23.3.08

Jantar dançante

E por um desses acasos do destino, vi-me, com marido, cunhadinhos e sogritos, num JANTAR DANÇANTE, no Sábado de Aleluia. Para quem não teve o privilégio de morar no "interior" e só conhece o mundo por suas metrópoles, jantar dançante é um evento bastante comum nestas cidadezinhas pequenas de meu Deus Brasil afora, onde se come às fartas uma honestíssima comidinha caseira e onde se dança até o sol raiar (ou até o sanfoneiro pedir água, o que vier primeiro).
Salpicão a base de vagem picadinha, aipim (delicioso), macarrão caseiro, língua ensopada (argh). E uma "carninha assada" supimpa (como o bom sharkcitiano denomina o tradicionalíssimo churrasco). A decoração do buffet me encantou: frutas tropicais e pinguinzinhos de corpo de berinjela e cabeça de ovo cozido. Nariz de cenoura. Original.
O povão, uma gente bonita (sério), falante, bem arrumadinha com suas peças domingueiras (e de Domingo de Páscoa, o que faz toda a diferença). Famílias inteiras, casais jovens. Sorrisos, flertes. Um clima de deslumbramento pairava no ar, enquanto eu mirava atentamente a decoração da nossa mesa, um coelhinho e sua cenoura de gesso.
Ainda antes do jantar, momento dramático para os ateus de plantão. O líder comunitário sobe ao palquinho e, microfone em punho, tendo em vista o caráter enraizadamente católico dos presentes, convida a todos a uma oração, antes da forração de bucho. Todo mundo se levanta da cadeira cujo assento era uma placa de compensado. Nós também nos levantamos. Todo mundo dá as mãos. Nós também damos as mãos. Aí o cara começa a cantar o hit do padre Zezinho number 1 em missa do Dia das Mães e afins: "Abençoa, Senhor, as famílias, amém! Abençoa, Senhor, a minha também!". Todos, mãos dadas, embalavam-se, emocionados, cantando em uníssono. Virei para marido e disse: “Se tu dançares eu te mato”. Como seu eu devesse me preocupar com a possibilidade...

E depois do jantar, a dança. Aí o gaiteiro, a-ni-ma-dís-si-mo, sartô do palco e ficou circulando, faceirinho, por todo o salão. Claaaaaro que teve que parar na nossa mesa, bem atrás de marido, enquanto tonitruava “Italiaaaaaa-na, la mia vita oggi sei tu...”. Tortura para meus ouvidos. Aplaudimos, aliviados, quando ele terminou.

Aí o baile começou a esquentar. Lembrei de minha querida Jane Marie com a pérola “Eu quero que risque meu nome da sua agenda, esqueça meu telefone, não me ligue mais, porque já estou cansado de ser o remédio, pra curar seu tédio, quando seus amores não lhe satisfaz(em)”. Hahahaha (dessa nós não lembramos, hã?).
Aí seguiu-se “Ó, Chalana, sem querer, tu aumentas minha dor...”. Quando o cara puxou um “Que pescar, que nada, vou beijar na boca, ver a mulherada na madrugada ficando louca...” e reparamos na mulherada faceira, no cio, remexendo os ombrinhos e cutucando os maridões para irem pra pista saracotear, decidimos ir embora.

Não nos deram chocolate, mas foi bom mesmo assim.

Aliás, uma excelente Páscoa a todos. Que eu vou comer meu cherry chocolate ganho do marido.

21.3.08

Barata

Durante toda a minha vida meu maior terror era me tornar um Barata. E não, não estamos adentrando temas kafkanianos. Dia desses, durante minha boa e santa caminhada (não tão) diária, cruzei com Barata e sua mãe, dona S., conversando no meio da rua. O Barata, na minha opinião, é a mais exata definição, em carne e osso, de fracasso. De deprimência, de vazio, de não-vida. O Barata é uma não-pessoa. Horrível, isso. Fiquei pensando no Barata durante minha caminhada e vi que isso poderia me render um post. É foda aproveitarmos das mazelas alheias para entreter o público cativo (hahaha). Mas o tema Barata, subitamente, tornou-se irresistível - para uma blogagem.
O Barata já era exatamente desse jeitinho de hoje desde que eu era criança. Cabelos arruivados, mas daquele tipão meio queimado, seco; pele embexigada, cheia de cicatrizes profundas de acne. Nem alto nem baixo; nem magro nem gordo. Certa pança de cerveja. O look básico é camiseta (com destaque para as de campanha eleitoral), bermudões que derivaram de uma calça jeans já desgastada. E havaianas. Não das novas, descoladas, e sim das antigas, brancas de tira azul. Às vezes eu penso que Barata jamais se desfez destas havaianas. Se falassem, as havaianas do Barata poderiam relatar toda a sua vida. O que não quer dizer grande coisa.
Penso (não tenho certeza) que Barata nunca casou. Ainda há tempo, sempre há tempo, Barata não deve ter muito mais do que 40 anos. Quando eu era adolescente soube que ele arrumou uma namorada, não lembro o nome dela, mas a moça era considerada a idiota do bairro, pobrezinha. Por idiota, tomem retardada. Foi uma paixão fulminante que acabou, se não estou enganada, devido a uma traição da parte dele. Céus, eu pensei, alguém quis ser a segunda do Barata!
Não sei do que vive o Barata - aliás, acabei de lembrar do nome do moço, que junto com o irmão daria uma dupla sertaneja fantástica, pela sonoridade, mas não convém escrever por aqui - acho que Barata vive de bicos, faz as vezes de eletricista, encanador, pedreiro e funções do gênero.
Além das havaianas, acho que B. (vamos resumir) nasceu com uma bicicleta. Montado nela. Acredito que Barata não sabe andar, só pedalar. Ele jamais teve carro, moto ou outro meio de locomoção que não a magrela.
Soube que, durante algum tempo, B. teve problemas com drogas. E/ou álcool, whatever. O que interessa é que a (sub)vida de B. me aterrorizou por muito tempo, e ainda me traz certo pavor. Ele jamais conquistou nada, não tem nada do que se orgulhar, do que mostrar aos outros; sua mãe certamente jamais sentiu o peito inflar de orgulho pelo filhinho; seus filhos (se é que tem filhos, I don´t think so) não teriam disposição de apontá-lo, com gosto, e dizer: este é o meu pai. Barata não tem lá muita história para contar, além de fracassos e decepções.
Quando passei por dona S. e Barata, no dia da caminhada, destinei um olhar de reconhecimento à dupla (fomos vizinhos por anos). Barata correspondeu, com um sorriso. Feliz.

16.3.08

Arquétipos (parte 1)

Quem vem ao Imediatas sabe que neste espacinho humilde somos todos muito metidos a cinéfilos, não é mesmo? Gostamos do babado, da tela grande, de grandes interpretações, dos ótimos roteiros, das premiações looosho, enfim, cinema é com a gente mesmo, que também não dispensa a pipoca jumbo-size. Ontem mesmo me and marido fomos assistir a "No country for old men", com o assombroso Javier Bardem, também identificado como clone do Beiçola da Grande Família. Mas assim como existem filmes impecáveis, também existem, e aos baldes, os filmes-podreira. Confessem: quem aí já não perdeu noites a fio frente à telinha da Grobo, vendo uma boa e velha reprise classe B no Supercine? Delícia das delícias. E se de podrera nós gostamos, também de podrera nós somos experts em criticar.
Vamos, portanto, a uma análise rápida dos clichês mais desgastados da boa e velha sétima arte. A começar pelas...

* palmas. Momento de tensão máxima no filme, uma descoberta é feita; um segredo, revelado. Climax se anunciando. E de repente... clap - clap - clap- clap. Um idiota que se insinua como o vilãozinho issshperto da película adentra o ambiente batendo palmas bem lentamente, desdenhosamente, para só então lançar um "bravo", com aquele R americano bem pronunciado. Este personagem normalmente surge para jogar novas luzes no rumo da história, propôr outros caminhos aos protagonistas e sugerir idéias ao expectador. De qualquer forma, sempre inútil, o batedor de palmas só vem para complicar.

* Separações em momento crítico. O serial killer psicopata está à solta, pronto para dar o bote. O vampiro e/ou a múmia já saiu da tumba, os assaltantes-assassinos já invadiram a mansão. Mas o grupo de personagens do núcleo da dramaturgia cisma em se separar para vasculhar o ambiente. Lógico que 99% deles acaba empoçado no próprio sangue. Maneira rápida desenvolvida por roteiristas para eliminar personagens e, conseqüentemente, a necessidade de se desenvolver falas e diálogos com certo sentido para tanta gente.

* A bela. Todo filminho tem sempre a mocinha bonita, loirinha e sorridente, que consegue transformar a roupinha de colegial em artigo de sex-shop. Sempre chata, personalidade achatada, sérios problemas de auto-afirmação, acabaria grávida e dona-de-casa forever, se o filme desse continuação à sua vidinha medíocre.

* A fera. Normalmente morena, olhos mega-delineados, estilo punk de ser (dataaaaado), a rebelde morre de inveja da bela, daria tudo (eu disse tudo) para fazer parte do timinho das barbies, mas como deus não vai com a sua cara, é exorcizada por todos os coleguinhas.

* A nerd. É tão boazinha e pacata que chega a enjoar. Não fala mal de ninguém, é estudiosa, obediente, usa óculos e cabelos sempre presos, colados na cabeça. Ninguém dá nada por ela, até que algum pioneiro corajoso resolve tirar os óculos da moça e soltar seus cabelos. E... tcharan! A bicha vira a gostosa da turma. Dois meses depois, é a nova "bela" da escola. Seis meses depois, engravidou e vai virar dona-de-casa, se entupindo de donuts e panquecas com kero.

* Ninguém NUNCA ouve os conselhos dos pais.

* O vilão sempre tem que explicar seu plano infalível antes de mater o herói, dando-lhe o tempo necessário para conseguir escapar, ileso, e salvar o mundo.

* O carro nunca pega na hora que você mais precisa - mesmo sendo uma SUV último modelo movida a gasosa, gás, álcool, diesel, biodiesel e energia solar, tudo ao mesmo tempo, tipo multiflex. Não vai pegar. Só lá pela quinta tentativa, quando o monstro já quebrou o vidro e estica o braço pra te grudar.

* Ninguém toma um mísero sorvetinho, só se for um pote inteiro de Häagen-Dazs.

A lista é grande, vou dar uma pausa e continuo depois. Acréscimos serão bem-vindos.

14.3.08

Bolinha de vidro

A moça, loira, siliconada, dona de uma coluna só sua no jornal - vamos chamá-la aqui de M. - coleciona admiradores. Fãs, dos mais discretos aos mais destacados; dos que se satisfazem com um oi tímido na porta do elevador aos que lhe enviam testemunhos gloriosos e inflamados, no Orkut - sem sequer conhecerem seu nome do meio.


No meio deste turbilhão de fãs, admiradores ferrenhos de seu trabalho e/ou meros "arrozes" de festa, loucos por 15 minutinhos de notoriedade, figura uma criaturinha deveras peculiar. O garoto - ele próprio um arremedo de sua musa-mor - pode ser considerado bastante popular na cidade. Não por ser belo e atlético. Também não por uma inteligência aguçada ou um papo consistente e interessante. Nem por ser rico, grande empresário, empreendedor ou um ex-bbb. Na verdade, é justamente pelo contrário de todas estas características que o moço é conhecido.


Além de suas formas exageradamente rotundas, de suas feições débeis, que denotam certo retardo mental, o rapaz não consegue se conter na presença de indivíduos com pênis - chega mesmo a fazer propostas indecorosas para homens que poderiam ser seu avô (vide seu Álvaro).


Anyway, este moço - vamos chamá-lo de Z.Z. - , após anos (eu disse ANOS) de insistência, conseguiu persuadir a heroína M. a adicioná-lo no bendito Orkut. O que deu origem a todos os seus atuais problemas... se não, vejamos: todos os dias, diversas vezes ao dia, o rapazinho deixa scraps sacarosados pra gata. Mas de uma doçura e uma intimidade nauseantes, do tipo "oi, queLida!", "alô, bonequinha" ou "tenha um bom-dia, garota meiga (!)".

O inferno, no entanto, se deu com os seguintes scraps: "Bom-dia, minha orquídea!". Devo lembrar que eles não são amigos, apenas conhecidos. Seguiu-se, então, o inesperado. Enquanto conferia recados de amigos e leitores, nossa heroína M. deparou-se com a seguinte pérola:

"Oi, BOLINHA DE VIDRO!".
A gente não sabe exatamente o que o rapaz quis dizer: se ele remete à infância, lembrando das nostálgicas e coloridas bolinhas de gude; se ele curte mesmo é um clima de Natal, com seus adereços que ornam pinheirinhos; ou se apenas faz referência aos olhos azuis de sua estrela dourada. Na verdade, tudo o que ele gostaria de ser na vida...

9.3.08

Piaf

Assisti na última semana a Piaf, belíssimo filme que deu o Oscar de melhor atriz à jovem Marion Cotillard, que interpreta a megadiva Édith Piaf, retratada em frente e verso na produção. Talvez fosse a TMP, que me pegou de surpresa, ou talvez o filme emocione, de fato (o que acho bastante possível), mas foram baldes de lágrimas derramadas pela dramática vida desta artística única (cujo CD já é um dos itens mais desejados para meu aniversário, fica aí a dica).
Fui traçando alguns comentários tosquinhos, para postar no blog, mas tive que afastar o bloquinho do meu alcance, que já estava todo empapado, tamanho o chororô.
A personagem ditou meu look de inverno: cabelos escuros e boca vermelhíssima. Só não vai rolar aquela sobrança da espessura de um fio de cabelo, credo-em-cruz, até a Marlene Dietrich que aparece no filme, para mim até então a persona com as sobranças mais finas da face da Terra, perde pra Piaf. E feio.
E aqueles vestidos todos, lindos, lindos! Amo vestidos. E o que é a maquiagem dos sets de filmagem, em produções hollywoodianas, não é mesmo? A atriz (não a toa, premiada) foi da adolescência à maturidade e de maneira extremamente convincente. E o amor da vida dela, coisa linda de Deus? Um boxier (como diria Piaf, fazendo muuuuito biquinho) grande, bruto, macho. Hum...
E que raio de carne se come em Paris? Em minha breve estadia na Cidade Luz (né, Luc?), vou ficar só no croissant e nos queijinhos, pra não correr o risco de comer cavalo. Blargh.
Resenha meia-boca, mas de coração. Espero que a sugestão agrade.


E falando em moda, assunto corriqueiro por estas plagas, vamos comentar então os modismos da simpaticíssima Terra de Anita, adotadíssima pela querida Taís S. (que anda sumida, aliás). As meninas de LG ainda não abriram mão das calças ultra-mega-skinnies, afuniladas do quadril ao tornozelo, e saintropúbis: cofrinhos foram alçados à categoria de "tem que mostrar". Por mais que os figurões da moda insistam no cinturão alto, a garotadinha jamais vai abrir mão da "sensualidade" e do piercing à mostra. Aliás, devo observar que, na minha modestíssima opinião, PIERCING É O Ó! Ridículo, datado, brega, coisa de 15 anos atrás. E tenho dito.
As meninas também usam e abusam das batinhas das irmãs mais novas. Sério: são blusinhas bonitinhas, de babadinhos, mas bem pequenininhas, para, claaaaaro, deixar o umbiguinho aparecendo.
Brincões enooooormes (felizmente, aos pares). E, para minha alegria, saltos decentes. Noto uma redução significativa das mega-plataformas de madeira, tipo priscila, the drag-queen.


E após uma emocionante primeira semana de volta ao batente (né, duas?), espero retomar com ânimos redobrados aos posts eletrizantes do Imediatas. E espero também a visita de todos vocês, com os devidos comentários, sejam de Tubarão, da metrópole Recife, ou da megalópole Sampa. Estamos entendidos.