Nasci e fui criada numa cidade onde diversidade de estilos nunca foi marca registrada. Meninos podiam ser mauricinhos - babylook (sim, na minha época babylook não era patrimônio gay) e calças de sarja coloridas, do amarelinho canário ao vermelho cardeal.
Ou podiam ser "largadões" - ostentando o maldito triunvirato boné, bermudão-quase-calça e correntes no pescoço. Sendo que, com o passar dos anos, estes adereços foram ganhando peso. Bonés ganharam o capuz do moleton por cima. Calças e bermudas, bolsos e passamanarias suficientes para deixarem meio rabo do sujeito à mostra. Correntes de pescoço passaram a ser adquiridas nas docas.
Meninas variavam ainda menos. Havia as patricinhas e as patricinhas wannabe. As primeiras, poucas, usavam roupinhas transadas e caras das boutiques de Shark. As outras contentavam-se em imitar as riquinhas comprando peças similares nos outlets de BR que abundam na região.
O básico: camisetinha (barriga à mostra), mini jeans e mega plataformas. É assim até hoje, mas as saias perderam terreno para o famigerado legging.
Eu me achava de vanguarda (hahahaha). Eu e Lô, que não me deixa mentir. Guiadas pela bíblia das teenagers dos anos 90, a revista Capricho, cismamos de ressuscitar a sandália Melissa. E fomos encontrá-la, aquele modelinho retrô, baixinha, em um único lugar da cidade, o Mercadão Público - devo observar que o mercado público de Shark não é semelhante a tantos MP existentes no país, cheios de vida, música, chopp gelado e peixinho frito. Ah, nem queira saber...
O look era o "máximo": jeans, camisetinha branca comprada em loja de criança (tinha que ser pequena) e a Melissa - muitas vezes usada com meia - nos pés.
É foda morar na roça. Olhares horrorizados nos devastavam por onde andássemos. Mas, seis meses depois (ou um ano?), todas as meninas haviam adotado as sandalinhas de plástico - ainda que muitas delas na versão "tropicaliente", com um saltão medonho de juta falsa.
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Hoje devo admitir que, de maneira geral, o povo de Shark e adjacências já manda muito melhor no figurino. O que a globalização não faz, não é mesmo, minha gente? Arriscam mais, brincam mais, coordenam peças com mais ousadia e, com frequência, acabam acertando.
É que hoje, além das "patricinhas" (termo em desuso, mas não achei substituto), dos "playboyzinhos", dos riponguinhos e dos pagode stylers (help!), temos que conviver com os (pseudo) emos. Pseudo porque certamente nenhum deles conhece ou segue a "causa" emo - se é que emos têm causa (hahahahahah, morri!) a não ser usar franjão e lápis no olho e parecer melancólico (é lógico que ser "emo" é a desculpa adolescente para sair do armário, mas não vem ao caso).
Aí que, dia desses, circulando pela cosmopolita Marcolino Cabral, cruzo com uma criatura ímpar. Franjão, lapisinho no olho (mas bem de leve, era dia), camiseta com estampa descolada, jeans e, nos pés, crocs. Laranjas. O proprietário do look era um menino, deixo claro. Na hora tive ímpetos de me atirar ao chão e rolar de rir, ninguém merece croc. Muito menos laranja. Mas depois lembrei-me de mim e Lô aos 16, exibindo, nos pés, o que meio mundo deveria considerar "esquisitos trecos de plástico". Aí fiquei comovida com o esforço fashion do moçoilo - é bem possível que daqui a alguns meses surja uma horda de teens batendo crocs coloridas pelas calçadas de nossa big city.
Eu comprei uma destas pra minha sobrinha. Branca, da Hello Kitty. A menina tem sete anos, mas já acha meio cafona.