findi uma bombadézima casa noturna de Floripa teve a honra de receber um cliente endinheiradérrimo. O bonzão não pediu apenas uma, e sim DUAS garrafas de champagne Cristal (cada uma custando a bagatela de SETE MIL REAIS, vê se pode, e eu me achando com minhas Aurora Moscatel). Aí que nesta boate, quem pede uma Cristal tem direito a uma música (argh, que coisa cafona). E o ricão, como mandou ver duas garrafinhas, ganhou duas musiquinhas, à sua escolha. Pela excentricidade do sujeito, não podia ser diferente: o moço exigiu a execução de duas modinhas sertanejas, imagina a cara do povo.
Então é o seguintchi: ou morre torrando em casa ou adere ao style chapéu de cowboy e shortinho enfiado e cai na festa, né? Passo...