26.12.08

On line, finalmente (ou Meu Melhor Presente de Natal)

1996 foi, para mim, um ano de descobertas definitivas, seguramente. Neste ano entrei na universidade, fui morar sozinha, arrumei namorado(s), tornei-me segura e independente (relativamente independente, deixo claro), aprendi horrores de coisas incríveis, desde cozinhar a mexer direito (relativamente direito, é bom frisar) no computador. Também foi o ano em que entrei na internet pela primeira vez. E o que era apenas uma caixa (gigantesca e lenta) de metal com uma série de funções aborrecidas tornou-se, subitamente, viva, mágica, encantada. Um oráculo, uma resposta a todas as perguntas (hein?), um semideus ao alcance do mouse.
Desde então litros de água barrenta passaram por debaixo da ponte, e, vejam só, consegui a proeza de até montar um site como projeto de conclusão de curso - site este que deu origem a este humilde blog que vos serve.
Mas a roliça e endiabrada pulga que sempre me mordia a orelhinha era o triste fato de que, em plena era da informática e da informação, eu, como jornalista, jamais havia adquirido um pc. Para me conectar ao mundo valia de tudo: desde o ambiente de trabalho até a casa de bons amigos. Com os anos ter um computadorzinho ordinário em casa tornou-se o básico do Brasil - e vejam só, até minha mãe adquiriu um lindão e aprendeu a enviar pps "simpáticos" (contém ironia) para todos os seres de sua lista de contatos, included me.
Finalmente, ainda este ano, consegui a proeza de me presentear com um fabuloso lépitópi, coisa linda de Deus. Mas o diabinho, fininho, brilhante, tentador, não passava, assim como em 1996, de uma caixa (tudo bem, mais pasta do que caixa) sem vida, sem personalidade, oco, vazio.
Hoje, a mudança: pela primeira vez desde meu primeiro acesso à internet, estou postando de minha own private residência. Sim, o processo foi inexplicavelmente árduo e dificultoso, mas finalmente estou conectada para o mundo - e meu lindo computador adquiriu alma.
Seria desnecessário (pra não dizer praticamente impossíve) enumerar todas as possibilidades oferecidas por este já tão banal recurso, mas cito uma: diz o meu queridíssimo amigo Google que o feitiço mais cruel e maléfico que pode ser lançado pelos bruxos de Hogwarts é um só, o Avada Kedavra. Não entendeu nada? Basta saber que passei a noite anterior inteirinha quebrando a cabeça para lembrar da tal expressão - sabe aquela coisa que malditamente fica na ponta da língua e parece impossível arrancá-la dali? É... agora não tenho mais este problema. Google rules!
Um feliz Natal para todos. E sim, o meu tem sido extremamente feliz...

20.12.08

É Natal em Shark city

* "Um Feliz Natal", do Ivan Lins, é a nova "Então é Natal", da Momone. Por que precisamos de hits nesta época do ano? E por que não ficamos satisfeitos com a velha e boa Jingle Bells? Todo mundo cobre o Papai Noel de veludo vermelho e barba volumosa fake e simula neve com chumaços de algodão no pinheirinho, compra nozes e avelãs e se entope de aves exóticas e frutas importadas, mas na hora do cancioneirismo temático sempre tem um malandro oportunista que aparece para faturar uns trocos e (tentar) reerguer sua já decadente carreira. Ok, eu não suporto Ivanzão e Simone, não há toa sou fã desta comunidade aqui.

* Após anos alheia às comemorações pré-Natal tão típicas de Shark city, rendi-me ao mainstream local e aderi firmemente ao milho verde. Pré-Natal em Shark não existe sem boas, salgadinhas e roliças espigas de milho, "voltinhas" (ou arrodeios, como diria G.girl) pelas principais ruas do Centro, muita vitrine, muita sacolada e muito bate-quadril com a galerinha generosa que se entope de dívidas para presentear do enteado punheteiro ao cunhado beberrão. Sacolas das Casas Bahia, Magazine Luiza e lojas de calçado (a especialidade do município) são mato.

* E por falar em circular pelo pujante comércio local às vésperas do aniversário de Cristo, também urge imbuir-se de mega-paciência com a massa nervosa de pedestres, nervosa, mas não apressada, que gosta de perambular gostosamente e muito vagarosamente, em bandos, de braços dados, ocupando toda a extensão das calçadas, riso frouxo.
Não bastasse o volume atordoante de sacolas, que dificultam a ultrapassagem dos mais impacientes, existem os quadris, as super-bundas, que se durante o ano inteiro passam sentadas forrando-se de pãezinhos e coxinhas, no Natal ganham o mundo e as calçadas de Shark city. É quase impossível chegar a seu destino sem deixar de encoxar rabos assustadoramente volumosos, sátiros, como que obscenos, surreais.

* Na última quarta cruzei com o que me pareceu ser o cúmulo do oportunismo natalino - e já não estamos mais falando de Ivan Lins. Vestindo um conjuntinho de tecido sintético vermelho de regata e calça, botas de plástico pretas e uma barba lastimável, sustentando um saquinho encardido nas mãos, um Papai Noel mendigo. Mas repleta de luz, bondade e magia natalina, pude enxergar além de sua mendicância: dinheiro ele só pede aos lojistas, em forma de moedas, doces ou pratos de comida; às crianças, ele dá balas, como todo bom velhinho...

9.12.08

Española

Banda aquecendo, Fafá se preparando para executar nova canção ao povo de Shark city.
G. girl: Se ela cantar "Regressar é reunir dois laços" eu choro...
Fafá de Belém: "Regressar é reunir... dois laços..."
G. girl: Buáááááááá (por meia hora, sem parar)

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Noite adentro, cervejinha rolando solta (depois dos meus SEIS QUILOS perdidos, haha), aí ouço esta:
- Pô, estes peitos da Fafá de Belém! Putz, dava pra fazer altas espanhola!
- Ah, Fafá? Nâo, né?
- Não, não dava... (em tom de ironia). Dava e haja pau!
- Ah, sei lá... Fafá...
- Credo! Aquilo é quase um cu!

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7.12.08

Sinucas de bico, furadas e roubadas da vida de solteiro

Guto (nome fictício) concluiu que a moreninha brejeira que havia conhecido (e com quem trocara uns amassos) no ônibus da excursão poderia vir a ser sua mais nova e apaixonada namorada. Solteiro, carente, desiludido com tanto sexo sem sentido, decidiu se endireitar na vida. Pegou no telefone e marcou logo um encontro com a moça (vamos chamá-la de Ritinha).
"Ela disse que morava na Zofa. Fui. Fui, fui, fui, fui, fui. Não chegava nunca. Telefonei e perguntei: onde fica, minha filha? Mais adiante, ela explicava. A chuva despencava aos borbotões. A Zofa havia ficado há muito pra trás. Casas e edifícios foram escasseando, a iluminação pública, idem. Um poste aqui, outro a 500 metros. Estradas de chão, buracos. Matagal. Finalmente, encontrei uma das referências repassadas pela menina e apeei o carro. Era lá", conta-nos Guto. Era um conglomerado de pequenas casinhas conjugadas, ou melhor, uma casa que foi espichando devido a inúmeros puxadinhos. "Surge uma senhora de short socado no rabo, botas no joelho, cabelo (mal) tingido de loiro, aquela voz alterada de quem costuma verter uns gorós goela abaixo, alternados com maços e maços de cigarro", descreve o bachelor.
"E aí, cara? Beleza?", rosna a senhora. "Entra aí, entra aí. Quer beber alguma coisa? Cervejinha?". Era a mãe de Ritinha, ela mesma já abrindo a geladeira e tomando para si uma Kaiser suada. Guto recusou e disse preferir refrigerante. Ela apontou para uma garrafa pegajosa de coca-cola sobre a mesa, com um terço do conteúdo, provavelmente aberta há uma semana. "Te serve, fica à vontade", arrematou, saindo para a rua, onde disse ter alguns "clientes" para atender.
Até então, nem sinal de Ritinha. A prima dela, no entanto, correu a seu encontro, para fazer uma sala básica. Mais uma hora e meia se passou e a danada da moreninha por quem o sangue de Guto fervia na última semana não dava sinal de vida. Finalmente, surge a musa, cabelo molhado, chinelos de dedo. "Ai, desculpa a demora. Tava fazendo minha filha dormir. Olha só a foto da minha linda!", e puxou o poster de uma menina prestes a entrar na puberdade.
Guto broxou. Ainda assim, tentou fazer o cavalheiro. "E onde vocês duas gostariam de ir hoje?", perguntou, solícito. "Ah, vai ter um baile muito bom em Capiva Under, no Casarão. Toca uma vaneira daquelas", observou Ritinha. No rádio do quarto da moça, a pérola da MPB "Chupa, chupa, chupa que é de uva..." vibrava, ad infinitum.
Despedindo-se rapidamente, alegando uma indigestão, Guto embarcou no carro e rumou para casa, cabisbaixo. Já não se fazem mais namoradas como antigamente...

27.11.08

Preparativos natalinos (ou menos 5,5kg)

Estamos às portas (douradas e com guirlandas em vermelho e verde) do Natal e desde a última postagem já pensei em dar rumos ultramente radicais à vida (nada dramático, e sim do tipo mudança de cidade ou de país), já pensei em largar o regime, a academia, em voltar a beber (como se tivesse virado abstêmia, haha), em montar um novo blog, escrever um livro (ou dois), enfim, estes pensamentos mundanos que nos invadem a mente, quando em vez.
O bom é que não fiz quase nada de tudo o que andei pensando, e vieram os bônus: desde a sacudida master de minha endócrino me orgulho em revelar que, em menos de um mês, CINCO QUILOS E MEIO já foram sumariamente exterminados de meu corpinho (novamente) de sílfide. Ok, nem tanto, mas já entro nos meus jeans antigos, o que é deveras salutar.

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O que é legal também é perceber que este ano - até pouco tempo considerado bastante "conturbado" - está terminando de um jeito bem bacana. Claro que estamos falando de mim, particularmente, porque, convenhamos, a despedida de 2008 tem sido péssima para o povo catarinense, benza Deus. Aliás, falar em realizações pessoais diante de toda a tragédia que atingiu nosso litoral norte me fez lembrar do meu colunista predileto (hahaha), Cacau, que hoje em dia tem ganho a vida em suas aparições diárias no noticiário estadual lendo emails de "fãs". Aí rolou um estresse básico: a dondoca contou que não aguentava mais tanta chuva porque estava "engordando". Chuva pede chocolate, sopinhas, foundies, de acordo com a pôia. Outra fã de Cacau, mais solidária, lamentou o chiste da primeira, que se gabava de estar comendo do bom e do melhor enquanto milhares permaneciam desalojados, sem roupas nem alimentos, sem mais nada. Eu me cobri de vergonha alheia, o email, que era pra ser um simples gracejo, se transformou em uma declaração de insensibilidade, futilidade e egoísmo.
Anyway, voltando a falar de mim, meu assunto predileto, espero ter boas notícias para muito em breve, cruzem os dedinhos.
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Este período ainda se mantém como o meu preferido de todo o ano - grande parte desta empolgação toda por conta deste infantilismo que me corrói as entranhas e me faz querer, secretamente, ganhar uma Barbie Castelo de Diamante e um pogobol. Para entrar devidamente no clima, fui até as Americanas e adquiri uma fofíssima árvorezinha de madeira, com os penduricalhos do mesmo material, pintadinha a mão, totally old school. Luxo. Ainda de lambuja tem a minha gigantesca e maravilhosa árvore de Natal adquirida no ano passado, um sonho realizado (sim, meu maior sonho na vida era comprar a minha própria árvore de Natal). E mais guirlandas, e papais-noéizinhos, e truques do gênero. Amo muito tudo isto. Minha missão agora é elaborar um deliciosíssimo cardápio para minha ceia natalina - que a dieta vai me acompanhar até no momento de maior fartura gastronômica do ano. E comprar os presentinhos da Ju. Tô achando que ela vai adorar a Barbie Castelo de Diamante...

13.11.08

A vizinha e o "namorado"

Eram sessões intermináveis de gritos histéricos, barulho de louças quebrando e portas sendo violentamente fechadas. Num belo dia, o vizinho adolescente deu um basta: "Eu vou embora!". E foi, mesmo com os argumentos super-convincentes de sua mamã, "teu pai não gosta de ti!".
Depois que o filho partiu, a vizinha deu início a uma nova vida, repleta de emoções e adrenalina. Bela noite eu a escuto chegar em casa, no andar de baixo. "Entra, senta aí, fica a vontade. Tem cerveja na geladeira", disse ela, forte sotaque porto-alegrense, suuuuper gentil.
Como resposta, um resmungo masculino, barulho de um refrigerador abrindo e o espocar do anel de uma lata de cerveja. "Gut, gut, gut... aaaaaahhhhhh", gemeu o desconhecido, sugando a loira gelada com prazer (a lata, não a vizinha).
A gaúcha, por sua vez, continuou uma conversinha mole, amenidades, temas corriqueiros, o preço da passagem de ônibus pra SP tá pela hora da morte; queria ir até lá fazer compras; na 25 de Março tem muita coisa barata (dãããããã...).
Momentos de breve silêncio constrangedor e aí a coisa começou a apimentar - pelo menos do meu ponto de vista (ou de audição). Barulho do chuveiro.
Quando eu, maldosamente, imaginava o casal dividindo o apertado espaço do box, ouço novamente os gut, gut, gut e os aaaaahhhh do sujeito bebendo sua cerva, sossegado.
Ela finalmente sai do chuveiro, pisando firme em pesadas tamancas de madeira (pelo poc poc característico). "Tu não vais tomar um bainho?", disse, dengosa. A resposta fez meu queixo cair:
"Eu não, tomei banho de manhã e não andei com ninguém hoje", rebateu o cervejeiro porco.
A moça não gostou da insinuação. "Eu também não, imagina, mas este já é o terceiro banho que eu tomo hoje, gosto de ficar bem cheirosa".
Aparte: mentira, ainda estava frio e eu ficava em casa o dia todo,
sei os horários de banho de todo mundo.
A mandona continuou: "Mas capaz que tu não vais tomar um banho... Vamos, vamos logo, tem uma esponja ali (argh, esponja é tipo escova de dentes, não se empresta e não se usa a dos outros, eca), tem sabonetinho líquido, tem tudo", detalhou, tentando convencê-lo.
O sujismundinho não cedia: "Não, não precisa, linda, eu tô limpinho. Se eu soubesse que era pra ter tomado banho, tinha entrado ali contigo"...

Não agüentei tanta conversa mole e fui dormir antes dos finalmentes.

Dias depois a vizinha sumiu. Evaporou do prédio, sem maiores explicações. Pensei que tivesse sido assassinada pelo porquinho, pensei que tivesse dado o golpe na imobiliária, pensei que tivesse corrido atrás do filho. Sumiço total, por mais de dois meses. Até ontem. Sim, ontem, finalmente, a gaúcha maluca deu o ar da graça. Voltou, sabe-se lá de onde, carregada de sacolas e com uma amiga a tiracolo. Faceiríssima, mais falante do que nunca.

Até então, a idéia de que a vizinha estaria fazendo programetes para quitar o aluguel se insinuava em minha mente, para horror de marido. "Não, guria, deve ser um macho qualquer em quem ela estava de olho, nada mais".
Uhum... a amiga, que estava de saída, pergunta como faria para retornar ao apartamento, mais tarde, sem atrapalhar a anfitriã, que iria "sair com o namorado". "Até porque a minha intenção não é a de te atrapalhar, né, amada? Tens um monte de aluguel atrasado, contas pra pagar, PRECISAS GANHAR UM DINHEIRINHO".
YES.
A gaúcha tresloucada complementa: "É, preciso de dinheiro mesmo. Mas pelo menos até que o namorado é bem gostosinho...".

6.11.08

Maçãs, bananas, limões

No quesito infâmia ela reina, absoluta. No deboche, poucos se igualam à mestra. Na língua ferina, é preciso rebolar para rebatê-la. Mas certamente ninguém vence Charlotte, a maligna, na categoria "cara de pau". Sim, porque haja habilidade e óleo de peroba para ter a sutileza de achincalhar seu interlocutor e ter de volta um singelo sorriso. Só Charlotte tem o dom de dizer, naturalmente, na cara dura, que você está: com bafo de leão / cheiro de asa / dente sujo de restos de salada / gordura excessiva / cabelo ensebado / meleca no nariz ou ainda que você é: pobre / feio / burro / encalhado / promíscuo / com problemas mentais sérios e parecer o mais engrandecedor elogio do mundo.
A morena-má sabe como ninguém trabalhar seus súditos de maneira a lucrar, sempre, com presentes, mimos, afetos e declarações de amor. E tudo sem adulação e puxa-saquismo. Muito pelo contrário: a moça conquista a todos dizendo a mais pura e franca verdade, uma dádiva celestial.
Foi assim com sua nova turma de alunos (universitários e/ou trabalhadores do comércio de Shark city). É que Charlotte é uma mulher dotada dos mais diversos talentos: para xingar, maltratar, pisotear, escrever, ler, bordar, cozinhar abobrinhas e tomates e também falar idiomas variados. Ultimamente a moça tem lecionado Alemão Arcaico a um vasto grupo de pessoas.
Aí que, mais de mês antes do Dia do Professor, 15 de outubro, a rapariga deu início a uma fortíssima campanha de marketing para angariar lembrancinhas simpáticas. Todos os dias, as mais hilárias histórias eram relatadas pela amalucada teacher (ou apfudelstraisserkierkgardfeuss, professor em alemão arcaico). Como na do dia que foi almoçar no DonK, restaurante fino de Shark City.
"Pedi meu nhóque a bolonhesa e perguntei qual suco eles estariam servindo. Qual não foi minha surpresa ao ver o garçon, cheio de marra, dizer: Suco de limão. Peraí, suco de limão? Suco de limão? É LIMONADA! LIMONAAADAAA! Limão eu pego na beira do rio, de graça. Limonada eu tomei a vida toda, minha avó fazia, tinha até as mãos manchadas de limão, limão é mato. R$ 5 por um copo de limonaaadaa?", lamentava, aos brados, a casquinha, para apreensão de seus estimados pupilos, nesta hora já atirados ao chão, em lágrimas.
No outro dia, reclamou de fome. "Geeeeente, que o quilo da maçã tá R$ 3,80 no Angeloni. R$ 3,80!!! Tá uma fortuna, não dá mais pra comer maçã! Como é que é isso, gente? Pior é que eu não posso comer banana", queixava-se a paulistana, enquanto massageava, aos tapinhas, a barriguinha saliente.
Em uma outra ocasião, a moça confessou seus péssimos hábitos alimentares: "Isso tudo aqui que vocês estão vendo - puxou para fora suas duas bordinhas de queijo cremoso, os populares culotes - é bolacha. Sim. Bo-la-cha. Biscoito é bom, barato, mata a fome. Mas engorda. Eu queria comer maçã...", revelou, chorosa.
Finalmente, no dia 15 de outubro, tão esperado, a decepção: nenhum aluninho a honrou com um mimo, um abraço, uma recordação sequer. Uma lágrima escorreu pelo rosto de pele de porcelana de nossa heroína. Infeliz, recusou-se a brincar com os estudantes, como de costume. Drama. "A professora está diferente hoje", observou um de seus pupilos. "Estou mesmo, e daí?", cortou a furiosa, desabafando. "NINGUÉM ME DEU PRESENTE DE DIA DO PROFESSOR! Nem um bombom, nem uma maçã! E eu, que trouxe até uma sacola do Angeloni!". Mais drama.
Finalmente, na última semana, uma doce surpresa. Enquanto ajeitava o material didático da Escola de Ensino Superior de München sobre a mesa, os aluninhos, um a um, foram depositando gorduchas maçãs vermelhas e lustrosas sobre sua mesa. Foram sete, ao todo. A sacola do Angeloni, na gaveta, desta vez foi bem aproveitada.
Charlotte voltou feliz para casa. No jantar, maçã ensopada com abobrinha.


Charlotte, nossa Elaine Benes, mostra o resultado de sua campanha.

Fotinho de celular, mas o que vale é a intenção...




31.10.08

O que os olhos vêem...

Esta é uma história real.
Ele havia cansado da solteirice crônica. De bar em bar, de festa em festa, JLC foi colecionando porres homéricos, amizades efêmeras e episódios onde apagões o impediam de saber como havia chego em casa. Cansado de pertencer ao time dos "solteiros sim, sozinhos nunca", ele decidiu acasalar.
Ela, adentrando no estranho universo das balzaquianas (mas com carinha de 25), também pensou em dar um basta na rotina dos barzinhos e noitadinhas descompromissadas com os amigos. Por muitos anos S.B. cuidou da carreira, do aperfeiçoamento profissional, da obtenção de bons contatos - mas esqueceu de alimentar as coisas do coração.
Foi quando decidi entrar em ação. Ele tomou a iniciativa, numa bela tarde de outono, pressionando-me para que eu apresentasse alguma "amiga interessante". Na hora pensei nela, a moreninha mais arretada do Norte catarina.
Fiz as apresentações através de e-mail, e os primeiros contatos entre ambos também foram feitos desta maneira. As formalidades e o rigor presentes nos primeiros diálogos foram se transformando em conversas fluídas e descontraídas, em papos divertidos onde descobriram muito mais em comum do que a profissão.
A distância, no entanto, começou a assombrá-los. Os encontros - onde finalmente poderiam ficar olho no olho, cara a cara, téte a téte - nunca eram concretizados. Amuaram-se, afastaram-se, uma brisa glacial congelou as janelinhas do messenger.
Era outubro. JLC circulava, solitário e carente, pela multidão festiva da Oktoberfest. Caneco estrategicamente pendurado, chapeuzinho alemão no alto da cabeça aloirada, o moço sorvia seu 14º chopp gelado quando uma visão encantadora turvou seus olhos claros.
"De repente uma menina chama minha atenção. Ela, que conversava, descontraída, com outra moça, parecia ter algo de muito familiar. Pensei: tô bêbado, não é possível. Mas a idéia ficou remoendo na cabeça. Olhei de novo. E de novo. Em alguns momentos, era ela. Em outros, seria coincidência demais. Desisti. 15 minutos depois, retomei o projeto de abordá-la. Mas aí ela já havia evaporado", conta o moço.
A história teria ficado nisso não fosse a roliça pulga que não cansava de mordiscar nosso querido herói, bem atrás da orelha. "Apesar da janelinha alertar para ocupado, chamei-a, assim mesmo. E perguntei: por acaso era a senhorita circulando pela Oktober, acompanhada de uma amiga, muito faceirinha?".
SB só precisou confirmar: "No segundo final de semana?".
Nunca haviam estado tão próximos.

(Re)adaptação

Houve um tempo em que havia liberdade. Havia messenger, Orkut, blogs, sites de putaria e afins, tudo bem ao alcance do mouse. Mas aí os patrões começaram a perceber uma sensível queda na produtividade, um desinteresse generalizado, uma apatia e uma inversão de prioridades preocupante. A conseqüência foi previsível: corte em tudo o que havia de bom no mundo virtual, tornando a vida no ambiente de trabalho uma aborrecidíssima sucessão de - ora, vejam só - trabalho, trabalho e mais trabalho.
Mas as pessoas se adaptam, se habituam, se submetem às mais terríveis crueldades. Foi assim que eu me afastei do programinha de conversação mais pop de todos, o msn. Sem acesso à internet em minha residência, foi relativamente fácil desvencilhar-me dos meus amiguinhos virtuais e dos contatos que fazíamos diariamente. O afastamento do messenger foi tão definitivo que cheguei a ser alvo de preocupação por parte de alguns amigos: "Amiga, fica bem, melhora. Volta pro messenger", tive que ouvir, dia desses.
Pois eu voltei. Sim, em outro ambiente de trabalho - nada mais que a minha própria casa - agora posso me dar ao luxo de ser eu mesma a minha supervisora. E, ora bolas, minhas chefinhas me OBRIGAM a permanecer on line all afternoon long.
Confesso que tem sido meio esquisito saber lidar com amigos/colegas e trabalho, tudo-ao-mesmo-tempo-agora, sem correr o risco de enviar "acabei de revisar o texto" pra amiga e um "e aí, piranha?" pra moça da empresa. Mas as coisas vão se ajeitando, aos poucos.
Anyway, cabe ressaltar a incrível capacidade do msn de nos envolver nas situações mais absurdinhas ever da semana. Por exemplo, na terça-feira eu estava contentinha labutando quando a janelinha "Carol T." começa a piscar enlouquecidamente. Carol T., é claro, só poderia ser minha querida prima.

Carolina diz: Oi, minha gostosa
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Oi, amore mio! Finalmente te pego on line!
Carolina diz: Onde vc está?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Tô em XXX, ué?
Carolina diz: Como assim?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Em XXX. Por que?
Carolina diz: Vc tá viajando?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Hahahaha, por que?
Carolina diz: Vc sabe quem sou eu?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Ué, a Carol Teixeira, minha prima. Ou não?
Carolina diz: é
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: entonces...
Carolina diz: mas tem outra foto aparecendo aqui
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: sou eu, com a mão na cara... tu sabes q eu não trabalho mais no jornal, né?
Carolina diz: jornal? q jornal?
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: Caroca, maluca, acho q vc que perturbou qual é a cíntia.
Carolina diz: eu moro em Campo Grande/MS
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: meu deus... Hahahaaahahaha, mulhé, eu moro em Santa Catarina! E tenho uma prima chamada carol teixeira!
Carolina diz: isso é uma incrível coincidência. Eu tenho uma prima com seu nome tbm
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: céus! e faz tempo que eu não falava com a "minha" carol...
Carolina diz: que loucura. Faz tempo que eu não falo com a Cintoca
Cíntia - Everything you like I liked five years ago diz: haahahaahhah, nossa, essa merece ir pro blog...

É... confesso que gostei do "gostosa". Mato Grosso, por esta eu não esperava...

27.10.08

Beija, beija, tá calor, tá calor...

Algumas modinhas, ou "novos padrões comportamentais", digamos, têm a incrível capacidade de me tirar do sério. Ok, muita coisa me tira do sério nesta vida e neste sertão de meu Deus onde eu vim parar. As leggings com bota de astronauta, os brincos de uma orelha só, o súbito gosto popular por músicas sertanejas, enfim, coisas deste povão brasileiro tão rico e criativo na arte de me importunar.
Mas há algo de (relativamente) novo no ar: estamos falando do hábito incontrolável (principalmente por parte dos mais jovens) de trocar beijos estralados a qualquer hora, em qualquer lugar, quantas vezes forem necessárias ao longo do dia. Não se trata de beijos de reencontro, beijos saudosos de amigos que não se viam há séculos. São beijos "sociais", beijos que têm a serventia do "oi". Beijar é o oi dos anos 2000.
As menininhas se encontram todos os dias no pátio da escola, às 7h30. Muac muac estralado nas bochechas. À tarde, se cruzam no shopping, mais muac muac. À noite, na portaria do prédio, "amigaaaaaa, muac muac", a coisa não tem fim.
E pode ficar ainda pior: no restaurante, o sujeito está lá, jantando, faminto, quando a amiga da facul passa e o identifica, exultante. Imediatamente já estende os beiços para o rapaz, que retribui, a boca cheia de carne e molho, o cúmulo da falta de educação e do bom senso - please, galera, deixem a pessoa comer em paz para só depooooois irem cumprimentá-la.

Na academia, as mocinhas futricavam enquanto corriam na esteira. Aí chega o rapaz, regata colada, braços de músculos salientes. Acontece que aqui em Shark só agora as meninas "descobriram" que é cool ter um amigo gay (céus). Aí foi aquela gritaria, não se viam há séculos, pensei. Há. O bombadinho chegou, serelepe e saltitante, e se esticou todo, biquinho armado, na direção das sudorentas da esteira, tascando-lhes beijocas molhadas. Uma delas quase tropeça, dada a emoção.

Marquinhos diz que esta é a "Geração Orkut", onde o miguxismo ganhou força e não se restringiu a apenas um jeito cafona de escrever, mas também a um estilo de vida (com muitas fofurinhas, abracinhos e agradinhos ao pé do ouvido até mesmo do cobrador do ônibus e da moça da padaria, que também são gente, ora bolas). Eu já defino esta beijação toda como sendo da "Geração Êxtase". A droga do amor ganhou o mundo (até as platéias mais frias, como os ingleses) liberando os instintos mais secretos e passionais de seus usuários - as pistas nunca foram tão quentes, com tantos beijos e amassos. Agora, o mundo inteiro se transformou numa Love Parade, ainda que sem o uso da balinha, necessariamente.

Dieta, abstemia e outras torturas do gênero

Aí a moça aqui, com aquelas dobrinhas indesejáveis perturbando seu bem-viver, decide procurar um especialista. "Acho que masquei um chiclete feito na Fantástica Fábrica de Chocolates e só vou parar de inflar quando explodir", brinquei, querendo fazer graça com a endócrino, magérrima, fininha, delicada. A doutora sorriu.
"O problema é que eu gosto de comer. Adoooooro comer", complementei. Ela ali, sorrindo e anotando.
"Quando vejo um Big Mac ou uma lata de Pringles eu perco o controle do meu organismo", forcei a tanga. Mais um sorrisinho esboçado, mais uma anotação no bloquinho.
"As irmãs da minha avó eram tão gordas, mas tão gordas que, diz a lenda, não passavam pela roleta do ônibus. EU NÃO QUERO FICAR ASSIM!", parti para o desespero. A mulher revirou os olhinhos, dado o exagero.
Mexe daqui, consulta dali, e o veredito (ou diagnóstico?): falta de vergonha na cara.
Foi quando meu martírio teve início. Ao invés de me receitar os populares (e controversos) comprimidinhos mágicos que reduzem um metro de sua cinturita em uma única semana, uma maldita DIETA. Di-e-ta.
Dieta amarga, do tipo dois grãos de arroz, um de feijão e um bife do tamanho da minha unha, no almoço. De free, só folhas verdes. Tomate não é liberado (só um pires). Nem abobrinha nem vagem nem chuchu, vejam só, nem o chuchu pode-se comer à vontade na minha torturante dieta.
Mas o pior ainda estaria por vir. Durante nossa longa entrevista (aí foi bom, há milhões de anos que uma consulta médica não durava tanto tempo, mais de 15 minutos, uau!) a doutora perguntou, despretenciosamente: "Mas você bebe?"
PUTZ, como diria minha saudosa brunette belzebu Charlotte.
"Sim, eu bebo", revelei, com profundo constrangimento. Ah, se ela soubesse...
"Mas bebe muuuuito, muuuito? Tipo, DUAS LATAS por semana?".
Hahahahahahahahahahahahahah...
"É... é por aí... um pouquinho mais, talvez...", murmurei, cabisbaixa. "Somos muito boêmios", tentei justificar.
"Não. Não, não, não. Cerveja engorda muuuuito. Muito. Você deve sair com seus amigos, deve se divertir, claro. Mas evite a cerveja. No máximo, no máximo, dois copinhos por semana. Mas tente trocar por Coca Light", sugeriu.
Céus. Bom, se marido consegue, por que eu não conseguiria, não é mesmo?
Mas eu prometo que, se perder uns quatro, cinco, até, pago uma rodada pra galera. Desejem-me sorte (e força na peruca).

17.10.08

Festanças bombásticas, casórios efêmeros

Num destes Lulus`Club da vida, D. contou sobre sua retumbante festança de formatura, há alguns meses, e disse não ter medido esforços para que as lembranças da ocasião fossem as melhores possíveis. Na formatura de D. não teve puta pobre nem gigolô sem cigarro, foram toneladas de requintados acepipes, “cataratas”de camarão, litros de champã da boa (sem essa de espumantezinhas doces com rótulo de maçã), milhares de fotografias (num total de mais de R$ 2 mil, só da colação) e ingestão de quantidades etílicas tão absurdas que o fizeram rebolar até o chão ao som de Créu mesmo quando a banda executava uma vanera.
G. girl concordou com tudo, em absoluto. Disse-nos que na ocasião de sua formatura, em 1983 (hahahahahaha), o Diário de Pernambuco cedeu a capa para flashes dos melhores momentos do randevú universitário. Foram sete dias, uma semana inteirinha de festejos, que culminaram com um delicioso Show de Calouros a moda do tio Sílvio – com direito a solo de guitarra de nossa querida mameluquinha. Oito cabras foram abatidas e icebergs de água de coco com cachaça foram chacoalhadas na coqueteleira para satisfazer a eterna sede nordestina. “Minha mãe disse: filha, formatura é pra vida toda; o que já não posso dizer de um casamento”, relatou-nos G. Sábia dedução.
Porque se apenas uma catastrófica cagada profissional é capaz, hoje, de tirar-lhe das mãos seu tão suado diploma universitário, o mesmo não se pode dizer de um casamento, que, embora comemorado com festas arrasa-quarteirão, gastos infindáveis com flores, decoração, buffet, bebidança, convites e o indefectível vestidão-cobertura de bolo aglacesado (hein?), tem a capacidade metamorfósica de se transformar de sonho de princesa a dor de cabeça daquelas de jogar o caríssimo álbum recheado de momentos românticos pela janela aberta mais próxima.
Não se enganem os leitores com minha visão possivelmente pessimista das bodas matrimoniais. Casamento é bom, eu gosto (do meu) e é sempre bom ter um colinho macio para aconchegar-se nos dias mais frios (e nos quentes também). Mas nem tudo são flores e o mundo das celebrities está aí para não me deixar mentir – se é pra casar mesmo, faça um test-drive antes, pelo amor de Deus. Que o digam Roberto Justus, Eliana Dedinhos, Isabelli Fontana e o loiro namorado do Wolf Maia, Fábio Junior, Ana Maria Braga e os recordistas Murilo Benício e Giovana Antonelli. Isso se ficarmos no plano das celebrities, que eu não sou louca nem nada de dar nome aos bois locais.

Ao invés de impressionar seus convivas com uma mega-recepção, aplique melhor seu rico dinheirinho e impressione vocês mesmos com uma Lua-de-Mel fodástica de um mês de duração. Só por isso o casamento vai perdurar por, no mínimo, um mês a mais que a média.

Plus Bebê a bordo – D. e G. perguntam-se até quando dura o namorico de Ivetão Sangalo, agora devidamente emprenhada, e o rapazinho de 23 anos escolhido a dedo pela musa baiana, tal e qual um touro procriador cujo sêmen vale seu peso em ouro (o peso do boi, não do sêmen). Façam suas apostas. Eu digo que até março a coisa se arrasta. Sem festança de casamento, I hope so. Não quero ser pega de surpresa pela capa da Caras, ainda não recobrei a saúde mental depois do casório de Scheilloka Carvalho em Miami, o de Ju Paes e o de Clauddzinha Leitthy.

3.10.08

Eu acho que vi um gatinho...

Existem os que preferem acreditar ter euzinha aqui "pulado" a fase mais pueril e angelical da infância, o que justificaria meus atos e pensamentos invariavelmente cruéis a respeito dos que abusam da bondade humana para obter o pão de cada dia. Exemplo clássico se encontra na pessoa do senhor Renato Aragão, que fez fama e fortuna quebrando cadeiras na cabeça dos outros três patetas e abrindo a boca com as duas mãos. Como não consigo achar graça em nada disso, considero o cidadão Aragão não-merecedor de tanta fama e destaque, para fúria dos amigos pró-Didi.

Não é nada disso: tive uma infância saudabilíssima e feliz e ainda assim não podia evitar pensamentos lascivos a respeito de Heman e Shera, Smurfette e qualquer um de seus coleguinhas, Heman e Gargamel, Smurfette e Shera, whatever. Não podia entender porque a porra do gato não destroçava o irritante passarinho amarelo. Não conseguia suportar ver o maldito e nojentíssimo vetor de doenças Jerry atirando copos de cristal no pobre Tom.


Décadas depois, meus pedidos finalmente foram atendidos. Voilá!






Deu no G1: Artista inglês recria morte macabra de heróis dos desenhos
Tom finalmente mata Jerry e o coiote pega o Papa-léguas.Obras estão expostas em galeria de arte em Londres.

Por mais que tente, o gato Tom nunca consegue se livrar de seu inimigo eterno, o rato Jerry. Essa é a 'ordem natural' dos desenhos animados, mas o artista inglês James Cauty resolveu subverter essa regra em sua nova exposição na Aquarium Gallery, em Londres. Em uma série de quadros, ele recria o que aconteceria se os personagens animados tivessem, finalmente, um fim trágico.

Ok, não gostei do buldogue ter trucidado Tom. Só faltou o Fred comendo a Betty.

1.10.08

Energizada

Numa olhada rápida, parecia que aquela senhora havia confundido o endereço da missa e entrado no Bar da Luz Vermelha por engano. Mas bastava observar com mais atenção para flagrar a septuagenária magrinha e miúda requebrando até o chão, ao som de Beatles, enquanto sugava com vigor um de seus incontáveis cigarros.
Um show de vitalidade, um exemplo às novas gerações, um caso típico de amor desbragado pela vida, blablabla, clichês não faltariam. Mas a pequena mulherzinha, do alto de seus 1,50m, muchibinhas pendentes no lugar dos peitos, rosto vincado pelo tempo, pelo cigarro e possivelmente pelos excessos noturnos, ainda assim teve que se render à idade avançada, em determinado período da noite.
Após ingerir alguns generosíssimos copos de cerveja, a idosa dançarina procurou lugar na fila do banheiro feminino - foi quando pudemos trocar algumas palavras.
Com a lentidão de algumas fêmeas - que devem urinar à conta-gotas - velhinha não se agüentou e partiu para táticas menos ortodoxas de retenção de urina. Ali mesmo, apertou a xaninha enrugada com a mãozinha crispada, aflita. "Incontinência urinária, boba", relatou-me, em segredo.

29.9.08

A Predadora

Nós, jovens maduros e independentes, que amamos a vida noturna, encontramos nos ambientes de festa um território absurdamente fértil em matéria de tipinhos típicos. É claro - à noite, todos os gatos são pardos e é necessário um plus para se diferenciar, se destacar na multidão - e o álcool é um aliado e tanto nestes momentos.
A tática do "copo na mão" + "cigarro entre os dedos", unida com a estratégia "decote vertiginoso" + "silicone estufado" + "unhas azuis pontiagudas", combinadas com o jeitão "coroa gostosa" e a expressão "tô comemorando o divórcio" fez os meninos do bar salivarem de puro desejo.
Parecia impossível resistir àquela deusa do sexo, seminua, mas com um bolerinho de pele de rato nos ombros; uma minúscula minissaia, deixando voluptuosas coxas descobertas, saltos 12, para valorizar o porte mignon, dançando ensandecida e rebolativa, até o chão, no meio da pista era um claro convite aos prazeres da carne num quartinho de pensão mais próximo a todos os homens que aceitassem o desafio de satisfazê-la.
Foram inúmeras as cantadas, os flertes e as insinuações - e os garotões sub-30 pareciam estar em vantagem até que a Predadora (como foi apelidada pelo grupo) exibiu seu abate..., ou melhor, seu eleito: um cinquentão gorduchinho, de pele ruim e barriga de gestante, com a chave de um carro importado pendurada no bolso da calça de vinco.
Saíram, abraçadinhos, faceiros, trocando olhares de volúpia e sedução.

Uma hora depois, quem está de volta é o barrigudinho. Sozinho e visivelmente suado e esbaforido. Duvidamos muito que a fome da Predadora tenha sido saciada plenamente.

A geração sub-30 continua lá, firme, noite após noite, esperando a oportunidade de ouro de dar o que a maior destruidora de lares do Sul catarina merece.

4.9.08

Quatro coisas

Em épocas de falta de assunto, um recurso divertido e acessível a todo e qualquer blogueiro com crise de criatividade é o "meme" - na blogosfera um post que se multiplica por vários blogs, e é personalizado por cada um dos blogueiros. Exemplo: eu indico cinco blogs; os blogueiros indicados, por sua vez, votam cada um em cinco blogs, e por aí vai. No delicioso Blowg, o meme da vez pede a listagem de quatro coisas em algumas categorias. Curti. Vamos a minha my own private lista das quatro coisas:

Quatro empregos que já tive:
- (quase) telefonista
- redatora (em uma agência)
- repórter
- tradutora (de textos acadêmicos, há!)

Quatro filmes que assisto sempre que passam:
- A garota de rosa shocking
- Quero ser grande (com Tom Hanks)
- Alta fidelidade
- Forrest Gump (ei, nem sabia que gostava tanto de Tom Hanks...)

Quatro lugares que já morei:
- Esteves Júnior, no Centro da Ilha
- na Lagoa
- Piedade, em Jaboatão (há!)
- Vigário José Poggel, em Shark

Quatro programas que gosto de assistir:
- CSI
- Gilmore Girls
- America´s (or Brazil´s) Next Top Model
- Iron Chef

Quatro pessoas que me mandam e-mail regularmente:
- Maró
- Catho
- Susan Rock
- Saraiva

Quatro coisas que você faz todos os dias:
- Assisto Gilmore Girls
- Deito de lado no sofá até ficar com dor nas costelas
- Penso em coisas gostosas de comer
- Leio

Comidas que gosto:
- Feijão
- Sushi
- Gnochi (ou nhóque, whatever)
- McDonald

Quatro lugares que gostaria de estar:
- Floripa
- Na praia (com sol e calor)
- Em Paris
- Com ele.

3.9.08

Notícias de um seqüestro

Com a convivência as amizades vão se fortalecendo, tornando-se mais robustas e mais prósperas, até que chega o momento de acreditarmos, tolamente, enxergar a alma da criatura denominada "amigo" bastando um simples acenar. Engano cruel. Há almas que jamais poderão ser desvendadas. Como a da querida Charlotte C., amizade daquelas que, mesmo após intensos cinco anos de contatos constantes, não nos permitiu um mínimo vislumbrar de seu enigmático interior (entendam por interior seu espírito, please).

Há muitos e muitos meses, em visita de cortesia à residência de Sertaneja girl, Charlotte, a morenaça mais diabólica de Ribeirão Preto (e isso é tudo o que sabemos dela, até agora), encantou-se por um brinquedinho da anfitriã: uma minúscula bolinha de borracha azul, daquelas feitas para se atirar com força na parede em momentos de estresse extremo. Encantou-se tanto que amealhou o trequinho e o embolsou, sem mais delongas, enquanto dizia que era dela e que ninguém tascava.

Após alguns momentos de tensão, a garota foi convencida a entregar o artefato para sua devida dona, não sem relutar bravamente.

Muito tempo se passou. Na última reunião em casa de Nordékia girl, esta debochava, às gargalhadas, da cara de pau da amiga paulistana em surrupiar sua bolinha de estimação, para constrangimento total da pseudo-ladra, que ficou se desculpando, humilhada e cabisbaixa.

Por um momento todas nós tivemos a doce impressão de que nossa encrenqueira predileta tivesse se reabilitado. Até que no dia seguinte recebemos este email da dita cuja:

Assunto: Refém!

Reconhecem o objeto dessa foto? Pois bem, meninas, mexam-se: trata-se de um... SE-QUES-TROOOOOOOO! Hahahahahah!!!!

Sem que ninguém percebesse, e irritada por se tornar motivo de piada perante as Lulus, brunette belzebu voltou a embolsar a bolinha. Desta vez, sem aviso prévio. A bizarra mensagem era precedida desta imagem:


Ninguém mexe com Charlotte C. Para reforçar sua ameaça, um dia após o comunicado de resgate, a perigosa enviou um envelope contendo um pedacinho de couro azul, com os dizeres:

"Se não houver contrapartida, amanhã tem mais"

Oremos pelo destino da pobre bolinha...

27.8.08

No bus, na Ilha

É ultrabrega, mas não consigo evitar visitinhas rápidas (ou nem tão rápidas assim) para conhecer shopping center novo. Coisa de provinciano, de colono, estancieiro impressionado com a cidade grande? Claaaaro que sim, ainda que o prazer de bater perna por longos corredores e namorar inúmeras vitrines continue garantido, a despeito do meu senso de ridículo. No último findi fui passear em terras florianopolitanas em visita ao querido amigo Johnny boy, que aniversaria esta semana (26 anos, hein? Tô quase lá).
Após uma agitadíssima noitada regada a champagne (hahahahah), no Confraria, com direito a uma deliciosa boquinha madrugal no Bob´s, decidimos passar o dia seguinte num shopping novinho em folha no querido bairro Santa Mônica (Lora, você não vai mais reconhecê-lo). Após horrores de compras desenfreadas (uau...) decidimos tomar o rumo de casa usando o velho e bom transporte público. Foi aí que tudo começou.
Meu amigo e eu escolhemos os últimos bancos antes da porta de saída, aqueles mais altos. Enquanto nos acomodávamos com nossas centenas de sacolas, fomos surpreendidos por alguém que cantava uma musiquinha bastante da safada, em princípio apenas murmurando, logo a seguir elevando o volume, tal e qual um radinho de pilha, até chamar a atenção de toda a galera do coletivo:

"Quero seu amor!
Quero seu carinho!
A onda agora é dançar agarradinho!
Que gostosinho, nesse passo miudinho,
com jeitinho safadinho
Eu só gosto com você..."

Neste momento o cantorzinho dá uma requebra fenomenal de quadril e passa a gritar a plenos pulmões:

"No xenhemnhém da sanfona
no plim plim plim da viola
Bate na palma da mão
Remexe, requebra, rebola!"

Já rolando no chão e em lágrimas, Johnny boy and me notamos que enquanto todos se divertiam com o maluquete fã de Daniel, um sujeitinho muito do mal-encarado nos observava de canto de olho, sorrateiro, e com uma mão estrategicamente escondida dentro do casaco, como se segurasse algo junto ao peito. "Um revólver", pensei.
Lembrei do dia anterior, quando, ao circular pelas ruas da cidade, deparei-me com um Notícias do Dia, na banca, que alarmava: "Aumentam casos de assalto em ônibus na região". A região era aquela mesma, Floripa. Achei melhor deixar minha bolsa debaixo do banco, com sorte o ladrão me deixaria em paz e eu teria dinheiro para pagar minha passagem de volta.
Breve confusão mental: enquanto nos encantávamos com o menino cantor/dançarino/despudorado, tremíamos na base com os olhares cada vez mais ameaçadores e frequentes vindos do homem-mal-com-a-mão-sob-o-casaco. Pensamos em sair dali, mas o artista rodoviário bloqueava o caminho enquanto gemia e requebrava gostosinho até o chão.
De repente, o homem mal se levanta. "Chegou a hora", imaginei, em pânico. Nos dá uma última olhada e ruma em direção à porta de saída do meio. Desce. Suspiramos, felizes e imensamente aliviados.

Aí o cantor-dançarino engraçadinho puxa um trezoitão e anuncia um assalto.

20.8.08

Laura Palmer

A moça, do interior, era a mais recatada das criaturas. Namorado firme, noivado em vista, planos de casório, de casinha com cerca branca, três filhotes gordos e rosados, galinhas, uma vaca holandesa e um leitãozinho no chiqueiro, a ser sacrificado no Natal.

De repente, mudou - curiosamente, pouco depois de conhecer sua nova roommate, meio amalucadinha. Pintou os cabelos, trocou o guarda-roupa, passou a usar maquiagem. Num dia, roubou um delineador, nas Americanas. Até hoje não sabe como conseguiu escapar do constrangimento de ter a bolsa revistada por um segurança.

Em outra ocasião, aceitou dar um rolê com seus colegas de trabalho. Foi quando fumou seu primeiro baseado. O primeiro de muitos. Largou o namorado e tornou-se figurinha fácil na noite daquela ilha dos desejos permitidos. Transformou-se em uma exímia predadora. Nas festas, escolhia o espécime masculino que mais lhe chamava a atenção e atacava, despudoradamente. Sempre com sucesso.

A roommate maluquete elaborou uma lista com os nomes (às vezes, apenas um apelido) das vítimas já abatidas. O rol tornou-se quilométrico.

Insaciável, a moça ganhou o apelido de Laura Palmer, alusão à obra de David Lynch, que traz a história de uma belíssima jovem, um anjo em família e um demônio de saia e cinta-liga no submundo.

Mas esta Laura Palmer tupiniquim não teria o triste fim de sua alterego. Esperta, decidiu que sempre tomaria as rédeas de qualquer situação. Quase sempre dava certo. Como no dia em que saiu com Girso, um de seus affaires de ocasião. "Só sabia pegar o rumo pra São José, um motel pocilga que tinha por lá. Eu odiava, ele podia pagar coisa melhor, mas sempre pedia o quarto mais simples. Neste dia eu reclamei. Disse: ai, a gente só pega este quarto. Ele se coçou, pediu um melhor, tinha banheira com hidro e um teto de vidro", conta a perversa.

Mas a mágoa pelo pouco caso de seu partner quanto às instalações onde fariam amor já estava instalada em seu coraçãozinho pequeno-burguês. Odiou-o naquele momento, e continuou odiando-o enquanto se requebrava sobre ele, na cama de lençóis baratos.

"Dei uma surra. O coitado saiu até tonto. Era verão, estava quente, ele decidiu se jogar na banheira. Com as pernas bambas, escorregou e bateu a testa na quina da banheira".

Enquanto improvisava um curativo, Laura Palmer se perdia em devaneios: "Bem feito", pensou, contorcendo-se em risadinhas internas.

Inconstâncias da moda e o biquíni de lamê

Jovens na faixa dos 20 anos talvez desconheçam as delícias de se travar amizade com mulheres com mais de 40, do tipo que já viveu um ou dois casamentos, que tem filhos na universidade, que já viajou o mundo, já trabalhou, já foi dona-de-casa e hoje não sabe bem se arruma um amante ou se faz uma (outra) pós-graduação. Mulheres com mais de 40 são terríveis, espertas, descoladas, maliciosas e de língua afiada. Praticamente como eu, só que com muito mais bagagem. (Quase) todos os dias, pela manhã, tenho encontro marcado com algumas mulheres com mais de 40 (vamos chamá-las de MCMDQ). Enquanto suamos na esteira, falamos um pouquinho de tudo: olimpíadas, cinema, pessoas, jornalismo e até moda, assunto, aliás, que já se tornou recorrente.
Uma dessas MCMDQ expôs, dia desses, seu maior pesadelo: mulheres que não fazem distinção quanto ao frio e ao calor. Tipos, a moça comprou botas novas para um inverno que prometia ser de gelar os ossos. Na semana passada, pescou na lojinha favorita o lançamento primavera-verão que vai bombar: uma singela frente-única axadrezada. Na primeira balada possível, o look já está pronto: botões até o joelho, insinuando neve na Sibéria, e braços, ombros e nuca à mostra, numa vibe Caribe - esta desproporção térmica também me irrita profundamente.

Irrita quase tanto quanto biquíni metalizado. Todo mundo sabe que o Brasil produz os trajes de banho mais pimpões do mundo, lindos, de fato. Mas as americanas (principalmente as que freqüentam a telinha do E! Entertainment) parecem não saber disso. "Pudicas", cobrem suas derriéres com calçolões que constrangeriam até minha santa avozinha.
Em contrapartida, mal escondem seus vastos melões em cortininhas minúsculas de janela basculante.
E o material destes biquínis, meu Deus? Lamê? Prata ofuscante ou dourado reluzente, a idéia é shine like a star nas areias de Miami. Mas tem gosto pra tudo neste mundo, mesmo...


- "Tô bunitãmmmm?"

18.8.08

Mansão Rosa em obras (ou O Cadastramento)

Há alguns dias fui visitar a querida Madame Louise - não sem antes reservar um horário em sua atribuladíssima agenda. Quando cheguei aos portões da Mansão Rosa, surpresa: operários da construção civil, sarados, suados e em trajes sumários, desfilavam carregando vigas, ripas de madeira, galões de tinta e brochas, para cima e para baixo. Madame está a reformar suas tão grã-finas dependências. Minha antiga suíte, por exemplo, encontra-se no momento soterrada com as prateleiras de mogno da biblioteca real de Madame, com todas as enciclopédias, as edições de luxo de primorosas obras literárias e as revistas Caras, as quais Madame tanto preza, delicadamente encadernadas em couro, tudo displicentemente espalhado por todos os cantos.

Madame, sempre muito ativa, contratou a organizadora de ambientes Susana Rock para auxiliá-la em mais esta grandiosa obra. "Agora Susana está dando um acabamento original na mobília. Por exemplo, nas peças da sala de jantar ela optou por fazer uma pata, ficou lindo", comemorou Madame, referindo-se à técnica de decoração feita com sobreposição de tintas (olhei no google).

A reforma, que promete não sair nada barata, foi motivo de questionamento junto aos três rebentos de Madame, princesa Déia e duques Crébinho e Édinho. Édinho, o primogênito, chegou a interpelar a nobre senhora para apurar as verdadeiras razões para tão radical mudança. "Mas meu filho, tu sabes que esta reforma vai servir para aumentar meu matrimônio", tranquilizou Madame, querendo garantir um futuro tranqüilo para si mesma e para seus descendentes (como se precisasse se preocupar com assuntos tão mundanos).

Meus olhos, até então fixados nos operários, se voltam para o backyard de Louise (ou quintal, para os menos poliglotas). O que vejo, para minha surpresa absoluta? Um pequeno cãozinho amarelo, atado a uma corrente de ouro 18 quilates. "Mas do que se trata isso?", quis saber. "Ah", sorriu Madame, matreira, "Esta é a Lala, adquirimos a bichinha numa petshop da cidade. Já veio até cadastrada", observou a amante dos animais, lembrando do importante método que impede cadelinhas de emprenharem por aí, à toa. Enquanto eu me divertia com Lala, um pequenino inseto, vulgarmente conhecido como pulga, saltou de seu focinho para minha camiseta...

E mais uma deliciosa tarde se passou na Mansão Rosa (agora, em obras).

9.8.08

Topicozinhos básicos

* Faltou luz no prédio (e na cidade toda) e o vizinho, adolescente, bateu timidamente à porta pedindo emprestado um palito de fósforo. Cedi-lhe a embalagem inteira, uma caixa miúda de 1,80 por 1,10m, da Fiat Lux, adquirida por marido quando de nossa primeira mudança, ainda no Universitário. Educadamente, o menino agradece e promete voltar em breve, para devolver. Com a falta de luz, o fogão da família, elétrico, não tinha condições de ser acionado e a hora do almoço já se anunciava. Já faz uma semana e a caixa de fósforos que nos acompanha desde o início de nosso matrimônio informal ainda não deu as caras. Confesso ter certo pudor de subir e reivindicar meus palitos de madeira, acho que a iniciativa deveria partir de quem pediu o treco. Ainda correria o risco de ser taxada de "unha de fome" porque quis de volta uma caixa de fósforos. A MINHA caixa de fósforos. Chocada com tanta falta de respeito e de consideração.

* Fiquei contente porque, no bailão de formatura de Suzanita, percebi que as meninas universitárias de Shark estão finalmente deixando de (apenas) imprimir brega. Muita gente bem vestidinha, roupinhas descoladas, calçados decentes. Mas, hahá, para a exceção virar regra, ainda falta muito pano pra manga (e para todo o resto do corpo). Por exemplo, a gata da academia que, apesar de contar com formas relativamente enxutas, ostenta uma barriguíssima de quem já pariu e que ela insiste em exibir usando o legging na linha do púbis e a camisetinha embaixo dos mamilos. Se acha boazuda, mas, fala sério, é constrangedor.
Aí eu flagro conversinha entre ela e uma amiguinha, combinando de ir pra buátchi, mais tarde: "Acho que vou com aquele legging todo recortado, de cima a baixo". Ansiei. Aí ela complementa: "E com a plataforma de madeira". Céus, não poderia ser mais típico.

* Quem-matou-Thaís revival: há alguns anos eu tenho o privilégio de não assistir a absolutamente nada da programação da TV aberta (só o Jornal do Almoço ou só quando visito Manékia girl, a globalizada). Mas o que é retratado na telinha da Vênus Platinada não se restringe ao horário da novela das oito, vai muito além: pessoas discutem rumos de personagens na mesa do mar, no ambiente de trabalho, no jantar em família; revistas trazem previsões assustadoras para os próximos capítulos; blogs (até os bacanas) elaboram teorias das mais absurdinhas sobre os possíveis desfechos dos folhetins.
Se há alguns anos me senti totalmente deslocada com a polêmica em torno da personagem de Alessandra Negrini, Thaís, em uma novela (da qual sinceramente não lembro o nome), agora o drama volta na forma de Donatela e Zé Bob (e outros nomens bizarros). Ainda assim, e mesmo em período de entressafra dos enlatados americanos, não retrocedo. Detesto Cláudia Raia, canastrona que só ela.

2.8.08

O Perseguidor

Tínhamos 16 anos e o mundo conspirava contra nós. Entre os planos de morar juntas na Ilha da Magia, para cursar a faculdade, e o de instalar bombas em pontos estratégicos de Shark, passávamos nossos dias num conversê dos mais produtivos. Nosso hobbie nas inúmeras horas vagas era o de bater perna pelo Centro da cidade e traçar perfis absurdos de pessoas que só conhecíamos de vista, pelo ir e vir da minilópole.
Havia o John Lennon, o Queixo de Tamanco, a Gorda, o Cowboy, o Anão, um outro Anão (que nos infernizava em sala de aula), o Cabeça de Massinha, o Homem dos Dentes de Diamante, os pedrês e as faxis.
E havia ele, um rapaz de aparência pouco notável, olhar levemente psicótico, discos de vinil debaixo do braço e camiseta de banda.
O encontro, praticamente diário, se dava na esquina da Tubalcain com a Patrício Lima e seguia por esta avenida até a rótula do Angeloni (esta é só para quem manja a geografia de Shark).
Como ocorria com frequência, concluí que o rapaz seria o namorado ideal para minha fiel escudeira, Lora W. Para rebater, Lora percebeu que ele cairia como uma luva em meus braços. Até hoje não sabemos quem ele realmente desejava, mas isso é irrelevante.
O moço cravava seus olhos desvairados em nós, nós o encarávamos, falsamente sedutoras, tremendamente sacanas, enquanto nos cutucávamos mutuamente, aos beliscões, dado o impacto de cada um desses encontros explosivos.
Belo dia e nos despedíamos, eu e Lô, bem ali no trevinho bendito: eu seguiria pela Expedicionário e, se desse sorte, pegaria carona na CGzona power de Tio David. Ela seguiria em frente, pela P.L., com destino ao Luluca S., seu endereço residencial, à época.
Enquanto tricotávamos, nosso apaixonado anônimo ia e vinha, vinis do Guns n´Roses no suvacão, sorrizinho besta no cantinho dos lábios.
Lá pela quinta passagem do moço, soa um alarme: este rapaz está nos perseguindo, constatei.
Pânico na Zona Sul. Lora W, sempre chorosinha, verteu copiosas lágrimas de terror. Eu já rolava no chão, de tanto riso e desespero. E o moço firme, indo e vindo, colado no Use Your Illusion.
Nos desvencilhamos, às pressas, após uma brecha dada pelo rapaz, correndo e torcendo, cada uma por si, para não sermos "a eleita" e, consequentemente, "a perseguida".
Depois deste episódio dei-lhe um nome: Perseguidor. Ou Per, para não darmos muita bandeira. Per tornou-se personagem célebre em nosso pacato dia-a-dia e em nossos agitadíssimos fins de semana. Fosse no Barbata, no 7 ou na Sssssíder, em Capiva Under, lá estava ele, sempre solito, a nos observar.
O tempo passou. Quase dez anos depois, voltei a Shark, a procura de um rumo na vida. Fui convidada a passar aquele verão na casa de praia da Madrinha. Sem $ nem para o bus, fiquei na espera de que uma alma caridosa me tirasse daquele calor infernal da cidade, em pleno janeiro. Madrinha mexeu os pauzinhos e arrumou um esquema: "Os filhos da fulana vão passar por aí pra te dar carona". Feito.
Quem abre a porta do carro é uma moça simpática e prestativa. Entro no veículo meio desajeitada, de microssaia jeans (tava calor, pessoas!), e cumprimento o motorista pelo espelho retrovisor.
Com um meneio de cabeça, ele retribui o cumprimento, vi pelos olhos. Aqueles olhos.
Em um segundo quase dez anos passaram voando por mim. Per. O perseguidor de minha adolescência se materializava ali, na minha frente, olhando para o vão das minhas pernas em saia jeans, pelo espelhinho. Tremi.
Durante todo o trajeto Per manteve-se praticamente em silêncio, respondendo monossilabicamente às perguntas feitas pela irmã. Quando chegamos ao meu destino, ele sai do carro e me ajuda a carregar a mala. Foi quando percebi que sim, ele lembrava de mim.

29.7.08

Telefone sem fio e outras maravilhas da vida adulta

Sexta-feira à noite e, de acordo com a mais nova mania dos jornalistas e agregados sharkcitianos, galerinha firmeza nas dependências do Youngest Child, bebericando Originais (até que estas se esgotaram e foram substituídas por skolzinhas modestas). Vários mexericos, babados, futricas e inverdades venenosas rolando soltíssimas, como de hábito. Constrangemos horrores o amigo Andrezãããão diante de sua amiga Elaine, recém-introduzida no grupinho, e Elaine tratou de constranger Andrezãããão diante de nós, juntando a fome com a vontade de comer - torturar Andrezãããão é uma das atividades mais unanimamente deliciosas do bando.
De repente, após insistentes cochichos ao pé do ouvido, envolvendo uns e outros, surgiu a brilhante e maduríssima idéia de brincarmos alegremente de telefone sem fio. Sucesso que tem tudo para se transformar no clímax das noites de sexta.
Ninguém lembrou da origem, mas no fim a mensagem era: "O pão do André solta fogo pelo rabo". Mas há controvérsias. Posteriomente, marido garantiu que a frase formada foi: "André soltou um pão pelo rabo", or something. Whatever.
Anyway, chegamos à conclusão de que precisamos mudar de point, unfortunelly. Youngest Child não nos merece - nem bem soam as badaladas indicando duas da matina e a garçonaria assanhada inventa de atrasar a cerveja, retirar mesas e cadeiras e bloquear a entrada para o banheiro. Até mesmo - pasmem - apagar as luzes, só pra dar aquele sustinho.
Estamos à procura de uma nova sede. Ai, que saudades do Laio...

23.7.08

(como se fosse) A primeira vez

Moça pura e virginal, Susan Rock foi instruída a procurar atendimento especializado e descobrir as razões para seus calores internos, suores frios, arrepios na espinha, inchaço dos seios e espasmos vaginais.
A senhorita mais correta e casta da família Teixeira, portanto, procurou o postinho de saúde mais próximo, na putaqueopariu, e lá chegou bem cedinho, antes das sete da madrugada. "Sentei-me lá e esperei durante toda a manhã. Chegou todo tipo de gente, coxos, cegos, epiléticos e possuídos pelo demônio, e nada de eu ser atendida", relata.
Meio-dia e meia, postinho vazio e finalmente uma atendente chama a ingênua e angelical moça, já em cólicas de ansiedade. "Tire toda a roupa e ponha esta camisola aqui", ordenou a funcionária, atirando-lhe um trapo que não cobria nada.
Deveras constrangida, Susan delicadamente se deita na maca, perninhas juntas. A mulher determina que a paciente encaixe as pernas na engenhoca de ferro frio que permite visualizar os recônditos mais secretos de uma fêmea.
Mademoiselle Susan, neste momento, já ardia de vergonha por expôr tão explicitamente suas indecências até então imaculadas. Foi quando passou a observar a enfermeira providenciar o equipamento para fazer um ultrassom transvaginal.
"A mulher puxou um tabaco de aço bem grosso, gigantesco, e encaixou uma camisinha. Sem cerimônia, virou para mim e foi metendo aquela monstruosidade grotesca em minhas entranhas", confidenciou aos amigos mais íntimos.
Susan, praticamente uma noviça, enrijeceu-se totalmente. Prática e bem treinada, a funcionária a incentivava, enquanto alisava o estômago retraído da pobrezinha: "Relaxa, querida... relaxa que melhora"...
Instrumento de aço vem, instrumento de aço vai, e de repente um grito desesperado e lancinante corta o silêncio no postinho de saúde. "AHHHHHHHHHHHHHHHH!!!".
Susan Rock estava curada.

20.7.08

Nove anos depois (ou "uma parte de mim")

Mesmo que ela chegasse com o cabelo detonado, roupas bagaceiras e adereços exóticos, mesmo que ela estivesse gorda, velha e precisando de uma esfoliação facial urgente, mesmo que ela surgisse loira blond ambition, de legging tigrado e saltos 15, eu não me enganaria. Mas ela apareceu e foi como se quase longos dez anos ficassem para trás. Cabelos impecáveis (tô cheia de fios brancos, ela disse), pele de pêssego (uso renew de manhã e à noite, religiosamente, revelou), cinturinha silfídica, jeans 36 (ou 34?). Lindíssima e ainda mais doce do que minhas últimas recordações. Sim, Lora W. is back, baby!
Quem me conhece há alguns anos sabe que por um longo e produtivo período - da pré-adolescência ao início da vida adulta - me and Lora éramos unha e carne, meia-calça e cinta-liga, chicotinho e salto alto. Corda e caçamba. Gelo e limão (chega de comparativos).
Mas as idiotices daquela enfadonha fase menina/mulher e estudante em fase de TCC fizeram com que nos afastássemos. Era 1999. Neste fim de semana, nove anos depois, o reencontro.
Encontrei uma mulher mais madura, muito mais segura, mais centrada, um quê casadoira (se cuida, S!). Mas também (re)encontrei a mesma menina franca, delicada, mas firme, amiga daquela Skol geladinha (tás sempre com o copo na mão, né, nega?), dedicada à família, romântica, amiga.
Foi com Lora que tomei os primeiros (e muitos) porres homéricos, foi para ela quem contei de minhas primeiras experiências românticas, dividi angústias e aflições adolescentes, com ela (e com a mãe maravilhosa dela) li meu nome entre os aprovados no vestibular. Com ela teve praia, Canto Grande, Carnaval, Barbatana, Ssssssíder, moda e modismos, terceirão, universidade, planos para o futuro.
Fico em dúvida se realmente nos distanciamos por nove anos ou se por apenas um dia muito longo e conturbado. Porque tudo foi tão natural, fluído, rápido, divertido (embora com momentos dramáticos), foi tudo uma grande e revigorante sessão de terapia.
Foi dela que eu precisei tantas vezes nestes longos anos, em diversos momentos cruciais. Mas o que são nove anos passados, se ainda temos meros 30 e uma vida inteiríssima repleta de possibilidades pela frente?

(devido à ânsia em atualizar-nos mutuamente, cometi o erro medonho de não registrar o reencontro fotograficamente. Mas Lora W. há de me enviar uma fotinho, ainda que das antigas, né?)

18.7.08

Erasure, o celular e o motoboy

Aí a morenaça belzebu mais alisada ever - sempre ela - resolve quebrar o marasmo da noite de quarta-feira com a seguinte pérola:


Eu: Então, Manékia diz que todas as músicas do mundo são dela, a fazem lembrar de bons momentos de sua vida. Seu "hino", por exemplo, vejam só, é a breguérrima "Deixa a vida me levar, vida leeeeva eu...", cantarolei.

Esperta e antenadíssima, Charlotte rebate, muito defensorinha das raízes da Música Popular Brasileira:

- Ah, mas essa tudo bem, né? Martinho da Vila é legal.


Silêncio...


Manékia quebra o gelo observando:

- Mas isso aí é Zeca Pagodinho...


Ok.


Com a chegada da nova integrante do clubinho mais restrito do mundo, Talita, os ânimos se inflamaram. Skolzinha vai, Skolzinha vem, acabou o estoque.

- Liga pro motoboy e pede maaaaais! Eu pago! - bradou a nordestina latifundiária e cacaueira.

Charlotte, obediente e já de boca seca, se agarra ao telefone e encomenda mais uma dúzia. Quando o motoboy chega, no entanto, não havia troco para uma das inúmeras notas de R$ 100 de nossa rica anfitriã. Belzeba se agita:

- Mas como assim? Eu PEDI troco! - garantia, categórica.

O jeito foi o rapaz deixar seu próprio telefone celular como garantia, até trazer o devido troco. Aí começou a festa.

Primeiro porque, de posse do celular, e esquecendo momentaneamente conceitos importantes como respeito ao próximo, tratei de fuçar as mensagens do rapagão. Eram duas. A primeira dizia:

"Fiquei muito preocupado com você, princesa. Chegou bem no castelo?".

Achei fofo, bonitinho, mega-romântico, uma graça. Aí, a segunda mensagem, em caixa alta:

"VOCÊ É CASADA???".


...


Charlotte, a DJ nas horas vagas, trata de zapear o cellphone do rapaz em busca de hits musicais. Tinha Aerosmith, tinha Engenheiros do Hawaií e tinha até MV Bill, que o mano não era fraco. Mas aí descobrimos Erasure:


A Little Respect


I try to discover

A little something to make me sweeter

Oh baby refrain

From breaking my heart

I'm so in love with you

I'll be forever blue

That you give me no reason

Why you're making me work so hard

That you give me no

That you give me no

That you give me no

That you give me no

Soul, I hear you calling

Oh baby please

Give a little respect

To meeeeeeee!!!!!!!!


Vibramos, ensandecidas com o revival oitentista. Cafofo de Manékia transformou-se em boate badalada. Todo mundo rebolando até o chão. Toca o interfone.

"Ai, o celular do rapaz!", gritamos, as quatro. E quem diz que a técnica em telefonia celular nas horas vagas, Charlotte C., conseguia desligar a geringonça? Aperta daqui, aperta dali, e o motoboy subindo.

Me escondi atrás do armário, riso convulsivo, vergonha absoluta.

A gênia da Charlotte calculou que seria interessante trancar-se no banheiro com o celular disparado nas mãos.

Manékia conseguiu recobrar um tantinho de bom senso e esmurrou a porta do bathroom exigindo o telefone, enquanto "A Little Respect" tomava conta de todo o ambiente.

O rapaz, já na porta, felizmente gargalhava.
A morenaça, um quê constrangida, abriu uma micro-frestinha da porta, esticou o braço e entregou o telefone a uma nordestina em pânico, com o sonzinho no último volume.
Celular entregue, desculpas sinceras aceitas, e reparamos que o bofinho se encontrava com o zíper abertíssimo.
Desfaleci...

Alguns goles depois, decidimos, finalmente, ir embora. No caminho, brunette lembrou-se de solicitar os préstimos de um mototaxista, que o conduziria até sua residência.
Enquanto esperávamos, ríamos da noite conturbada, torcendo para não cruzarmos mais com o mocinho do celular do Erasure, pelo menos nos próximos meses.
A moto de Charlotte desponta na esquina da padre Bernardo. E adivinha quem era o motoboy?

16.7.08

O retorno de Madame (ou "A Inhóga")

A escolinha da neta de Madame Louise, para os ignorantes uma das figuras mais influentes na sociedade sharkcitiana, realiza, com certa freqüência, eventos que envolvam pais e filhos. Pois bem. No último fim de semana Madame, cercada por seus asseclas (princesa Déia e os súditos Guigui e Henrique), acompanhou Rafaela I ao colégio, onde a pequena participaria de um divertidíssimo convescote social. Divertidíssimo é apelido.
Todos sabemos aqui da relutância de Madame ao aceitar os milenares hábitos e costumes orientais. A prática da swásthya yoga, por exemplo, é capaz de fazer Madame adormecer em questão de segundos. "Inhóga... humpf!", resmunga Louise, questionando a eficácia dos movimentos lentos e delicados feitos sobre um colchonete fino.
"Várias salas foram transformadas em oficinas para a realização de atividades das mais diversas. Em uma delas, encontramos os tais colchonetes espalhados pelo chão. Não tive dúvidas, chamei Guigui e Henrique e nos jogamos", conta princesa Déia, que, como se sabe, não paga imposto para rir (ou gargalhar, ou perder o fôlego e se afogar em lágrimas de tanto riso). Não deu outra. Todos posicionados, perceberam a presença de Madame, contrariada, pertinho da porta, sentada em uma cadeirinha, tentando controlar seu ar blasé.
A mulher-instrutora de inhóga, de frente para o grupo, pede que todos relaxem, respirem bem fundo e "imaginem uma luz branca entrando". Madame se contorce na cadeira, faz aquela cara de quem perguntava "entrando aonde?" e passa o dedo indicador pelas narinas, como que se livrando de um incômodo fio de cabelo ou de uma gota de coriza, gesto universalmente reconhecido por todos os integrantes do clã Teixeira, independente de qual continente habitem.
Pra piorar o quadro, instrutora pede que todos executem o mais famoso mantra da técnica de relaxamento, o Ohmmmmm. Pronto. Madame geme alto e circunda os lábios com o indicador e o polegar, como se limpasse os contornos de um batom mal-aplicado. Foi a gota d´água. Princesa Déia não se contém e atira-se sob o colchonete, em movimentos convulsivos. Foi retirada da sala pela segurança do campus universitário.

A Estranha Perfeita (nem tão perfeita assim)

Baseado em fatos reais:

Por algum motivo ainda desconhecido da humanidade, acreditamos piamente que as mazelas sofridas pelos outros jamais irão bater em nossas portas - até o dia em que batem. Acidentes bizarros, confusões absurdas, dramalhões mexicanos, grandes problemas familiares, tudo parece muito distante de nossas pacatas realidades quando nos encontramos na função de meros expectadores.
Alceu acompanhava, indignado, os noticiários da TV, onde a podridão da sociedade é cruelmente dissecada, todos os dias. Jamais imaginou que um revés digno de Manoel Carlos se abateria sobre sua vida. Bem casado, Alceu julgava ser uma pessoa desmedidamente feliz. Para espantar os momentos de solidão longe da amada - o casal, modernamente, vive em casas separadas - o rapaz teve a infeliz idéia de circular por determinados ambientes virtuais que lhe proporcionassem certo amparo sentimental.
Foi quando conheceu Danielle B. A moça, carente e solitária, eternamente à procura de um grande amor, contou passar seus dias entre a fábrica onde ocupava um importante cargo de engenheira e sua casa, onde morava com sua mamã. Curiosamente, a pobreza de vocabulário e a estreiteza das idéias não provocaram desconfiança a Alceu.
Da sala de bate-papo a amizade migrou para endereços de e-mail e de conversas instantâneas mais privadas. Quando deu por si, o rapaz já havia se habituado ao frescor de uma conversa descompromissada em meio ao seu turbulento ritmo de vida; habituou-se à bajulação da admiradora à distância, sempre tão solícita, disponível, compreensiva e carinhosa. Seu ego e sua auto-estima foram parar nas alturas e até o relacionamento com a esposa, sempre tão tranqüilo, tornou-se subitamente mais picante e passional.
"Certo dia ela me contou que faria uma delicada cirurgia de períneo. Deu detalhes, revelou que sofria com incontinência urinária e que sempre sonhara em acordar limpinha e seca em sua cama. Disse que também iria aproveitar a intervenção cirúrgica para cauterizar algumas verrugas genitais, coisinha básica. No dia da cirurgia, mandei mensagem desejando boa sorte. Logo depois, enquanto resolvia importantes questões de trabalho, na firma, recebo uma ligação dela. O céu desabou", relata Alceu, o idiota.
Danielle - se é que ainda podemos chamá-la assim - parecia outra. Não mais a moça inexperiente de antes. Uma outra mulher, de língua ferina e vocabulário (ainda mais) chulo. Revelou não se chamar Danielle B., não trabalhar em fábricas paulistas, não ser engenheira, não nada. Contou uma história maluca onde teria sido muito bem paga para fisgar o otário do Alceu e levantar o máximo de material possível - entre e-mails, conversas de messenger e telefonemas - que comprovassem o menor indício de infidelidade da parte do gajo. O plano maligno visava chantagem.
"Meu trabalho aqui já foi feito, encomendado por uma pessoa que te odeia muito e que quer destruir o teu casamento" (sim, foram estas as palavras usadas pela golpista, e não apenas um recurso literário piegas). "Fiquei tão nervoso que, se fosse mulher, minha menstruação teria descido na mesma hora", contou Alceu aos amigos, depois.
Drama maior foi contar toda a travessura para sua tão amada esposa - antes mesmo que esta descobrisse por outras vias. Tudo foi resolvido e o casal, felizmente, voltou às boas.
Alceu abandonou de vez a internet - hoje só a usa para trabalhar.
E Danielle B.? Esta, enquanto trata de suas verrugas genitais - este ponto, de acordo com a mesma, era o único verdadeiro - está sendo cuidadosamente vigiada. Por enquanto, à distância. We´re watching you, Danny girl...

Relato de uma noite em Shark city

Nem bem se assentava a segunda Original e a pernambucaninha arretada já pedia água - ou melhor, pedia louça. Aí que euzinha aqui fiquei por longos 20 minutos solita na mesa do lendário Youngest Child, em Shark, reduto das beldades mais cinquentonas do Sul catarina.
Fiquei então a observar a movimentação intensa da casa que serve deliciosas "carnes na tauba ®", onde a voz e violão de ocasião capricha num mix entre Djavan, Jota Quest e Ivetinha, levando muitas às lágrimas enquanto cantarolam: "Voe por todo o má-ar, e volte aquiiiiii, pro meu peeeeeitooo".
Nordestininha girl volta, finalmente, translúcida e suando frio: "Olha, acho que botei a febre pra fora", observou. A febre, as taças de Original e o filezinho-falcatrua.

A galerinha foi chegando e se aboletando à mesa e eu finalmente me digno em ir ao bathroom. No recinto, três gatinhas que já ultrapassaram o cabo da boa esperança há milhões. Uma delas, a mais "madura", se exibia faceira em um caftan (há, pergunta se ela sabia o que era caftan?), de tecido vaporoso e print felino (esta eu aprendi lendo a Estilo). As companheiras, em uníssono:
- Ai, amiga, que brusa linnnnnnda!
- É, né? Comprei na ABaratinha. Lá as peça é tudo excrusivo. Se alguém levar uma, tu não achas igual. Se não tiver do teu tamanho, tu vais ficar sem. Esta blusa aqui, por exempro, você já não vai encontrar mais por lá".

Pensei: "Graças a Deus".

A noite terminou de maneira tranqüila e habitual, com os garçons do Youngest Child nos colocando para fora do recinto, junto com o lixo. Sim, eu também estou nesta comunidade do Orkut...

11.7.08

Saia justa ao vivo

E então o apresentador/colunista mais popular da TV catarinense entrevistava a cantora Marina Lima, que toca em Floripa neste findi, I guess. Sou da época em que "À Francesa" não era conhecida apenas como um pagode do "Jeito Maluco" (né, Teteu?) e sempre gostei da moça. Aí que após um período conturbado na carreira (de acordo com o colunista, depressão, síndrome do pânico, perda de voz e etecétera), Marina volta à carga. Mas a entrevista, oh, meu Pai do céu, foi o cúmulo da Vergonha Alheia, coisa jamais vista por moi.
Primeiro que o moço já tascou perguntinha indiscreta querendo saber se a mulher se identificava com a diva Amy Winehouse. Ai. Aí que Marina disse que nem sabia direito quem era ela, desconversou, sem graça. Afinal, não é muito legal ser comparada com uma absurdinha de 20 e poucos que se embriaga diariamente em frente às câmeras e defende o marido-marginal em público, com unhas e dentes - apesar de toda a sua genialidade, devo admitir, como fã da inglesinha.
(observação pertinente: Marina não dava sinais de total lucidez ou controle sobre si mesma, acho que a síndrome do pânico ou o TOC ou o transtorno bipolar ainda não foram curados).
Pergunta besta vai, pergunta besta vem, e aí surge o horror:
O colunista observa:
- 1980, eu e Nelsinho Motta acompanhamos um de seus primeiros shows, na Bahia. De lá pra cá, o que mudou?
Marina, emputecidíssima e louca da calcinha, rebate:
_ Ah, é? E vocês, continuam juntos?

...

O rapaz, casado e pai de filhos, totalmente sem graça, só balbucia:
- Somos grandes amigos.

Cuén.

29.6.08

Anarriê

Frase do mês (junino):
"Isso daí, ó, isso daí quem tem chapa não pode comer".


(Madame Louise, referindo-se à maçã do amor caramelisadíssima, na festa junina da Ju. O que mostra seu espírito solidário a todos os infelizes que não possuem seus molares e caninos originais).

"Sexo na cidade", ou "Saudades eternas"

Sim! Fui assistir à tão esperada produção Sex and the city. Uau! Amei, simplesmente amei, apesar de não ter muita certeza quanto à decisão da querida Charlotte. Mas o que faz um par de Manolos, não é mesmo? Vou rezar pra conseguir o meu, algum dia nesta vida. Afff. Porque tudo fica melhor com um Manolo nos pés, né?
E quando os dias ficam meio nublados e indistintos acho que a gente tem é que escrever pra desabafar, não é? Porque o blog é pra isto mesmo. Então, em breve, post sobre minha querida avozinha, que me deixou na última sexta-feira. Tá lá agora, me olhando de cima e torcendo por mim, como sempre o fez. Te amo pra sempre, velhinha!

Frutíferas

Assistindo ao meu mais novo programa preferido, Miami Ink (já planejo uma tattoo no quadril), recebo mensagem de Johnny boy dizendo estar debulhado em lágrimas vendo o programa da musa Lu Gimenez. Confesso que desde o advento da cable tv no meu recinto, tenho desprezado programas cults como o da nossa querida rollingstone girl, sempre imperdível (Madame Louise que o diga).
Numa rápida zapeada (até aprender que a Rede TV! é o canal 6), vejo a musa recebendo o que eu acho se chamar MC´s, com suas respectivas dançarinas - as meninas-fruta do momento, em terra brasilis. Vergonha.
Enquanto o sujeitinho se contorcia em trejeitos de gueto, a gata ficava expondo seus atrativos: a vantajosa (e hiperdotada) derrière, "privilégio" que descobri não ser unicamente da bizarria denominada "Melancia". Subitamente, dezenas (ou centenas?) de meninas de quadril de 1,20m dominaram o Brasil.
Bons tempos em que as partes baixas das ordinááááááárias Carlinha P. e Scheilas do Tchan impressionavam, com meros 1 metro de quadril. Agora, o céu (e uma boa calça Da Gang) é o limite.
Que venham os pães recheados de linguicinha e molho vinagrete!
Quando eu começava a acreditar na chegada de uma nova era - quando nós, mulheres, começaríamos a sermos finalmente vistas como algo a mais que meros instrumentos para a perpetuação da espécie e para satisfazer os desejos masculinos, e sim como companheiras, iguais, surgem estas aberrações e parece que décadas de dura evolução foram em vão - Deus me livre abusar do teor panfletário/feminista.

Mas uma coisa não víamos há tempos: a celebração da mulher (over) gostosa, da mulher-Brasil/ mulher culote e barriguinha saltada, mulher musa de Botero.
Pode se considerar este amor à gordura um ponto positivo, em frente à obsessão pela magreza às últimas conseqüências? Não, definitivamente.
Em ambos os casos, a mulher ainda não passa de um reles objeto feito para o sexo, com alguns orifícios para a introdução de paus.

Cidadã

São os R$ 20 mais fáceis do mundo. O cara do exame demissional (ou admissional, para os felizardos) carimba seu documento que atesta, para os devidos fins, que você não adquiriu nenhuma moléstia durante os anos de serviço prestados à sua (ex) empresa.
Aí ele te entrega o papel carimbado e - achei curioso - te deseja boa sorte. Aí era aquela filinha de desempregados (ou recém-admitidos) na porta da sala do cara (que é médico, haha) e ele dizendo, intermitente: bom-dia, boa sorte; bom-dia, boa sorte; bom-dia, boa sorte...

O próximo passo é fazer o "cartão do cidadão". Há! Se há um ponto positivo em tudo isto? Com fgts, saída, salários, blablabla, tornei-me uma mulher riquinha. Paris está logo ali, bem mais próxima...

19.6.08

Tempos de ócio

Uma das vantagens de estar desempregada é poder ficar bundando em casa o dia inteiro de moleton. O ruim é não precisar usar brincos nem make-up.

É bom ter todo o tempo disponível para fazer pequenas coisas, como ir ao supermercado comprar Pringles, ir à manicure (que andava tão atrasada), tirar a sobrancelha, estudar ou ler "As Mulheres Mais Perversas da História" (que eu já terminei). Mas existem os (inúmeros) momentos em que nem mesmo a vastíssima programação da tv a cabo é suficiente para te distrair.

É muito bom saber que você tem um bocado de afazeres domésticos para serem concluídos e que mesmo assim pode se dar ao luxo de protelar a hora da faxina, porque sempre haverá tempo para tais atividades mundanas.

Sem dúvida o pior em se ficar desempregada é não contar com aquele troquinho que pingava em sua conta bancária mensalmente. E tão ruim quanto isto é se ver afastada dos bons amigos cultivados durante o tempo dedicado à empresa. No meu caso, por exemplo, entrei numas de me sentir mega-ultra carente, acho que todos vão me abandonar a qualquer momento, buá.

Acho que uma boa alternativa de uso da grana que devo receber pela saída é ir às lojinhas descoladas da cidade e gastar tuuuuuuuuuuuuuuudo em roupas e sapatos que eu jamais vou usar (ahahahahah, ironia pura e piada interna).

Ainda não cheguei na fase de me preocupar com o futuro (claro, estou demitida há apenas dois dias), e espero voltar à labuta antes de passar por tudo isso. E como ainda não tenho motivos para me descabelar, vou ali tomar um café na padaria e depois me enrolar no cobertor azul na frente da TV. Hum, tive uma idéia: chocolate quente!

Ah, sim: voltem a trabalhar, que vocês têm família para sustentar.

P.S.: com todo este tempo livre, prometo tornar as blogagens mais freqüentes, até pra não enferrujar na bela arte de escrever (bobagens).

14.6.08

Você sabe que...

Você sabe que o limite da intimidade foi alcançado quando a amiga, em uma noite de sábado, depois de alguns cálices (cálices?) de vinho (vinho?) vira pra você e diz:
- Hum, acho que preciso mudar de desodorante...
É o vinho, né?

6.6.08

In the gym

Segunda-feira

De volta à selva de suor, lágrimas e culto ao corpo que é a academia de ginástica. Esteira, num quase trote, ignorando a arritmia. Entra uma señorita cuja cintura ultrapassava um metro de largura. A moça pesava na boa uns 130. A bunda era um colosso de Rhodes. Do seu lado, sua personal trainer: coxas torneadas, bunda redondíssima e arrebitada, delineada pelo legging, barriga do tipo invejável, daquelas sem faltas nem excessos, sem ossos aparentes nem uma mísera grama de banha a mais. Confesso que, sem conotação gay, please, sequei a rapariga. Uma exuberância de corpo. Contraste dramááático.

A personal tocava a vítima trainee pra esteira. 20 minutos. Tocava a gorducha pros aparelhos (de tortura). Voltava a fofoletona pra esteira. Mais 20. A idéia, pelo visto, era a de promover queima rápida de banha, e eu torço para que dê certo.

Questão pertinente: gorducha daquele jeito e com uma personal gostosérrima daquelas, você ficaria feliz, motivada para ter um corpo igual, algum dia (se Deus te amasse muito, muito)?Iria usá-la como uma meta a ser atingida? Ou reforçaria a alimentação (sua e) de suas idéias de suicídio?

Quarta-feira

Na esteira, aborrecida enquanto o Flausino grita "na moral, na moral, na moral, na moral" ad infinitum. As senhôuras marombadas ao meu lado discutem de menopausa à aposentadoria. Aí uma lembra de contar, assim, subitamente, que seu partner de 63 anos ficou de pau duro por longas quatro horas, querendo sempre mais. Viagra. As amigas riram, cúmplices e condescendentes: haja lubrificante vaginal na vida da mulher madura pós-Viagra...

Sexta-feira

Estava no leg-press quando Madrinha chega atordoada: no banheiro, viu a moreninha de 35 quilos, que deslizava pra baixo e pra cima num legging verde-limão fingindo fazer exercícios, PASSANDO CHAPINHA NO CABELO. Às 7h30. Aaaaantes, portanto, de malhar.

E sim, eu voltei à academia para malhar (dos outros).

4.6.08

A maldição da "tia"

Aí que quando eu achava estar livre da feira-festa com mais shows de desconhecidos por metro quadrado do Sul catarina, fiquei de plantão no domingão e... hahahaha, maldade das maldades, marido-chefe me mandou labutar e achar teens ensandecidas pelos guris da banda NX Zero (what?). NX Zero pra mim quer dizer a mesma coisa que Victor e Leo e GDO do Forró, ou seja, ... zzzzzzzzzzz...
Muito antes do show começar a circulação das tietes-mirins já era intensa. Meninas de bota megasalto thequeenofthedesert, jeans skinny e casaquinhos de moleton rosa com bordadinhos em forma de borboleta tomavam conta do pedaço. Chego num grupinho de pré-teens, umas lindinhas, e quando as bobinhas avistam meu crachá (não leram o que tava escrito, o que importa é que é crachá, não à toa, o Bozó é um tipo muito real), desandaram a grudar no meu pescoço e gritar: "Tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, me deeeeeeeeeeeeeeeeeixa entrar, eu quero ver eles, só um pouquinho, tia, só tirar uma foto, tia, por favor, por favor, por favor". Deusolivre, (acho que) não quero ter filhos e não sou tia de moça daquele tamanho. Ha-ha.
Aí vou pra outro grupinho e.. tcharam: a mesma reação ao ver o crachá: "Tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, tia, peloamordedeus eu amo eles". Ai. Eu pronta pra dizer "tia o caráleo, pivete, se manda" quando surge uma "mulher mais velha", acompanhando as meninas. Eu querendo acreditar que a mulher tivesse 45 anos e que, sim, quem sabe ainda sou uma garotinha, e ela, sorridente e saltitante, contou estar acompanhando a filha e as amiguinhas. Quantos anos? "29", revelou, levemente constrangida. Cuén.
Quando eu for presidente do Brasil vou lançar um decreto PROIBINDO veementemente que pessoas usem a palavra tia para denominar quaisquer outros com quem não mantém laços consanguíneos. Sob pena de cadeia.
Aí eu tava indo embora, o fotógrafo (finalmente) tinha concluído o exaustivo trabalho de fotografar uma minhoca com franja e olho pintado de preto se contorcer enlouquecida sobre o palco e aí me passa ao lado uma GAAAAAAAATA. Microssaia djins, brusinha, casaquinho de matelassê rosa pink preso no braço, coxas roooooooliças em MEIA ARRASTÃO e, claríssimo, botas vamp, salto fino, na brita. Uns 70 quilos, distribuídos belissimamente em 1,60 de altura, e se. Cinturinha de coluna jônica, dórica, greco-romana, whatever. Hairspray perde. Ai, eu tenho que me desdobrar na malhação porque daqui a pouco sou eu. Sem meia arrastão, claro. Anyway, serviu pra alguma coisa. Me senti menos tia. Pelo menos, não sou louca.

29.5.08

A (re)união

O evento era planejado há meses: contávamos nos dedos para o grande momento de finalmente nos reencontrarmos, me, Janet and John (além da noiva, Gi). Afinal de contas, há longos OITO anos (sim!) eu não tinha o privilégio de ficar cara a cara com a garota peituda mais relax ever; e meu amigo Johnny não me visitava há coisa de três anos (sendo que o sujeitinho mora a 140 quilômetros de minha residência, quanta consideração...).
Primeiro foi o moço, que chegou arrastando a mala Louis Vuitton de rodinha, boné da Adidas escondendo os cabelos precocemente grisalhos. Me presenteou com uma echarpe da Hermès e distribuiu chocolatinhos Godiva ao marido, que se regalou com o mimo.
Depois foi a rosada economista do Oeste, distribuindo água Perrier e vodka Absolut de baldes. Chorei, emocionada, mas tratei de secar as lágrimas, discretamente, no meu lencinho de bolso (pague dois, leve três, do Paraguai).
Foi um furdunço "dilícia", como diria Janet. Nos molhes da Laguna, botos faceiros e buliçosos vieram nos recepcionar, serelepes. Jay (o marido de ouro da Janete, benzadeus) salivou ao imaginar o pequeno cetáceo girando num espeto, douradinho de sal grosso.
Na Casa de Anita, Janete pensou, perversa, em utilizar-se dos préstimos do penico-privada (banco de madeira com um furo no meio, para adaptar o pinicão da Anita), instalado na sala principal da casa da heroína de dois mundos.
Na Fonte da Carioca, Johnny boy tratou de encher 18 garrafinhas plásticas com o precioso líquido milagroso - o moço é casamenteiro, e dizem que beber daquele troço é tiro e queda pra arrumar um (a) pretendente (a). Só para garantir, o rapaz também prendeu um bilhetinho com seu nome sob as camadas do vestido da noiva.
No hotel chiquéeeeeeeeerimo (Hilton Laguna Beach, inaugurado pela própria Paris), vesti a fronha (algodão egípcio, ainda com a etiqueta da importadora) na cabeça para retirar a roupa sem borrar a maquilagem: truque aprendido no instituto de beleza (filial lagunense do MG Hair, de Marco Antonio Di Biaggi). Impressionei-me com o travesseiro de penas de ganso asiático, todo pintadinho por delicadas manchinhas amarelas e marrons, certamente um óleo aromatizante para que o hóspede durma melhor.

Em poucos minutos, os três retomaram, como num passe de mágica, todo o tempo perdido distantes um do outro. Foi como se tivéssemos nos visto há apenas uma semana, coisa assim. É amizade, daquelas bem difíceis de encontrar por aí e que, graças ao meu bom e fiel amigo Deus, tenho o privilégio de usufruir, junto a algumas pessoas (né, belzebu e nordékia, não esqueço de vocês, não).
O idilío terminou na manhã de domingo, quando rumamos, melancólicos e um quê cabisbaixos, para nossas residências, em cidades tão distintas. Não sem antes presenciarmos um trupicãozinho de marido Jay na escadaria do hall do meu edifício residencial. Nada que não tenha sido resolvido com uns dois pontinhos na testa...


11.5.08

Estômago - a resenha (meia boca, mas de coração)

Uma história bem contada: assim deveriam ser todas as obras cinematográficas para merecerem a alcunha de "bom filme". Assisti (tardiamente, se usar como referência a blogosfera brasileira) a Estômago, neste fim de semana, em pré-estréia no cineminha de Shark city. Por pré-estréia, nestas plagas, entenda exibição única, sem data para retomar as projeções - a sessão única funciona, creio eu, meio que como um termômetro pra medir o interesse do público. Para uma platéia de oito pessoas, no entanto, o termômetro não indicou lá grande coisa.

Mas Estômago é tão delicioso quanto as coxinhas de galinha preparadas pelo protagonista (com direito a óleo re-re-reutilizado e unhas negras de graxa, no preparo). A película conta a história de um imigrante nordestino chamado Raimundo Nonato (e poderia ser diferente?), que veio fazer a vida na Terra da Garoa. Básico. Ele descobre uma puta vocação inata para a arte culinária. Paralelamente, o filme mostra que, no presente, Raimundo está preso. Resta-nos a nós, espectadores, descobrir os motivos que o levaram a parar atrás das grades.

Com uma narrativa hipnotizante, as duas histórias (Raimundo no passado, chegando e se estabelecendo em Sumpaulo, e Raimundo no presente, se desdobrando para adaptar-se ao mundo-cão do presídio) se apresentam e se intercalam bem entrelaçadinhas, bem pontuadas, tudo muito ritmado e bem costurado.

Na minha humilde opinião de amante do cinema (ainda que não cinéfila propriamente dita), destacam-se, além dos pratos elaborados por Raimundo, ao longo do filme (uma empolgante - e às vezes não muito recomendável - aula de culinária), a prostituta Íria (Almodovar não a faria tão perfeita) e, é claro, as deliciosas coxinhas preparadas pelo aprendiz de cozinheiro: são de dar água na boca e calafrios na espinha dos mais delicados.

Recomendo, portanto, e ardorosamente, o filme Estômago, para quem ainda não assistiu e que tenha a possibilidade de prestigiar a produção mezzo brasileira-mezzo italiana. E depois do filme, que tal degustar um delicioso filé mignon temperado com alho, alecrim e pimenta? (piadinha só para quem viu o filme, há!)

Achado não é roubado (ou "Feliz Dia das Mães")

Uma vez achei R$ 5 no estacionamento de um restaurante, em Florianópolis. Fiquei ultra-feliz, boca na orelha. Em outra ocasião, encontrei R$ 37, em um bolinho amassado de bêbado com várias notas, ao lado da minha mesa, na praça de alimentação do Shopping Recife. Como tinha muita gente na rodinha, pus o pé em cima, abaixei-me discretamente e meti o bolo de grana na bolsa, like a thief. Só fui contar o montante bem depois, me deliciando pelo lucro não dividido e inesperado.
Nunca fiz parte do time dos sortudos que encontram um mimo em cada esquina. Conheço gente que já achou uma caixa com dezenas de CDs - e dos bons. Óculos escuros de grife. Bracelete de ouro. Até telefone celular (minha irmã achou, recarregou e esperou longamente por uma ligação de resgate. Que não veio. Aí ela adotou o aparelho, mas perdeu após alguns meses, a tansa).

Mas a história de achados e perdidos mais comovente que já presenciei na vida aconteceu quando trabalhava num jornal, na Lagoa da Conceição. Neste jornal havia um office-boy, um garoto fofo, adolescente, que, diziam as más-línguas, sofria um bocado por conta de sua mãe, alcoólatra. Na semana que antecedia o Dia das Mães, lá ia o menino, fazendo e recebendo pagamentos para o jornal, e pensando no que comprar para sua amada progenitora - o Dia das Mães caia bem no aniversário dela. Aí que, lá na esquina, uma mulher, andando apressada, chamou sua atenção. Ela seguia firme, pisando duro, cheia de pacotes de lojinhas bacanas. Ao dobrar a esquina, deixou cair um envelope. O boy correu, pegou o papelucho e virou a esquina para entregá-lo à mulher. Só viu o automóvel da madame já indo longe, um carrão importado. Resfolegando, o menino decidiu abrir o envelope. E se deparou com uma apetitosa nota de R$ 50, estalando de nova, na época uma mini-fortuninha para os menos abonados.
Vislumbrei o brilho de felicidade nos olhos do menino, que precisava de tênis novos e de uma camiseta transada para sair à noite: agora, ele já tinha em mãos o presente de sua mãe.

10.5.08

O pecado (e barracos, vexames e afins) mora(m) ao lado

Ops! Long time no see! Então, ao mesmo tempo que temos vontades e inspirações repentinas para blogar todos os assuntos possíveis e inimagináveis, às vezes também ficamos com a mente às moscas, voltada apenas para o que é estritamente necessário (ou seja, o trabalho e a programação do E! Entertainment).
O tema de hoje é, portanto, fruto de muita observação e intenso trabalho de pesquisa: minha nobre vizinhança, no novo prédio. Se antes dividia o condomínio com universitários, falsos professores tarados e gays violentos, atualmente a história é um pouquinho diferente. Se não, vejamos:
Na porta ao lado mora o amo e senhor, 40 e tantos, solteiro, que vive na histérica e alegre companhia de quatro poodles branquinhos e é radicalmente contra a instalação de TV a cabo no prédio, "para não poluir a fachada". Também costuma pregar bilhetinhos desaforados na portaria chamando a atenção de moradores "descuidados" que sobem as escadas esfregando o botijão de gás nas paredes (como se alguém fizesse isso).

Sob meus pezinhos, o núcleo mais polêmico. A mãe (jovem, menos de 40) e o filho adolescente. Às vezes, um homem (que, acredito, seja namorado da mãe, a melhor parte são as especulações e os achismos). Inicialmente antipatizamos com o teenager, que ameaça a pobre mãezinha de deixá-la só e ir morar com o pai (imagino que em outro Estado, ambos, mãe e filho, têm um sotaque fortemente porto-alegrense).
Logo em seguida, no entanto, mudamos de partido - descobrimos que a mãe é uma megera-bruxa-monstra de sete cabeças que inferniza a vida do pobre rapaz com sentenças do tipo:
"Mas tu és burro, néãm?"
"Não sabes lavar louça direito? Tinhas que quebrar um copo?"
"Vai estudar!" (15 vezes, em cinco minutos, ad infinitum)
"Eu vou pagar alguém pra te seguir na rua!" (a idéia é descobrir se o pobre usa drogas. Eu usaria, se fosse ele. Muitas drogas)
"Eu duviiiiiiiiiiiiiiiiidooooooo que tu vais conseguir" (pra qualquer coisa)

Além do mais, ela SÓ prepara comida frita. E pelo cheirão, pééééssima.
O garoto, por sua vez, a despeito da insuportável arrogância característica de todo aborrecente, é um pobre coitado. Além de comer mal, ser atormentado pela mãe diuturnamente, passa seu tempo livre ouvindo - pasmem, alguém ainda ouve isso - Charlie Brown Junior. Não se preocupem, eu fecho a porta da cozinha e meus problemas sonoros desaparecem.

Os outros vizinhos não são tão notáveis. Um deles faz batida (eu acho) no liquidificador todo dia, às 11 da noite, pontualmente. Todo dia. Até domingo.

Mas fato curioso aconteceu-nos há cerca de três semanas. De vez em quando o aborrecente perde a paciência e enfrenta a monstra-mãe, aí o (suposto) namorado dela intervém, aí a lôca toca o terror gritando naquele sotaque de magro do bonfa. Enfim, um divertidíssimo barraco, que ocorre, normalmente, nos findis e feriados, quando a galera tem tempo de sobra pra azucrinar a vida alheia.
Aí que, acredito eu (tudo na base da especulação, claro), o vizinho do poodle, que é o síndico, procupado com a moral e os bons costumes do prédio, chamou a atenção da gaúcha louca da calcinha.
Deu-se o furdunço. A maluca não deixou o pobre homem em paz. Bastava o cara chegar com a caminhonete que ela subia o lance de escadas atrás dele, até a porta do apê do sujeito, gritando, indignada, coisas do tipo:
"Mas era só o que me faltava, néãm, eu não me meto na tua vida, tu vais te intrometer na minha?".
Ok. No dia seguinte, por volta das nove da matina, ponho meus tênis, pronta pra uma caminhada. Quando abro a porta, a surpresa: um policial militar devidamente fardado vinha em minha direção. "Recebemos uma denúncia de que alguém ouviu pedidos de socorro vindo deste prédio. A senhorita ouviu alguma coisa? ", questionou-me o oficial.
Claro que não tinha ouvido nada além do barraco da family de baixo. Mas em segundos o mistério estava resolvido. A gaúcha maldita da fritura sobre atrás do policial, com um indisfarçável sorriso debochado nos lábios, apontando para o apartamento do síndico e dizendo, com voz de moça direita: "Será que não foi daí?", indicava com o dedinho, dissimulada. Constrangido, o próprio homem do poodle, ao abrir a porta, tratou de esclarecer que não, não havia pedido socorro a ninguém.
Mas aí a vingancinha da perversa já havia sido feita. Ela pode até negar, mas que a gaúcha quis revidar em alto-estilo a "intromissão" em sua vida, ah, isso ela quis sim...