Minha frustração infantil foi nunca ter conseguido fazer o moonwalk - nem nada parecido às acrobacias e contorcionismos deliciosos do astro.
Michael Jackson foi, para mim, aquilo de mais próximo a um ídolo alguém pode ser para uma pessoa. Eu, que não tenho ídolo algum. Durante muitos anos meu momento especial da semana acontecia aos domingos, quando não "existia" TV a cabo e quando o Fantástico era a melhor opção da televisão brasileira (faz tempo, hein? Agora perde até para o A Fazenda).
Porque existiam os clipes do Michael, anunciados à exaustão sob o título de "exclusivo". Eu simplesmente AMAVA estas ocasiões, a família reunida babando com aquele dançarino fantástico de voz tão potente e aguda, com hits que grudavam na cabeça e te faziam cantarolar por horas a fio.
Até que anunciaram um clipe considerado espetacular em matéria de efeitos especiais - vindo de MJ, devia ser verdade. Era Black or White. Pirei. Dei plantão na frente da TV durante todo o domingo, ansiosíssima. Quando o apresentador (seria a Glória Maria?) finalmente anuncia a atração... BUM! Ficamos sem energia elétrica no bairro todo. Pude ouvir, acima do meu próprio uivo de lamento, o "ahhhhhhhhhh" de tristeza vindo dos lares vizinhos. Chorei. Chorei e amaldiçoei a Celesc pela mancada (sabe-se lá o que tinha acontecido, pobre Celesc).
Coisa de 20 minutos depois, volta a energia e eu grudei na telinha na vã esperança de que o clipe ainda estivesse passando. Mamã já foi cortando o barato: "Imagina, não foi nenhum blackout nacional, o mundo continuou funcionando enquanto estávamos no escuro". Nó na garganta.
Perambulei pela sala, desacorçoada, esperando o boa-noite dos apresentadores para finalmente ir dormir. "Amanhã na escola só vão falar disso e só eu que não assisti!".
Até Glória Maria anunciar, de supetão: "Recebemos um grande número de ligações de telespectadores pedindo para exibirmos o clipe do Michael Jackson mais uma vez. Vamos a ele!".
E o programa encerrou com a carinha de MJ, já branquíssimo, transformando-se em uma mulher morena, que se transformava em um homem loiro, que se transformava em um negro, uma ruiva, uma asiática, todas as raças, todos os rostos. Neste noite eu fui muito feliz.